metropoles.com

Viver bem é saber ocupar seu lugar no mundo, e não qualquer lugar

No meu ofício de analista, acostumei-me a estar diante de sujeitos que nem sempre sabem para que existem

atualizado

Compartilhar notícia

iStock
máquina industria
1 de 1 máquina industria - Foto: iStock

Onde termina a vida e começa a sobrevivência? Pergunta capciosa, de respostas múltiplas. Aqui falo do significado da vida, da razão para existir e ocupar, com um corpo, um lugar no tempo e no espaço. De algo que, que de tão óbvio, parece estar subentendido. Não está.

No meu ofício de analista, acostumei-me a estar diante de sujeitos que nem sempre sabem para que existem. Sabem até os porquês – especialmente enumeram aqueles que impõem sofrimento. Quase nunca percebem a ausência de sentido como alimento do mal-estar.

Existir é muito pouco para a condição humana. Desde os primórdios, quando começou a pensar-se, o ser humano buscou uma função a ocupar diante do outro e do todo. Uma função que validasse sua inserção no universo que o engloba, que o identifique como ser único.

E, enquanto vivíamos no dito primitivismo, essas respostas eram suficientes. Jung cita o representante da tribo aborígene que tinha por função permitir que o sol nascesse. Obviamente, uma fantasia mágica. Mas que era impreterível a ele e aos seus convivas.

Representar esse papel era a salvação de tal sujeito. Era experimentar o sagrado em si. Por esse motivo, desempenhava esse ofício da maneira mais fiel e responsável o possível.

Hoje, demarcamos espaço com feitos superficiais e repetitivos, com um álbum de fotos e depoimentos curtos sobre nossos afazeres. Reclamamos da segunda-feira, do cansaço, da corrupção. Comemoramos a sexta, o lazer, as vantagens que o outro não percebeu – mesmo que não saibamos o que fazer com o tempo, nem entendemos a função da diversão e da ética.

Replicamos ideias, crendo que somos delas autores (na dúvida, pesquise em Platão ou Aristóteles – “é provável que eles já tenham pensado sobre isso, e de forma melhor”, como me alertou uma professora querida).

E, assim, sobrevivemos. Assumimos um estado de torpor enquanto a morte não vem. Não arriscamos, pois não queremos perder. Queixamo-nos pelas oportunidades que não chegam. Descartamos o aprofundamento, quando ele exige mudanças. Culpamos, muito, o outro por nossos fracassos. Não nos permitimos a dádiva educativa do fracasso.

Nesse estado de espera por um advento, ou um agente redentor, evitamos tudo que inspira vida. O movimento, a desconstrução, o embate. Não sentimos a alma pulsar, e isso se traduz numa ausência de sentido, uma espécie de desconexão ou falta de pertencimento.

Muitas vezes, tudo isso é simples reflexo da dificuldade que temos de bancar o que sempre soubemos, mas nunca quisemos admitir. Aquilo que, convencionalmente, não parece o melhor – apesar de, por dentro, ser um valor genuinamente seu. Parece difícil bancar nossa verdade.

Basta olhar para a história da humanidade. Os veneráveis nunca eram os mais bem adaptados, e sim os autênticos. Quase sempre, eles não tiveram autorização para realizarem a própria história. Muitos pagaram com a vida. Viver nunca foi fácil. Mas é recompensante.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?