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Mulheres têm mais chance de superar infarto se atendidas por médicas

Segundo pesquisa americana, as profissionais são mais atentas aos sintomas de ataque cardíaco, que são muito diferentes nelas

atualizado

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Stela Woo/Metrópoles
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1 de 1 Infarto-em-mulheres - Foto: Stela Woo/Metrópoles

Você deve saber quais são os sintomas de infarto: dor no braço esquerdo, aperto no peito, batimento cardíaco anormal, ansiedade. Esses são os mais comuns em homens. Até hoje, a imagem de um paciente cardíaco é masculina. Vem logo à cabeça alguém obeso, fumante, diabético, com colesterol alto, que chega ao hospital com a mão fechada no tórax.

Apesar de até a classe médica ter um pouco de dificuldade em mudar esse perfil, as mulheres também podem sofrer ataques cardíacos e, na maioria das vezes, os sintomas são muito diferentes: náusea, fadiga, falta de ar. Também podem sentir uma dor na boca do estômago, confundida com azia. Não é o quadro clássico, conhecido por todo mundo. Nem elas acreditam que estão tendo um infarto – por isso, demoram dias a procurar um médico. Essas informações são essenciais em meio ao Setembro Vermelho, ação que alerta para doenças cardiovasculares.

Segundo uma pesquisa feita nos Estados Unidos, publicada na Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), com informações de 580 mil pacientes entre 1991 e 2010, as mulheres que chegaram infartando nos prontos-socorros da Flórida tinham mais chance de sobrevivência se fossem tratadas por médicas também do sexo feminino.

Os professores Brad Greenwood, Seth Carnahan e Laura Huang, da Universidade de Minnesota, descobriram que, se atendidas por médicos homens, as pacientes tinham 1,5% menos chance de sobreviver.

“Talvez porque a mulher seja mais detalhista, se propõe a escutar o paciente com mais cuidado ou até já tenha prestado atenção na diferença entre os infartos”, teoriza a cardiologista Elizabeth Alexandre, ex-presidente do Departamento de Cardiologia da Mulher da Sociedade Brasileira de Cardiologia. “Nos últimos anos, houve uma melhora na compreensão dos médicos, mas mesmo assim elas ainda são negligenciadas. Alguns profissionais não acreditam que estão diante de uma mulher tendo um quadro de infarto”, afirma.

Para os pesquisadores, outra explicação para os resultados da pesquisa é que mulheres se sentem mais à vontade para explicar seus sintomas a outras. “Os resultados sugerem uma razão pela qual a diferença de gênero na mortalidade por ataque cardíaco persiste: a maior parte dos médicos é homem, e eles parecem ter dificuldade para tratar pacientes do sexo feminino”, escrevem no estudo.

A pesquisa também afirma que hospitais com maior proporção de médicas ajuda nas taxas de sobrevivência, mesmo se a paciente for atendida por um homem. Segundo a explicação do estudo, elas costumam dividir experiências com mais frequências que eles. Porém, a presença feminina ainda é pequena entre cardiologistas e, no Brasil, elas são minoria.

“A gente tem feito um esforço muito grande para falar sobre as peculiaridades da doença na mulher, mas é um trabalho de formiguinha. Vamos educando aos pouquinhos. Mas a Sociedade Brasileira de Cardiologia está sempre empenhada em fazer esse conhecimento chegar à classe médica”, conta Elizabeth.

Urgência no diagnóstico
Os resultados da pesquisa mostram que 11,9% dos pacientes de ataque cardíaco morrem no hospital. O dado é alarmante, principalmente para mulheres. Como os sintomas não são claros e podem ser confundidos com os de outras doenças, é comum esperar até dois dias para procurar ajuda médica.

“Ela perde as primeiras horas, importantes para evitar perda da massa miocárdica, e a possibilidade de injetar um medicamento para dissolver o coágulo. Depois de um dia ou dois, é possível fazer cateterismo ou indicar a cirurgia para a implementação de um stent“, explica Elizabeth.

A cardiologista conta que falta informação sobre infartos em mulheres. Fatores de risco como hipertensão, colesterol alto, diabetes, tabagismo, sedentarismo e obesidade devem ser tratados por elas e eles para evitar ataques cardíacos.

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