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PCC aliciou secretários de Sorocaba e Itatiba para obter contratos

Em denúncia apresentada pelo MPSP contra cartel do PCC, Eduardo Antônio Sesti Júnior e José Marcos Gomes Júnior são citados

atualizado

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Foto de envelopes que constam na denúncia
1 de 1 Foto de envelopes que constam na denúncia - Foto: Reprodução

São Paulo — Ex-secretários municipais de diferentes cidades do estado de São Paulo são citados como destinatários de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC) na denúncia do Ministério Público de São Paulo contra o cartel da facção para obter contratos públicos. Entre eles, estão Eduardo Antônio Sesti Júnior, ex-secretário de Administração de Itatiba, e José Marcos Gomes Júnior, ex-secretário de Administração de Sorocaba.

No esquema, empresas ligadas ao PCC simulavam concorrência em licitações para a obtenção de contratos por meio do pagamento de propina a autoridades. No último dia 16, 15 pessoas foram alvos de mandados de prisão na Operação Munditia, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Entre elas, três vereadores, de Cubatão, Ferraz de Vasconcelos e Santa Isabel.

Cartel do PCC tem empresa fake e propina em cash: “Não cabe no cofre”

Na ocasião, Eduardo Antônio Sesti Júnior, que atuou como secretário de Itatiba durante a gestão de Thomás Capeletto, chegou a ser alvo de um mandado de busca e apreensão. A denúncia, à qual o Metrópoles teve acesso, indica que ele era o responsável por acompanhar os contratos e que recebia propina.

O Gaeco anexou à denúncia prints de uma conversa entre Sesti e o empresário e pagodeiro Vagner Borges Dias, conhecido como Latrell Brito, apontado como líder do esquema. Nas mensagens, o ex-secretário é identificado como “CESTI”.

  • Vagner Borges: Boa tarde. A licitação está ocorrendo hoje, e vão avaliar preço, planilha e depois chamar para habilitação. Nosso contrato vence dia 14. Não haverá tempo para o término da licitação. Vai prorrogar por mais um tempinho ou dou aviso?
  • Eduardo Antônio Sesti Júnior: Boa tarde! Vou falar com o pessoal do governo. Eu acho que não podemos paralisar o serviço.
  • Vagner Borges: Sim.
  • Eduardo Antônio Sesti Júnior: Minha opinião. Já te dou uma reposta.
  • Vagner Borges: Ok.

Em outro trecho, de um diálogo que ocorreu em fevereiro de 2023, Sesti pede dinheiro a Vagner Borges e envia sua chave pix para que a transferência seja feita.

  • Eduardo Antônio Sesti Júnior: Fale irmão, não esqueça de mim
  • Vagner Borges: Manda um pix [uma chave pix]. Está osso aqui
  • Eduardo Antônio Sesti Júnior: Imagino. [números da chave pix]
  • Vagner Borges: Qual o nome
  • Eduardo Antônio Sesti Júnior: Eduardo Antônio Sesti Júnior
  • Vagner Borges: Feito

Uma das licitações citadas pelo MPSP como alvo de fraude foi o pregão de número 64 realizado em 2023, em concorrência agendada para 15 de junho. Pelo menos três empresas ligadas ao grupo de Latrell Brito participam.

“A atuação orquestrada, com representações alternadas dos membros da organização criminosa, usualmente capitaneados por Antônio [Eduardo Antônio Sesti Júnior], não pretende, sob qualquer enfoque, assegurar competição ou preservação do interesse público subjacente ao certame. Ao revés, busca-se efetivamente ludibriar os órgãos públicos com o fim de obter contratos vultosos e resguardar os interesses financeiros da própria organização e seus integrantes”, diz a denúncia.

José Marcos Gomes Júnior

De acordo com prints de conversas anexadas pelo Gaeco na denúncia, o ex-secretário de Administração de Sorocaba José Marcos Gomes Júnior, que atuou na gestão de Jaqueline Coutinho, teria recebido dinheiro do grupo de Vagner Borges.

Em setembro de 2020, em um diálogo com Wagner Sandim da Silva, apontado como responsável por entregar envelopes com propina, Vagner dá instruções sobre onde eles deveriam ser deixados.

Vagner Borges: Vamos lá. Será Beto Guarujá, Vizaco Guarujá, Dani Guarujá, Fabiana Cubatão, Júnior Sorocaba.

Ao lado de cada um dos nomes citados, aparece um aparelho celular correspondente. Júnior não é identificado na denúncia, mas o número telefônico que consta na conversa pertence a ele, conforme revelado pelo G1 e confirmado pelo Metrópoles.

No dia seguinte, ele foi exonerado do cargo e, conforme alegado à época, ele saiu para atuar na campanha de Jaqueline Coutinho. Junior participava do governo desde maio de 2019.

Sorocaba é citada sete vezes na denúncia apresentada pelo Ministério Público de Guarulhos à Justiça. O documento tem 265 páginas e detalha o caminho percorrido pelo dinheiro pago pela empresa “Safe” às prefeituras e câmaras de diversas cidades.

Esquema

Deflagrada na semana passada, a Operação Munditia mirou um cipoal de empresas ligadas a Latrell Brito. Segundo o MPSP, o grupo assinou ao menos R$ 200 milhões em contratos nos últimos anos, mediante pagamento de propina a autoridades e simulação de concorrência nas licitações. Um dos sócios de Latrell é apontado como elo com o PCC.

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Um vasto material apreendido pelo Gaeco de Guarulhos revela como a organização atuava nos bastidores para consumar as práticas ilícitas. Em mensagens de WhatsApp, vereadores pediam abertamente transferências via Pix para agentes das empresas. O dinheiro caía na conta de assessores, mulheres ou de outras pessoas próximas aos políticos.

O vereador Ricardo Queixão (PSD), de Cubatão, na Baixada Santista, pediu a Latrell dinheiro até para pagar o terno a ser usado em sua posse na Câmara Municipal, em dezembro de 2020.

Como mostrou o Metrópoles, em outro episódio, o empresário e o vereador Flávio Batista de Souza (Podemos), o Inha, de Ferraz de Vasconcelos, na Grande São Paulo, conversaram abertamente sobre pagamentos e, em seguida, Latrell diz a uma assistente: “Separa 17 mil para o Inha. Ele vai buscar aí. Está no meu cofre”.

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