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Nossa Cozinha tem comida boa sem doer tanto no bolso

O bistrô comandado por Alexandre Albanese, no entanto, ainda precisa de ajustes no serviço

atualizado

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Guilherme Lobão/Metrópoles
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1 de 1 WhatsApp Image 2018-04-19 at 13.42.52 (1) - Foto: Guilherme Lobão/Metrópoles

Alguns restaurantes parecem extensão de casa. Dificilmente serão os que guardam muita pompa, exalam formalidade ou preços exorbitantes. Muitas vezes, temos aquele PF ou mesmo a padaria de estimação. Considero o Nossa Cozinha Bistrô, na 402 Norte, um desses lugares. Charme peculiar, informalidade, guardanapo de papel… um ambiente propício à filosofia da comfort food.

Gosto muito de como os sócios Alexandre Albanese e Otávio Soares recriaram um zeitgeist da comida de bistrô ali – sem cheiro de naftalina, elegância e, acima de tudo, um tíquete médio sensato. Não sei ao certo qual massa seca o chef Albanese usa em suas receitas. Certamente não é uma De Cecco ou uma Giuseppe Cocco, porém trata-se de macarrão grano duro, cozido al dente. Cumpre sua função e alivia o peso no bolso.

Nossa Cozinha tem cara de bistrô francês e pegada italiana, mas a alma da cozinha sulista norte-americana e caribenha deveria aparecer mais. Há um espaguete jambalaya cujo o molho de tomate predomina mais do que o caldo, por exemplo. Contudo, leva camarões lindamente desveinados e cozidos com uma calabresa de boa procedência.

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Red velvet cake: receita clássica da confeitaria americana realizada à perfeição

 

Do repertório norte-americano, Albanese se sai muito bem, sobretudo, em sua confeitaria. Quanta falta sinto de quando separou parte de seu espaço interno para servir os quitutes no que fora conhecido como Sua Cozinha Take Out. Mas boa parte das tortas, bolos e, de quebra, o ótimo cinnamon roll, ainda podem ser encomendados ali.

O bolo red velvet (R$ 14,90 a fatia), feito com massa de cacau e recheio de cream cheese, é um clássico. Sua massa não fermenta tanto como num bolo caseiro, mas preserva certa fofura. A mão de Albanese para as tortas é certeira. Podem fechar os olhos e pedir a pumpkin pie (de abóbora), cujo chantili precisava de um pouco mais de açúcar e firmeza; ou a torta de maçã muito bem assada e temperada à maneira tradicional (precisa melhorar a qualidade do sorvete servido com ela), sem falar da irreparável cheesecake, leve, com calda de morango (R$ 16,50).

Há um torta de chocolate com amendoim incrível (R$ 14), cujo recheio contrasta com uma camada de caramelo salgado de ponto não muito acurado, porém ótimo no sabor. Uma pequena decepção foi o devil’s food cake, um bolo de chocolate meio-amargo, cuja fatia servida a mim estava endurecida, apesar de gostosa.

Por conhecer de cabo a rabo o cardápio do Nossa Cozinha e acompanhar seu progresso ao longo dos anos, percebo qualidades muito boas, mas também os deslizes, alguns estruturais. A informalidade do bistrô não pode servir para justificar falta de atenção a princípios básicos do serviço à mesa, como a retirada da louça suja da entradinha. O atendimento muitas vezes bate cabeça na coordenação dos pedidos, entregá-los num prazo coerente. Esperar 30 minutos por uma sobremesa já pronta (como tortas ou bolos frios) é demais.

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Semana passada estive no Nossa Cozinha mais uma vez e topei com Albanese. Ele me disse que lançaria um novo menu, iniciado nessa segunda (16/4). Fui lá conferir. Os vacilos no atendimento persistiam. É necessário um freio de arrumação para coordenar o serviço. Há novos pratos e eu não soube pelo garçom, porta-voz da casa.

Ainda vou preferir ficar com os pratos antigos, digo logo. Opto pela despretensão da costelinha suína, cozida no ponto correto, com um barbecue saboroso (R$ 39,60), mas que deve alguma picância (não pimenta, diga-se). Batatas coradas, com alguma inconsistência no cozimento, permanecem como o prato-cartão-postal do estilo da casa.

Permanece no menu as empanadas caribenhas, com o interessante chutney de banana (R$ 17). Mas gosto um bocado da nova entrada: casquinha com ossobuco desfiado sobre uma polenta mole (R$ 18). A salada de morango leva uns cubos de frango muito ressecados (R$ 32 a grande). Bem diferente do tratamento conferido ao filé de coxa, com a pele incrivelmente crocante, grelhado à perfeição e servido em chimichurri e cuscuz marroquino como guarnição (R$ 34,80).

Dos pratos novos, deparei-me com um pequeno desastre, que certamente não reflete o padrão da casa. Contudo, não posso me furtar a apontar o grande erro que foi o novo boeuf bourguignon sobre talharim na manteiga. Carne com muito nervo, excesso de pedações desproporcionais de gordura de bacon, pouquíssima participação de cogumelo, cenoura, cebola e nada de vinho no caldo, insosso e muito oleoso.

Prova de que este pode ter sido apenas um deslize se traduzem no interessante curry de vegetais (R$ 39); no polpetone com talharim do menu do dia (R$ 32); e nas massas e filés (sem risoto, por favor), que configuram os especiais do chef, descritos no quadro a cada dia, a um preço a partir de R$ 28. Comida confortável também precisa fazer bem ao bolso.

Acompanho a trajetória desse despretensioso bistrô desde sua inauguração há 8 anos. Como já confidenciei ao chef Alexandre Albanese, sua receita de molho putanesca é a que uso em casa. O segredo é refogar no azeite alho e alecrim, antes de receber azeitona, aliche, tomate etc. Hoje não está no menu da Nossa Cozinha, apenas no da minha. Mas se estiver por lá, passo novamente a qualquer hora. Afinal, é daqueles restaurantes que podem ser uma extensão de casa.

Nossa Cozinha Bistrô
Na 402 Sul, bloco C, loja 60. Tel: (61) 3326-5207. De segunda a quinta, das 11h30 às 23h; sexta e sábado até 0h. Jantar sai apenas a partir das 19h30, antes serve apenas entradinhas, cafés, confeitaria e saladas. Ambiente interno e externo. Wi-fi. Aberto em 2010

 

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