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Moradores lutam para que palco de tragédia vire parque com horta em SP

Moradores do Jardim Colombo querem transformar terreno que foi palco de tragédia em parque com horta comunitária e áreas de lazer

atualizado

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Fábio Vieira / Metrópoles
Imagem colorida aérea mostra área do Parque Municipal Sergio Vieira de Mello cercada por prédios - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida aérea mostra área do Parque Municipal Sergio Vieira de Mello cercada por prédios - Metrópoles - Foto: Fábio Vieira / Metrópoles

São Paulo – No terreno ao lado do Cemitério Gethsêmani, onde estão enterradas personalidades como a apresentadora Hebe Camargo e o ex-governador de São Paulo Franco Montoro, uma camada de mato alto cobre um monumento de pedra onde estão escritos os nomes de 12 crianças.

Inaugurado em 1990, o monumento no bairro do Morumbi, zona sul de São Paulo, homenageia as vítimas de um desabamento em uma favela às vésperas da eleição presidencial de 1989.

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No dia 24 de outubro daquele ano, dezenas de barracos da chamada “Favela Nova República” foram soterrados, provocando a morte de 12 crianças e dois adultos. Na época, a gestão da prefeita Luiza Erundina, hoje no PSol, disse que a tragédia foi causada por um aterro ilegal, construído por um condomínio que fazia a obra sem autorização.

Susarte Carvalho, 69, trabalhava no cemitério naquele dia e conta que ainda se lembra de ouvir o estrondo da terra se movendo no terreno ao lado. “Foi uma coisa que cortou meu coração, morreu muita gente”.

Ele mora no Jardim Colombo, uma comunidade localizada a poucos metros dali, onde um grupo de moradores luta para transformar o terreno da tragédia em um parque, com horta comunitária, área de lazer e cursos de jardinagem.

A União dos Moradores da Favela Jardim Colombo entrou com um pedido oficial na Prefeitura para se tornar responsável pela administração do espaço, que pertence à gestão municipal.

A ideia da associação é revitalizar o lugar, protegendo uma área de mata nativa e construindo ali uma horta comunitária que possa ser usada pelos moradores da favela. Veja imagens do projeto abaixo:

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O projeto é encabeçado pelo líder comunitário Ivanildo de Oliveira Júnior, 51, e sua filha, a arquiteta e urbanista social Ester Carro, 28.

“Há uma demanda muito grande no Jardim Colombo por esse trabalho com agricultura urbana”, afirma a arquiteta. Ester é presidente do “Fazendinhando”, projeto focado na transformação social de favelas.

Ela defende que a criação de uma horta comunitária no local beneficiaria as famílias em situação de extrema vulnerabilidade. “A gente conseguiria atender essas famílias com o que vai ser produzido aqui”, diz a pesquisadora, que estima que o terreno tenha cerca de 17 mil m².

Nos últimos meses, equipes da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente (SVMA) fizeram uma visita ao local e conversaram com a arquiteta.

Em nota ao Metrópoles, a Prefeitura confirma o diálogo com os moradores e diz que já realizou um estudo preliminar para a área do terreno (veja mais abaixo).

O avanço nas negociações anima Ivanildo. O líder comunitário diz que os moradores estão empenhados em fazer um bom uso do local caso consigam a autorização para gerir a área. “Nós temos pessoas técnicas competentes. A comunidade tem competência para administrar aquilo, de fazer um belo projeto”, afirma ele.

A ideia da associação envolve também a criação de espaços de caminhada e lazer, e a promoção de cursos de capacitação para jardinagem com aulas práticas no local.

“Como aqui existem muitos condomínios, há uma demanda [por jardineiros], mas às vezes não tem mão de obra qualificada”, diz Ivanildo.

Conflitos sociais e abandono

O projeto da União de Moradores é mais um capítulo na história do lugar, que é marcado pelo abandono e por uma série de conflitos sociais.

Em 2008, um decreto do então prefeito da cidade Gilberto Kassab (PSD) nomeou o terreno como Parque Municipal Sérgio Vieira de Mello, mas o parque nunca foi implementado de fato.

Em 2014, um grupo do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) ocupou o local para pedir a criação de habitações populares na região. Na época, uma das lideranças do movimento chegou a dizer que seguranças dos condomínios vizinhos atiraram contra o acampamento durante a noite. O grupo deixou o local pouco tempo depois.

Agora o espaço permanece vazio e – a não ser pelo monumento cercado de mato – é difícil saber que o local pertence à Prefeitura. Veja vídeo com imagens do terreno atualmente:

Um portão colocado em um muro que divide o terreno indica que funcionários de um prédio em construção têm usado o espaço como acesso para a obra. Além do mato alto, é possível encontrar lixo em alguns pontos, inclusive na área de mata fechada, onde um fio de água transparente avança entre as árvores.

Em todo o espaço, não há nenhuma iluminação e moradores do Jardim Colombo dizem que se sentem inseguros de andar na Avenida Frei Macário de São João, que dá acesso ao terreno, depois que escurece.

De dia, a avenida é usada por moradores que fazem caminhada e treinam para tirar habilitação de moto.

Ester diz que o diálogo com a prefeitura tem sido positivo e acredita que o projeto da associação é possível. “Eles [a SVMA] vieram para cá, nos escutaram, entenderam toda a necessidade”, afirma a arquiteta.

O local aparece na lista de parques propostos pela revisão do Plano Diretor com o nome “Parque Linear Sergio Vieira de Mello – Córrego Itararé”. A Prefeitura diz que o espaço será um corredor verde, que irá interligar fragmentos de vegetação.

A gestão municipal afirma que está prevista a contratação de um “projeto executivo de obra de estabilidade geotécnica”, com o objetivo de fortalecer o terreno íngreme do local e “possibilitar no futuro a implantação da horta comunitária sugerida”.

A SVMA diz que mantém diálogo constante com os interessados para que as demandas locais possam ser contempladas no projeto do parque.

Sobre o mato alto encontrado no local, a Prefeitura diz que a Subprefeitura do Butantã realiza serviços de conservação e zeladoria a cada 30 ou 60 dias, a depender da necessidade. “O espaço consta na programação da Subprefeitura e deve receber os serviços de capinação do mato, roçagem e limpeza do córrego até o fim deste mês”, afirma a nota.

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