Casos de hepatite A aumentam no Brasil em 2023. Saiba como se prevenir
Doença conhecida também como hepatite infecciosa pode ser transmitida por falhas na higiene de alimentos e sexo desprotegido
atualizado
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A Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) divulgou, na última quarta-feira (12/7), que o número de diagnósticos de hepatite A teve um intenso aumento no Brasil em 2023. Os casos positivos cresceram 56,2% de janeiro a junho quando comparados ao mesmo período de 2022.
A análise concentra os dados obtidos em 60% dos laboratórios particulares do Brasil. Até agora, as centrais de diagnóstico já têm 1.567 casos positivos de hepatite A em comparação a 1.003 no primeiro semestre do ano anterior.
O número se explica parcialmente pelo aumento da quantidade de exames realizados: foram 382 mil testes no primeiro semestre de 2022 e 463 mil em 2023. Entretanto, o crescimento dos exames foi de 21%, menos da metade do aumento registrado nos diagnósticos. A taxa de positividade também subiu de 0,26% para 0,34%.
Para a hepatologista Liliana Mendes, do Hospital DF Star, em Brasília, este aumento de casos pode ser explicado pelo contato cada vez maior da população com o vírus, e sem a vacinação correta. Com o fim das restrições da pandemia de Covid-19, mais gente tem encontrado o patógeno da hepatite A sem estar protegido.
“As condições de saneamento básico melhoraram muito, e as pessoas que nasceram em cidades depois dos anos 1980 não tiveram contato com o vírus. O problema é que a vacinação correta não foi feita. Esses indivíduos acabam se expondo quando viajam para algum lugar com água contaminada ou consomem um alimento que não foi bem higienizado”, explica a hepatologista.

A hepatite é a inflamação do fígado. Ela pode ser causada por vírus, bactérias, uso excessivo de medicamentos ou consumo de bebida alcoólica. Existem cinco tipos de hepatite: A, B, C, D e E. No entanto, no Brasil, os tipos A, B e C são os mais comuns Getty Images

A hepatite A é causada por um vírus que pode ser transmitido pelo ato sexual ou pelo consumo de água e alimentos contaminados. O diagnóstico é feito por meio de exames clínicos e laboratoriais TEK IMAGE/SCIENCE PHOTO LIBRARY/ Getty Images

Não há tratamento específico para a hepatite A, por isso, deve-se evitar a automedicação. Apesar disso, existe vacina eficaz contra a doença. Entre os principais sintomas dessa tipagem estão: náusea sem motivo aparente, febre baixa, perda de apetite, dor abdominal e fadiga Glasshouse Images/ Getty Images

A hepatite B também é causada por um vírus e pode ser transmitida por compartilhamento de objetos pessoais, ao realizar tatuagens e procedimentos cirúrgicos sem a devida higiene, durante relação sexual, entre outros. Entre os principais sintomas estão: amarelamento dos olhos, dor abdominal e urina escura Jeffrey Coolidge/ Getty Images

Já na hepatite B, o fígado pode apresentar um quadro de inflamação persistente e há risco de a doença evoluir para cirrose hepática. Ela pode ser identificada através de exames laboratoriais. Na maioria dos casos, pode ser tratada com medicamentos antivirais que impedem a multiplicação do vírus e retardam ou melhoram a evolução da doença KATERYNA KON/SCIENCE PHOTO LIBRARY/ Getty Images

A hepatite C, também causada por vírus, tem meio de transmissão semelhante a hepatite B. Contudo, a hepatite C tem cura em mais de 95% dos casos e há tratamento disponível com medicamentos por via oral. Entre os sintomas estão fadiga, perda do apetite, náuseas, amarelamento dos olhos ou pele MediaProduction/ Getty Images

A hepatite D, também conhecida como hepatite Delta, é causada pelo vírus HDV (Vírus RNA, que precisa do vírus causador da hepatite B para que a infecção ocorra). Está presente no sangue e secreções e pode ser transmitido assim como no caso das hepatites B e C Luis Alvarez/ Getty Images

A hepatite D pode causar dores abdominais, cansaço e náuseas. O diagnóstico da doença deve ser feito através de exames clínicos e epidemiológicos boonchai wedmakawand/ Getty Images

