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Cientistas conseguem “acordar” células do olho humano horas após morte

Pesquisadores registraram atividade entre os neurônios, indicando que talvez seja possível reverter casos de morte cerebral no futuro

atualizado

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Dmitry Marchenko/EyeEm/Getty Images
Olhos cansados e avermelhados
1 de 1 Olhos cansados e avermelhados - Foto: Dmitry Marchenko/EyeEm/Getty Images

Pesquisadores da Universidade de Utah, nos Estados Unidos, conseguiram “acordar” células fotossensíveis dos olhos (cones e bastonetes) horas depois da morte, indicando que é possível manter o funcionamento dos neurônios mesmo após o óbito.

Foi usada uma tecnologia de transporte que conseguiu restaurar oxigênio e nutrientes aos olhos 20 minutos depois de eles terem sido retirados do doador. As células fotossensíveis responderam à luz forte, colorida, e feixes fracos até cinco horas depois da morte, além de se comunicarem entre si.

Os cones e bastonetes transformam a luz em impulsos nervosos, e a informação é levada ao cérebro para interpretação. Durante o experimento, os pesquisadores conseguiram captar a emissão de sinais elétricos pelas células e atividade sincronizada entre neurônios. Esta é a primeira vez que um órgão de pessoa morta responde a esse tipo de estímulo após o óbito.

O transplante de alguns órgãos é possível pois a degradação é mais lenta após o fim da circulação sanguínea, mas os tecidos do cérebro ainda são um desafio para a ciência — por isso, o transplante de cérebro ainda não é viável, por exemplo. Se os neurônios param de funcionar, não podem ser “reacordados”.

Consequências

Segundo os cientistas, a descoberta pode “levantar questões sobre o caráter irreversível da morte das células neurais e prover novos caminhos para a reabilitação visual”. O estudo foi publicado nessa quarta (11/5), na revista científica Nature.

A expectativa é que, entendendo como alguns tecidos do sistema nervoso lidam com a falta de oxigênio e nutrientes após a morte, seja possível recuperar algumas funções cerebrais e, quem sabe, reverter casos de morte cerebral. A definição deste tipo de óbito é quando não há mais atividade sincronizada entre os neurônios.

“Já que a retina faz parte do sistema nervoso central, a restauração dos sinais elétricos neste estudo levanta o questionamento se a morte cerebral, como é definida hoje, é realmente irreversível”, escrevem os autores, no estudo.

Os cientistas lembram que, apesar de a descoberta desafiar algumas das definições da medicina, ainda falta muito para que pessoas possam voltar a enxergar com transplantes, ou que a morte cerebral seja revista. Por hora, ela possibilita que a comunidade científica pode estudar os olhos e seu funcionamento sem precisar de modelos de computador ou com animais.

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