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Casal que passeava com cachorro é confundido com ladrões e acaba preso

Testemunhas afirmam que vendedora e amigo foram presos pela PM em São Paulo, acusados de roubo de carro quando passeavam com cachorro

atualizado

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Arte/Arquivo Pessoal
Em foto colorida jovem usa camiseta co Corinthians a esquerda e moça sorri usando blazer creme a direita - Metrópoles
1 de 1 Em foto colorida jovem usa camiseta co Corinthians a esquerda e moça sorri usando blazer creme a direita - Metrópoles - Foto: Arte/Arquivo Pessoal

São Paulo — Testemunhas afirmam que uma vendedora de seguros e um amigo dela foram presos injustamente pela Polícia Militar (PM), acusados de roubarem um carro, enquanto passeavam com o cachorro, no bairro Capão Redondo, na zona sul de São Paulo.

Rafaela da Silva Pereira Lima, de 23 anos, e Gabriel Pereira da Cruz, 24, comemoravam no domingo (10/9), em um churrasco na casa dela, o novo emprego do rapaz, que começaria em uma academia de ginástica no dia seguinte.

A casa estava cheia de amigos, entre eles o técnico eletricista Lucas Checke de Siqueira, de 28 anos. Ele afirmou ao Metrópoles, nesta quarta-feira (13/9), ter testemunhado a abordagem dos PMs a Rafaela e Gabriel.

“Ela e o Gabriel estavam passeando com o Rex, o cachorro da Rafaela. Eu estava uns 30 metros de distâncias deles, quando um carro subiu a rua em alta velocidade, na contramão.”

A abordagem ocorreu por volta de 20h20, no Capão Redondo. Lucas afirmou ter ouvido um barulho, antes de o carro que subia na contramão parar em frente a Rafaela, que pegou o cachorro no colo e correu assustada. “Vi um cara, negro, saindo do carro e ele passou correndo do meu lado”, disse Lucas, acrescentando que nenhum policial militar foi atrás do fugitivo.

Uma câmera de monitoramento (assista abaixo) registrou os jovens caminhando com o cachorro e, instantes depois, o suspeito correndo.

 

Atropelamento

O barulho ouvido por Lucas, segundo registros da Polícia Civil, ocorreu com o atropelamento do motoqueiro Wellington Santana Fraga da Silva, de 22 anos.

Ao se desviar do carro conduzido pelo ladrão, ele bateu de frente com uma viatura do 1º Batalhão da Polícia Militar. A reportagem apurou que ele foi submetido a uma cirurgia, na qual colocou um pino em uma das pernas, e está em coma induzido.

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Duas versão dos PMs

Em depoimento, o sargento Eduardo Luciano da Silva e o cabo Júlio Cesar Marques de Souza, da Força Tática do 1º BPM, afirmaram ter avistado um Chevrolet Onix roubado trafegando pela Avenida Carlos Caldeira Filho.

Ambos afirmam que, no veículo, havia “um condutor”, que fugiu após perder o controle do carro, durante uma perseguição. Os PMs também falam do atropelamento do motoqueiro, que fez com que a viatura policial colidisse em seguida contra uma guarita.

Outros dois PMs, que estavam em uma segunda viatura, deram apoio à abordagem. Ambos afirmaram, porém, que dois suspeitos teriam desembarcado do carro roubado, acrescentando que ele “parou na via pública”.

Os dois policiais acrescentaram à Polícia Civil que, após abordar Rafaela e Gabriel, os jovens afirmaram que “transitavam pela via e assustaram-se com toda a movimentação”. Após isso, os policiais levaram a dupla para a delegacia.

Segundo Lucas Siqueira, amigo do casal, Gabriel ficou exaltado durante a abordagem, fazendo com que alguns policiais se irritassem e o obrigassem a se sentar sobre as mãos.

Ainda de acordo com ele, os policiais estavam com câmeras corporais, mas os equipamentos estariam desligados. Rafaela e Gabriel foram mantidos na rua por cerca de uma hora até serem levados à delegacia. Os PMs apresentaram uma arma de brinquedo que teria sido encontrada com Gabriel.

Reconhecimento da vítima

Na delegacia, o proprietário do carro roubado, um motorista de aplicativo, teria reconhecido, “sem sombra de dúvidas”, Rafaela e Gabriel como os autores do roubo.

Isso gerou revolta entre familiares e amigos deles.

Com base no reconhecimento da vítima e no relato dos policiais, Rafaela e Gabriel foram presos em flagrante pelo roubo do veículo.

A prisão deles foi convertida para preventiva, ou seja por tempo indeterminado, em uma audiência de custódia, realizada na última segunda-feira (11/9) pela Justiça.

Defesa

Ao Metrópoles, o advogado Marcelo Batista de Aguiar, que assumiu a defesa de Rafaela e Gabriel, afirmou nesta quarta-feira (13/9) que a Justiça não considerou consistentes as imagens de seus clientes passeando com o cachorro, captadas por uma câmera de monitoramento.

“Ainda hoje [quarta] vamos entrar com mais um pedido de liberdade, porque há muitas inconsistências na acusação contra eles.”

O defensor afirmou ter como provar que seus clientes não estavam no local onde o motorista de aplicativo foi roubado. Ele irá solicitar a quebra o sigilo dos celulares dos jovens, para provar a localização de ambos no momento do assalto.

Além disso, Aguiar diz que também vai requerer as imagens das câmeras corporais dos policiais. “Estamos com novos elementos que irão provar ainda mais a inocência deles. Não irei ainda divulgar para não atrapalhar a investigação.”

Atualmente, Rafaela estuda enfermagem, profissão que já exerceu como auxiliar. Ela mora com a mãe, que sofreu um acidente e ficou incapacitada, e é conhecida no bairro por se envolver em projetos sociais.

Em colorida cinco jovens abraçados - Metrópoles
Gabriel e Rafaela são amigos de longa data e já participaram de grupos religiosos juntos

TJSP e PM

Questionado sobre se irá solicitar as imagens das câmeras corporais dos PMs, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) não respondeu. Ele somente confirmou que os jovens tiveram as prisões em flagrante convertidas em preventivas.

Em nota, enviada no fim da tarde desta quarta-feira, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) afirmou que o casal foi “reconhecido pessoalmente pela vítima.”

“Quanto ao vídeo mencionado, o mesmo foi anexado ao inquérito policial e analisado pelo Poder Judiciário, que converteu a prisão em flagrante em preventiva.”

A pasta, assim como a Polícia Militar, foi questionada se as imagens das câmeras corporais dos PMs foram disponibilizadas para confirmar a versão deles. Ambas as instituições da Segurança Pública não se posicionaram.

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