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Antiapagão? Veja como funciona a rede de energia mais confiável de SP

Rede mais confiável de SP é subterrânea, funciona em malha e transferência de energia ocorre mesmo quando parte dela falha; é antiapagão?

atualizado

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William Cardoso/Metrópoles
Imagem mostra trabalhadores da Enel esticando cabos. Procon exige esclarecimentos da empresa - Metrópoles
1 de 1 Imagem mostra trabalhadores da Enel esticando cabos. Procon exige esclarecimentos da empresa - Metrópoles - Foto: William Cardoso/Metrópoles

São Paulo — A área de concessão da Enel na Grande São Paulo conta com regiões que diferem das demais por terem um sistema de fornecimento de energia elétrica que não é apenas enterrado. Eles são chamados de reticulados, uma espécie de rede subterrânea que faz com que a eletricidade procure um novo caminho sempre que uma passagem sofre alguma pane.

Esses sistemas não são imunes a apagões, como o que deixou mais de 2,1 milhões de imóveis sem luz no início do mês, embora as chances de que ocorram sejam bem menores. A Enel foi questionada a respeito dos conjuntos reticulados em 8 de novembro e se manifestou neste domingo (19/11), 11 dias depois, após a publicação da reportagem.

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Onde fica a rede mais confiável

Nos 24 municípios sob concessão, a Enel conta com 143 conjuntos elétricos, como são chamadas as regiões de distribuição de energia. O tamanho e a localização não têm relação nenhuma com a divisão administrativa dos bairros ou das cidades, embora sejam identificados com eles por proximidade.

Na capital paulista, dois desses sistemas trazem a rede mais eficiente no nome. São o Bandeirante-Reticulado e o Miguel Reale-Reticulado. O primeiro está instalado em parte pequena do Itaim Bibi, bairro nobre da zona oeste, nas proximidades da Rua Bandeira Paulista. Já o segundo fica na região próxima à Praça da Sé e à Liberdade.

Segundo a concessionária, são 502 Km de extensão de rede de distribuição subterrânea reticulada em toda a sua área, que contempla a capital e mais 23 municípios da região metropolitana. Os conjuntos reticulados Augusta, Paula Souza, Bandeirantes, Brigadeiro, Centro e Miguel Reale fazem parte da sua área de atuação.

“Esses conjuntos também foram impactados pela alta temperatura que atingiu a área de concessão da companhia nas últimas semanas, mas tiveram o fornecimento de energia restabelecido prontamente”, diz, em nota.

Segundo a Enel, esses conjuntos reticulados possuem diversos sistemas e suas implantações datam desde meados dos anos 1950, como o Paula Souza, até o início dos anos 2000, como o Miguel Reale.

Quem vive ou trabalha na área do Bandeirante-Reticulado diz que não costuma passar tanto aperto durante temporais. O comerciante José Ribeiro, de 79 anos, tem uma loja na Rua Tabapuã, no Itaim Bibi, e afirma que ao longo de 22 anos ficou sem energia elétrica em apenas duas oportunidades, a última delas há mais de 10 anos.

“Os fios são enterrados. Essa rede que tem aqui nos postes só passa para abastecer outra área”, diz.

Durante o temporal do último dia 3/11, quando a Enel deixou imóveis sem luz por até cinco dias, a loja de Ribeiro permaneceu intacta. “Não aconteceu nada, tudo funcionou normalmente”, diz a irmã dele, Maria Augusta, 72 anos, que estava no local durante a tempestade.

A reportagem conversou com outras pessoas da área do reticulado que atende à parte pequena do Itaim Bibi. Durante o temporal do início de novembro, o máximo que notaram foram interrupção de minutos no fornecimento de energia ou piscadas na luz.

Como funciona o sistema reticulado

O sistema reticulado funciona como uma malha que oferece vários caminhos para a transferência de energia. É diferente do radial, esquema usado nos cabos sobre os postes, por exemplo.

“Se um trecho da rede for afetado por uma falha, a energia pode ser redirecionada por outras rotas, minimizando a interrupção do fornecimento. A presença de múltiplos caminhos para a transferência de energia aumenta a confiabilidade do sistema. Se um caminho estiver comprometido, outros podem ser utilizados”, afirma Michele Rodrigues, professora de engenharia elétrica da FEI (Fundação Educacional Inaciana).

Segundo a professora, o sistema reticulado pode custar até quatro vezes mais que o de fios enterrados convencionalmente. Já o modelo de enterramento de fios convencional pode ser 10 vezes mais caro que aquele sobre os postes e suscetíveis a danos causados por queda de árvores, por exemplo, como ocorreu no temporal do início deste mês.

A concessionária afirma que, em comparação com o custo de implantação de uma fiação aérea, a instalação do sistema reticulado é cerca de 30 vezes maior.

“No reticulado, o sistema de proteção é mais sofisticado e mais caro, principalmente devido ao uso do dispositivo ‘network protector’, que tem por finalidade isolar automaticamente a parte do sistema em defeito e ele continuar a operar mesmo com uma porção desenergizada e isolada”, afirma Nelson Kagan, professor do Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétricas da Escola Politécnica, da Universidade de São Paulo (USP).

Apesar de ser um sistema com redundância (quando um caminho falha o outro supre a necessidade), não significa que seja à prova de tudo, explica Kagan. Se linhas de transmissão forem atingidas, por exemplo, tudo quem vem depois delas é afetado, sejam fiações subterrâneas ou aéreas, em cima dos postes.

Passado e futuro

Apesar da eficiência, o reticulado não é uma novidade. Há registros da instalação desse sistema em São Paulo ainda no começo do século passado, com equipamentos menos modernos do que os atuais.

Diretor do Departamento de Desenvolvimento de Tecnologia, Indústria, Energia e Telecomunicações do Instituto de Engenharia, Aléssio Bento Borelli também ressalta que desde aquela época existia a preocupação em colocar transformadores, chaves e cabos de melhor qualidade nessas redes, porque a manutenção subterrânea é mais complicada do que aquela feita nos postes. “Você tem enterrar transformadores, chaves. São transformadores especiais, com refrigeração própria, selados”, diz.

Borelli afirma que a falta de manutenção em redes subterrâneas de energia pode ocasionar uma série de acidentes, como aqueles ocorridos no Rio de Janeiro em um passado recente, quando tampas de poços de visita voavam após explosões.

Segundo o diretor do Instituto de Engenharia, diante do alto custo e das dificuldades de se implantar redes subterrâneas em uma cidade como São Paulo, o melhor seria investir em redes compactadas, podas eficientes e plantio de árvores compatíveis com o ambiente urbano.

A concessionária diz que, além dos conjuntos reticulados, a companhia possui rede subterrânea em algumas regiões, como na Vila Olímpia, com “alto nível de confiabilidade”.

Segundo a Enel os investimentos realizados impactam na tarifa de energia, por isso as distribuidoras priorizam os “investimentos prudentes que possam causar o menor impacto para o consumidor”.

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