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Damares de SP: o que pensa a secretária da Mulher do governo Tarcísio

Antifeminista, antiaborto e próxima do clã Bolsonaro, Sonaira Fernandes chefia a recém-criada Secretaria de Políticas para a Mulher em SP

atualizado

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Governo do Estado de São Paulo
Sonaira Fernandes
1 de 1 Sonaira Fernandes - Foto: Governo do Estado de São Paulo

São Paulo – “A nossa bandeira ideológica tem que ficar para outro momento”, discursou Sonaira Fernandes (Republicanos) durante a votação de um projeto de lei voltado para a distribuição gratuita de absorventes para estudantes da rede municipal de São Paulo. A frase foi usada para justificar a recusa da vereadora bolsonarista em aceitar uma alteração no texto: a inclusão do termo “pessoas que menstruam”.

“Não se trata de preconceito, homofobia, ou algo do tipo”, disse ela no plenário da Câmara dos Vereadores, em junho de 2021. “Pessoas que menstruam é diferente de mulheres que menstruam”, acrescentou.

Ouvidos pelo Metrópoles, vereadores que foram colegas de Sonaira disseram que o uso da palavra “gênero” em qualquer projeto era o suficiente para garantir a sua oposição. O foco nas pautas de costumes lhe rendeu o apelido interno de “Damares de São Paulo”.

Escolhida pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) para chefiar a recém-criada Secretaria de Políticas para a Mulher, Sonaira é comparada à senadora e ex-ministra Damares Alves (Republicanos-DF) não apenas pela pasta que lhe foi designada, mas também pela defesa da agenda antiaborto e pelas críticas ao feminismo – movimento que já classificou publicamente como “sucursal do inferno”.

Sonaira é descrita por outros parlamentares como uma pessoa pouco aberta ao diálogo, sem atuação nos bastidores da Câmara e sem habilidade para articulação política. Um deles disse à reportagem que ela lembra o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro (PL): “Muito barulho e pouco projeto”.

Religião

Em seu primeiro dia de trabalho na Câmara, ela presenteou os outros vereadores com exemplares da Bíblia. Um parlamentar ouvido pela reportagem questionou: “Sabemos que ela é evangélica. Mas e se alguém tivesse dado uma miniatura de Oxóssi a ela? Qual seria a reação?”.

Ela voltou a levar uma Bíblia embrulhada para presente em 19 de outubro de 2022. Na ocasião, mostrou o pacote no plenário e disse que o entregaria para a então vereadora Érika Hilton (PSol-SP), travesti e hoje deputada federal diplomada.

“Eu quero presentear a senhora sem nenhum tipo de deboche, sem nenhum tipo de ódio e muito menos de rancor, vereadora. Eu quero presentear a senhora com a palavra de Deus, que é a que liberta”, disse Sonaira.

Sonaira segura embrulho para Érika Hilton na Câmara de SP

As duas haviam discutido por causa da pauta antiaborto de Sonaira. Um dia antes, a vereadora do Republicanos havia pedido a palavra para discursar no plenário.

“Quero deixar aqui os meus parabéns para os guerreiros que estão em frente ao hospital Pérola Byington dizendo que a vida é importante, dizendo que aborto, não”, afirmou.

A unidade hospitalar é referência no atendimento de casos nos quais o aborto é legalizado, incluindo vítimas de estupro. Sonaira participou de vigílias de orações promovidas por grupos antiaborto em frente ao local. Reportagem de TAB, do Uol, identificou que a vereadora havia destacado uma pessoa de seu gabinete para integrar as manifestações.

Em janeiro deste ano, o calendário de São Paulo passou a incluir o “Dia da Bíblia”. Sonaira foi uma das autoras do projeto.

Agenda bolsonarista

Mesmo entre colegas da bancada evangélica, a forma de se posicionar da vereadora incomodava. Um deles disse à reportagem que era difícil trabalhar com Sonaira, já que ela tentava obstruir todas as pautas da oposição e travava o andamento dos projetos na Câmara.

O incômodo também se estendeu para a bancada do Republicanos, que via nela o risco de ir contra a orientação partidária na hora das votações. Autora de projetos de lei contra cotas raciais, banheiro unissex e desobrigação do uso de máscaras contra a Covid-19, Sonaira era vista como uma parlamentar “de agenda bolsonarista”.

Defensora do lema “Deus, Pátria, Família e Liberdade”, propagandeado por Bolsonaro, Sonaira foi assessora parlamentar do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), de quem é próxima, e nunca escondeu a influência do clã em seu mandato.

“Vamos às ruas, sim, porque temos um presidente da República, diferente da fake news anunciada aqui, que se preocupa com as liberdades”, disse no plenário um dia antes dos atos de 7 de setembro de 2022. Ela abriu uma bandeira do Brasil e a sacudiu para a transmissão ao vivo.

Sonaira mostra bandeira do Brasil na Câmara de SP

Fake news também são temas caros à secretária, que já foi acusada de propagar desinformação mais de uma vez. Enquanto vereadora, disse um dos ex-colegas, não desgrudava do celular e repetia mensagens que havia recebido pelo WhatsApp.

No dia 25 de outubro, Sonaira transmitiu durante a sessão ao vivo da Casa um vídeo no qual o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é associado a uma facção criminosa após utilizar um boné com a sigla “CPX” em visita ao Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. A afirmação, além de falsa, já havia sido desmentida por projetos de checagem ao menos dez dias antes.

Indicação ao cargo

Única candidata ao Legislativo paulistano apoiada abertamente por Bolsonaro nas eleições de 2020, ela foi uma aposta política do filho 03 do ex-presidente. A amizade com a família lhe rendeu visitas de Eduardo na Câmara. Em seu gabinete, ela mantinha uma foto de Jair Bolsonaro.

Até a sua indicação para virar secretária de Tarcísio é creditada à família, e não apenas pela proximidade com Eduardo. Foi Diego Torres Dourado, irmão da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, um dos principais responsáveis por levar o nome dela até o governador. Diego teve forte atuação nos bastidores da campanha de Tarcísio e foi nomeado seu assessor especial.

A indicação de Sonaira também foi aproveitada pelo Republicanos, que pleiteava mais nomes no primeiro escalão do governo – atualmente o partido tem três quadros entre os 25 do secretariado de Tarcísio.

Além disso, a saída dela da Câmara abriu espaço para o suplente Jorge Wilson Filho, também do Republicanos, assumir o posto. A promessa é de que ele vote na Casa de acordo com os posicionamentos da Igreja Universal, que controla o partido.

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