Especialista tira dúvidas sobre segurança de vacinas para alérgicos
Médica da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia esclarece que as reações alérgicas aos imunizantes são muito raras
atualizado
Compartilhar notícia

Com o início da vacinação contra a Covid-19, surgiram algumas dúvidas sobre a segurança dos imunizantes para pessoas alérgicas. O maior temor seria a possibilidade de uma crise anafilática ou anafilaxia – evento no qual a pessoa apresenta uma reação grave e imediata a alguma das substâncias presentes na fórmula da vacina.
A médica Nathalia Coelho Portilho Kelmann, especialista do Departamento Científico de Anafilaxia, da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), esclarece que eventos assim são muito raros para as vacinas em geral. De acordo com ela, a estimativa varia entre 1 para cada 10.000 a 1 por 1.000.000 de doses aplicadas das vacinas mais comuns.
No caso da Covid-19, a informação mais recente vem de um levantamento do Centro de Controle de Doenças, o CDC, dos EUA, que anotou 21 casos de anafilaxia para 1,8 milhão de pessoas vacinadas com o imunizante Pfizer. A taxa corresponderia a um evento para cada 100 mil vacinados, o que é considerado extremamente raro e, portanto, não justificaria uma restrição à vacina.
Em uma comparação possível, se o mesmo número de pessoas analisadas (1,8 milhão) pegasse a Covid-19, cerca de 30 mil morreriam, considerando a taxa de mortalidade para a doença que, nos Estados Unidos, é de 1,7%.
Veja abaixo algumas das principais dúvidas sobre alergias e imunizantes respondidas pela especialista Nathalia Coelho Portilho Kelmann, da Asbai:
1- As vacinas que temos atualmente no Brasil são seguras?
Sim, são seguras. Em raros casos podem causar doença ou evento adverso pós-vacinação. Um estudo de 2005 mostrou que dos eventos adversos com reação sistêmica apenas 13,4% correspondiam a reações de hipersensibilidade, ou alegria propriamente dita, sendo que o quadro mais temido, que é a reação anafilática, é estimada que ocorra 1 por 10.000 a 1 por 1.000.000 de doses das vacinas mais comumente aplicadas.
2 – Alguma vacina pode provocar anafilaxia?
Toda vacina tem potencial de causar uma reação de hipersensibilidade, que pode ocorrer, principalmente, por seus componentes estabilizadores como gelatinas, meios de cultivo dos organismos, antibióticos, entre outros e, de maneira, menos incomum pelo componente ativo da vacina. Porém, esse tipo de evento vacinal é raro, ficando em torno de 0,65 a 1,53 por milhão de doses aplicadas.
3 – Quem é alérgico a ovo pode se vacinar?
Algumas vacinas são derivadas de material de ovo embrionado, sendo cultivadas em fibroblasto de frango (embriões de frango), como a do sarampo, e, portanto, possuem uma quantidade desprezível de proteína do ovo. Sendo assim, ela pode ser administrada com segurança para os pacientes alérgicos a ovo.
Já as vacinas de gripe, podem conter uma quantidade maior de ovo, devido a seu cultivo, em fluidos de ovos embrionados de galinha. Porém, hoje em dia, as comercialmente disponíveis costumam ter uma quantidade menor, e podem ser administradas aos pacientes alérgicos com segurança. Aqueles que já apresentaram quadros anafiláticos graves em outras ocasiões devem receber a vacina e permanecer 30 minutos em observação.
No caso da vacina de febre amarela, que contém uma quantidade maior de proteína do ovo, por ser cultivada diretamente em ovos embrionados da galinha, a aplicação deve ser avaliada individualmente pelo especialista que acompanha o paciente. Elas podem ser administrada após testes ou na forma de doses crescentes e supervisionadas, fazendo com que o sistema imune passe a tolerá-las.
A vacinação deve ser feita quando o benefício para o indivíduo superar os riscos, levando em conta, por exemplo, a possibilidade de ele morar ou circular com frequência em áreas endêmicas da febre amarela. Ainda assim, nesses casos, a vacinação deve ser sempre realizada por alergistas em ambientes apropriados para tratar uma possível reação.
4 – E quem é alérgico ao leite, pode?
Para algumas vacinas que podem conter a proteína do leite de vaca como estabilizador, isso vai depender do perfil de sensibilização e do limiar de alergia à proteína do leite de vaca de cada alérgico. A vacina acelular de difteria, tétano e coqueluche pode usar quantidade mínima de caseína bovina. É importante sempre comunicar a possibilidade de reação ao aplicador da vacina e se certificar da leitura da bula com todos os componentes da vacina.
O movimento “Põe no Rótulo” tem lutado para que os rótulos de medicamentos apresentem de maneira clara os principais alérgenos para facilitar a identificação desses componentes. Nesse caso, a vacinação está indicada com fabricantes que não tenham o componente na sua preparação.
5 – A vacina da Covid-19 pode causar anafilaxia?
Na maioria das vacinas contra a Covid-19, não há a presença de componentes classicamente relacionados à reação vacinal, porém, o polietilenoglicol (PEG), muito usado na indústria de cosméticos e medicamentos, em outras ocasiões, já foi descrito como um agente raro de anafilaxia. A vacina Pfizer/BioNTech contém o polietilenoglicol e ele vem sendo apontado como o provável suspeito das reações pós-vacina.
Outras vacinas utilizam o hidróxido de alumínio como adjuvante, como é o caso da Coronavac, amplamente utilizada na vacinação do país, porém esse é um componente mais raro ainda de reação anafilática.
Os casos de anafilaxia são raros. Um estudo americano mostrou, em dezembro de 2020, seis casos em mais de 500 mil doses aplicadas, sendo reconhecidos e tratados imediatamente. Portanto, até o momento, não há relato de mortes por quadro anafilático durante vacinação.
6 – Existe alguma contraindicação para vacinas?
As contraindicações para receber a vacina são, principalmente, reação de hipersensibilidade já conhecida por algum componente da vacina. Ainda assim, em alguns casos no qual a reação é alimentar e não tem outra substituição sem o componente suspeito, é possível fazer temporariamente o sistema imunológico tolerar a vacina em doses crescentes e supervisionado por uma equipe especializada e treinada até chegar na dose total da vacina.
Outras contraindicações gerais são: indivíduos imunossuprimidos receberem vacinas de bactérias ou vírus vivo atenuado. Algumas vacinas são contraindicadas para grávidas e indivíduos que recebem doses altas de corticoide.
7 – A orientação é sempre se vacinar?
Sim, sempre que possível. O esforço é em prol da vacinação sempre levando em consideração a história prévia de cada indivíduo e o risco/ benefício de cada situação. Vacinas salvam vidas e quando grande parte da população está vacinada, ajuda, indiretamente, a proteger aqueles que não podem se vacinar, reduzindo a circulação de vírus e bactérias que podem ser contagiosos e letais.