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“Não falaremos da Marielle no passado. Viverá em nós”

Eu sou porque somos. A frase repercute nas redes sociais e, no imaginário, tentamos decifrá-la. Marielle é porque somos. Somos negras, faveladas, lésbicas, de luta, feministas. Somos porque ela é. Não falaremos da Marielle no passado. Viverá em nós, assim como nos inspira a disputar os espaços hegemonicamente masculinizados e brancos. Como diz Angela Davis, “quando […]

Autor Keka Bagno

atualizado

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Stela Woo / Metrópoles
Marielle
1 de 1 Marielle - Foto: Stela Woo / Metrópoles

Eu sou porque somos. A frase repercute nas redes sociais e, no imaginário, tentamos decifrá-la. Marielle é porque somos. Somos negras, faveladas, lésbicas, de luta, feministas. Somos porque ela é.

Não falaremos da Marielle no passado. Viverá em nós, assim como nos inspira a disputar os espaços hegemonicamente masculinizados e brancos. Como diz Angela Davis, “quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”.

Marielle faz isso ao ser a quinta vereadora mais votada no estado do Rio de Janeiro, em 2016, expressando mais de 46 mil pessoas que entenderam a importância de ter sua voz negra e favelada em um espaço historicamente fechado às maiorias sociais. E, em uma sociedade racista, misógina e elitista, ter Marielle no espaço de poder é arriscar modificar a estrutura segregadora destes 518 anos. Não iriam permitir.

Marielle denunciou a milícia, a intervenção militar, discursou na Câmara de Vereadoras inúmeras vezes sem arredar quando homens brancos tentaram intimidá-la, disse “não serei interrompida. Não aturo o interrompimento dos vereadores desta casa, não aturarei o cidadão que veio aqui e não sabe ouvir a posição de uma mulher eleita”.

Sua luta contra o extermínio do povo negro e pelo fim das violências contra as mulheres reunia dezenas ao seu redor e assim foi horas, antes de ser executada. Marielle estava em uma roda de conversa intitulada “Jovens negras movendo as estruturas”. Foram nove tiros. Quatro em sua cabeça.

Se Marielle é porque somos, Marielle não é uma, mas milhares de pessoas. É isso o que expressa toda a mobilização, no Brasil e no mundo. Somos muitas. Somos o encanto dos sorrisos da Marielle. Somos filhas da resistência. Muitas se foram para que nós estejamos vivas. Marielle foi mais uma vítima do estado corrupto que é o Rio de Janeiro, do golpe em curso no Brasil, do racismo e da misoginia. E nós não daremos um passo atrás.

Seguiremos lutando para que não haja mais opressão, por uma sociedade justa, por uma política de segurança que realmente seja capaz de transformar a situação em que nos encontramos na maior parte das cidades do país.

Vamos juntar nossa voz à de Marielle e às tantas vozes que tentam silenciar. Não calaremos!

Marielle vive!
Marielle, presente!
Hoje e sempre!

(*) Keka Bagno é conselheira tutelar no Distrito Federal e integrante do Diretório Nacional do PSOL

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