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Canos de água expostos a incêndio florestal vazam produto químico perigoso

Testes de laboratório ajudaram a explicar altos níveis de benzeno na água após incêndios florestais que afetaram a Califórnia no ano passado

atualizado

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Andrew Whelton/Purdue University/CC-BY-ND
cano de água queimado em incêndio
1 de 1 cano de água queimado em incêndio - Foto: Andrew Whelton/Purdue University/CC-BY-ND

Incêndios florestais em diversas regiões do planeta marcaram da forma mais trágica o ano de 2020. A combinação de menos chuva e umidade, e mais seca, formaram as condições ideais para o fogo se alastrar em vários países, causando mortes de seres humanos e animais, além de danos materiais. O prejuízo ambiental segue incalculável e cientistas acenderam o alerta para mais um problema, mais precisamente na água potável, contaminada por produtos químicos perigosos, depois que as chamas avançaram para as regiões habitadas.

Testes de laboratório realizados nos reservatórios de água no vale de San Lorenzo ao Norte de Santa Cruz, Califórnia, mostraram níveis altos de benzeno. Foram 9,1 partes por bilhão (ppb) em amostras de água residencial – nove vezes mais alto do que o nível máximo de segurança do estado. “Os contaminantes produzidos variam de acordo com a marca do tubo de plástico, o tipo de plástico e a temperatura de exposição”, relata o estudo.

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Em anos anteriores, níveis inseguros do carcinógeno, além de outros compostos orgânicos voláteis (VOCs) – componentes químicos presentes em diversos tipos de materiais sintéticos ou naturais -, também foram encontrados na região após ocorrências de incêndios florestais, tornando inseguro ingerir a água vinda das tubulações.

Cientistas da Universidade de Purdue, em West Lafayett, Indiana, sujeitaram canos comuns de distribuição de água a temperaturas de 200°C a 400°C. Quando os materiais foram submergidos em água e, consequentemente, resfriados, quantidades variáveis de benzeno e de VOCs – mais de 100 produtos químicos em alguns dos testes – foram liberados, contaminando o líquido. A pesquisa foi publicada na revista científica Environmental Science.

“Parte da contaminação dos incêndios provavelmente se originou de plásticos danificados termicamente”, explicou o engenheiro ambiental Andrew Whelton, um dos líderes do estudo. Segundo ele, é “impossível fazer experimentos em meio a um grande incêndio para localizar a origem exata da contaminação, mas inspecionar canos danificados depois do fato pode sugerir quais temperaturas eles podem ter experimentado.”

Utilizado principalmente como matéria-prima em indústrias, para a produção de plásticos, resinas, adesivos, nylon, borrachas, lubrificantes, pesticidas, entre outros, o benzeno está no grupo das substâncias químicas consideradas cancerígenas. Segundo a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer, ele é considerado cancerígeno do Grupo 1 – para os quais já há evidência suficiente de ligação com o câncer -, junto com tabaco, fumaça de óleo diesel e carnes processadas.

Exposições a longo prazo e em altas concentrações podem causar danos à medula óssea e leucemia. A curto prazo, o benzeno causa tontura, aceleração do batimento cardíaco, convulsões, sonolência e desmaios. A contaminação ocorre, principalmente, por via respiratória.

Amostras de tubos termicamente degradadas em experimentos de laboratório: contaminação por benzeno

Ano do fogo

Em 2020, incêndios florestais fizeram arder grandes áreas nos Estados Unidos, Brasil, Argentina, Indonésia, Rússia e Portugal. Até mesmo na gelada Sibéria, conhecida pelos invernos rigorosos, sofreu com calor de 38°C.

O derretimento precoce do manto de neve fez com que incêndios se espalhassem até onde o solo nunca tinha descongelado. Os cientistas colocam o fenômeno na conta do aquecimento global.

No Brasil, uma série de incêndios devastaram milhões de hectares no Pantanal, causando a morte de centenas de animais e prejuízos a moradores e agricultores.

O ano de 2020 foi o que teve mais registros de fogo no Pantanal desde o fim da década de 90, quando o monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) começou.

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