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Exposição “Tomie Dançante” explora a relação entre a dança e a pintura

A mostra apresenta um conjunto de 45 telas da artista japonesa Tomie Ohtake e convida o espectador a apurar os sentidos

atualizado

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Karina Sérgio Gomes
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1 de 1 imagem colorida - Foto: Karina Sérgio Gomes

É possível uma pintura dançar? Na exposição “Tomie Dançante”, em cartaz no Instituto Tomie Ohtake, os curadores Paulo Miyada e Pryscilla Gomes exploram a relação entre as pinturas da artista japonesa Tomie Ohtake com a dança. Para desenvolver essa tese, em 2022, os curadores convidaram seis bailarinos de estilos diferentes para interagir e pensar em coreografias a partir das obras.

“Tínhamos uma intuição de que havia diversos pontos de contato, ainda não desenvolvidos, entre o fazer e a percepção das obras de Tomie com o universo da dança”, explica Miyada ao Metrópoles. “A pintura e a escultura de Tomie, sobretudo a produção abstrata, se realizam com movimento, a partir do contato do corpo com o espaço e com a matéria.”

A mostra convida o espectador a usar mais do que o sentido da visão para experienciar o trabalho de Tomie. Ao entrar no espaço expositivo, a maciez do chão desestabiliza o visitante. O piso da primeira sala, forrado por uma espuma, absorve o impacto do caminhar dando leveza a cada passo.

“Quando entramos em um museu, costumamos estar com a visão muito atenta e esquecer dos outros sentidos”, diz o curador. “A ideia desse piso é ser um lembrete. Por mais que se trate de uma produção visual, a percepção dessa produção é feita pelo corpo inteiro — corpo que tem peso, tato, se desloca, se aproxima e se afasta.”

A coreografia da pintura

Os curadores nomearam as três salas da mostra de “Primeiro Ato”, “Segundo Ato” e “Terceiro Ato”, como em um espetáculo de dança. As obras reunidas no “Primeiro ato” datam dos anos 1960.

Para realizar as telas, Tomie trabalhava com recortes de jornais, revistas e outros papéis cortados com as próprias mãos. As bordas tremidas e cortes pouco exatos denunciam a imprevisibilidade dos gestos. Com os pedaços em mãos, a artista ensaiava a composição. Assim que ficava satisfeita com a imagem formada, ampliava na pintura.

“O processo de criação dos bailarinos tem algo muito próximo com o de Tomie, porque a coreografia também tem uma combinação de movimentos feitos de improviso e momentos espontâneos que vão amadurecendo até serem combinados na coreografia”, explica Miyada.

De olhos bem fechados

O “Segundo Ato” faz referência a uma série de telas feita por Tomie também nos anos 1960 chamada de “Pintura Cega”. A sala de paredes escuras e luz rebaixada pede um instante para a visão se adaptar. É preciso apertar, depois arregalar um pouco os olhos para ver as pinturas que estão nesse ambiente escuro.

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No fundo da sala, está o conjunto de pinturas realizadas pela artista, na década de 1960, de olhos vendados. Segundo um texto do crítico Paulo Herkenhoff, a artista “buscava ajustar seu olhar ao ponto cego e a partir dele se engajar na experiência ímpar”. Poucos artistas na história da arte brasileira, ao que se sabe, realizaram tal experiência.

Pinturas mais recentes ocupam o restante do espaço. Dessa vez, com olhos bem abertos, Tomie trabalhou com diversas camadas de tinta bem diluídas. O encontro das faixas transparentes dá profundidade às telas. A luz rebaixada da sala proporciona ao espectador um mergulho nessas pinturas, especialmente nas mais escuras, pois é preciso apurar mais o olhar para apreender a atmosfera esfumaçada que a artista criou.

A pintura no espaço

O “Terceiro Ato” é o “grand finale” da exposição. Inspirada na cenografia que Tomie desenvolveu para a ópera “Madame Butterfly”, em 2008, as telas são apresentadas penduradas em estruturas envolvidas com tecido. A cenografia reforça as ideias de movimento e da metafísica presentes no trabalho da artista.

Ao entrar na sala e ver as pinturas suspensas, o espectador toma consciência de seu corpo no espaço. A disposição dos trabalhos incentiva uma dança. Olhar para cima para ver algumas pinturas, depois para o chão para ler as legendas, andar em círculos entre os suportes ou passar debaixo deles.

Depois dessa dança travada entre espectador e obra, no fundo da sala, encontram-se os vídeos com as coreografias desenvolvidas pelos bailarinos a partir da obra de Tomie.

Uma grande tela sem título, de 2001, de um metro por dois, é a última obra da sala. Nela, uma linha azul e vermelha, composta de várias pinceladas, indica o movimento de uma onda se desfragmentando no ar. Ali, está a confirmação: a obra de Tomie Ohtake é dançante.

Instituto Tomie Ohtake: Rua Coropé, 88 — Pinheiros. Ter./dom.: 11h/20h. Site: institutotomieohtake.org.br. Grátis. Até 19/3.

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