A hepatite E, causada pela vírus VHE, é transmitida por via fecal-oral, ou seja, pelo consumo de água ou alimentos contaminados. Na maioria dos casos, essa versão da doença tem cura. Os sintomas incluem falta de apetite, náuseas e amarelamento da pele. Em casos raros, a doença pode progredir para insuficiência hepática aguda Ekaterina Smirnova/ Getty Images

Independentemente da vacina, indicada para todos os casos, algumas recomendações são fundamentais para a prevenção das hepatites virais. São elas: lavar as mãos após a utilização de sanitários, lavar alimentos com água tratada, clorada ou fervida, cozinhar bem os alimentos e não tomar banho em água não tratada ou próxima a esgotos Solskin/ Getty Images

Além disso, utilizar preservativos, não compartilhar seringas ou materiais de uso pessoal e certificar-se de que protocolos de biossegurança são cumpridos antes de submeter-se a tatuagens, piercings, tratamentos odontológicos e procedimentos cirúrgicos pode ajudar a evitar a doença Aja Koska/ Getty Images

Além dessas, existe ainda a hepatite alcoólica, causada pelo consumo abusivo e prolongado de álcool. A hepatite medicamentosa, que causa inflamação no fígado após uso indiscriminado de medicamentos, e a Esteato-hepatite, por exemplo, que surge devido ao acúmulo de gordura no fígado SEBASTIAN KAULITZKI/SCIENCE PHOTO LIBRARY/ Getty Images

Em casos mais leves, a doença pode desaparecer sozinha. Mas em certas tipagens é necessário o uso de medicamentos antivirais ou outros cuidados específicos OsakaWayne Studios/ Getty Images

Recentemente, diversas crianças com idades entre um mês e 16 anos foram diagnosticadas com hepatite aguda em países da Europa e nos EUA. A gravidade da doença levou 17 crianças a passarem por transplantes de fígado e uma delas morreu Pixabay

Os misteriosos casos de inflamação grave do fígado ainda não têm causa definida, mas evidências apontam para a infecção pelo adenovírus 41F fotograzia/ Getty Images
O que é a hepatite A?
A hepatite A é uma infecção viral que atinge principalmente o fígado. A transmissão é feita através do contato com partículas das fezes contaminadas — por isso, regiões com pior saneamento básico costumam ter mais casos. A contaminação também pode acontecer durante o sexo anal desprotegido e no contato com objetos, alimentos ou água contaminada.
“O vírus tem um perído de incubação que varia de 15 dias a 2 meses, geralmente com os sintomas aparecendo só depois do primeiro mês. Com isso, a pessoa passa até 30 dias transmitindo a doença sem se dar conta”, explica Liliana.
Muitas vezes, o indivíduo contaminado não apresenta sintomas e quando os primeiros aparecem, são inespecíficos. O paciente infectado pode ter fadiga, febre, dores musculares e problemas gastrointestinais que vão de enjoo a diarreia.
Os sintomas mais severos, quando a urina fica escura e a pele e os olhos amarelados, aparecem só depois e duram no máximo dois meses. No geral, o paciente fica completamente curado em seis meses e apenas os sintomas são tratados.
A hepatite A, porém, pode apresentar complicações e se tornar uma hepatite fulminante. “É um quadro raro, mas leva à falência muito rápida do fígado, que não consegue lidar com a doença. Adultos contaminados com hepatite A têm mais chance de desenvolver uma hepatite fulminante e, quando ela ocorre, o único tratamento possível é o transplante de fígado”, completa a hepatologista.
Como se prevenir?
A melhor forma de prevenção contra a hepatite A é a vacinação, que é administrada em duas doses em crianças de 15 meses e menores de 5 anos. Além disso, é importante seguir uma série de recomendações sanitárias, como lavar as mãos frequentemente, limpar os alimentos e cozinhá-los de forma correta, manter a higiene íntima e usar camisinha durante o sexo anal.

As demais hepatites na Abramed
Entre as demais hepatites virais, o relatório da Abramed mostrou uma estabilidade de casos. Os diagnósticos de hepatite B tiveram uma queda de 1% no período observado. Já os casos de hepatite C subiram 2% — foram realizados 15% a mais de testes durante o primeiro semestre de 2023 em relação ao de 2022.
Os dados mais recentes da rede pública em relação às hepatites mostravam que os casos de hepatite A estavam relativamente estáveis desde 2020, mas a última atualização é de dezembro de 2022. A taxa média de positividade dos testes na rede pública, porém, é ainda maior que a da rede privada, com 0,9% dos exames positivos.
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