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Dilma, vamos conversar sobre Hillary e agenda feminista?

Durante o discurso, a candidata norte-americana mostrou com clareza que um homem nunca vai entender o que é não se sentir representado pelas instituições políticas

Autor Olívia Meireles

atualizado

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PAUL SANCYA/ASSOCIATED PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Hillary Clinton discursa no último dia da convenção dos democratas
1 de 1 Hillary Clinton discursa no último dia da convenção dos democratas - Foto: PAUL SANCYA/ASSOCIATED PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Na noite de quinta-feira (28/7), Hillary Clinton subiu ao palco da convenção democrata, com seu terninho branco, para oficializar a candidatura à presidência dos Estados Unidos. Dirigiu-se à população americana para deixar claro quais as propostas vão nortear o seu possível governo. Hillary falou bonito. Não teve medo de se posicionar sobre nenhum assunto e propôs uma agenda completamente progressista.

Falou em aumentar os impostos para as grandes empresas, comprometeu-se a perdoar as dívidas de estudantes universitários, prometeu regularizar a situação de imigrantes ilegais e condenou a maneira desigual como o sistema judicial americano trata latinos e negros.

Nas questões femininas, foi ainda mais enfática. Se comprometeu a pagar salários iguais para pessoas que fazem o mesmo trabalho, independentemente do gênero, garantiu que vai lutar para que a licença maternidade seja uma realidade nos Estados Unidos e também defendeu as clínicas que fazem aborto.

Deu orgulho de ver uma mulher, em uma das posições mais poderosas do mundo, representando as minorias. Falando em nome das mulheres, para mulheres, defendendo assuntos que sempre foram deixado de lado pelos homens brancos que sempre ocuparam os cargos de chefia ao redor do mundo.

Sensação similar tivemos, pelo menos as feministas, quando Dilma Rousseff assumiu a presidência do Brasil. Dilma trouxe a agenda feminina para as instâncias superiores, ajudou aprovar a Lei do Feminicídio, colocou mulheres nos cargos mais importantes do governo e lutou para que nós fôssemos respeitadas. Pela primeira vez, as brasileiras tiveram suas vozes ouvidas. Essa é a beleza da representatividade.

Apesar de todos os esforços, a brasileira nunca foi tão enfática como Hillary. Dilma sempre pisou em ovos para falar sobre questões que são consideradas “delicadas” para os conservadores. Provavelmente com medo de perder votos.

Mesmo afastada temporariamente, com um fraco apoio populacional e no Congresso, ela não consegue ser clara com o que acha de algumas políticas para mulheres. Em entrevista à Marie Claire, publicada no sábado (30/7), por exemplo, ao ser questionada sobre o seu posicionamento na questão do aborto, ela ficou em cima do muro mais uma vez.

Como presidente, não posso falar sobre isso. O dia em que sair, dou minha opinião pessoal. Agora, nessa questão, nas condições do Brasil hoje, não cabe ao Estado interferir na lei

Dilma Rousseff revelou à revista Marie Claire

Mas, Dilma. Se você acredita que o aborto é uma questão de saúde pública, como disse antes de virar candidata, essa é a nossa chance de pautar esse assunto e outras questões femininas. Você poderia ajudar a articular no Congresso. Impor a pauta. Fazer o direito das mulheres se sobreporem a dos homens conservadores brancos. No mínimo incitar a discussão, mesmo que seja nos jornais.

E mais: temos (ou tínhamos?) uma das nossas lá no poder, no cargo mais importante, pela primeira vez. Era a chance de transformar a maneira como os homens do poder enxergam a agenda feminista. O desejo fica ainda mais evidente agora que gente viu que Hillary não vai fugir do assunto na campanha, por mais espinhoso que pareça para uma sociedade conservadora.

Afinal, se não forem elas, quem irá nos defender?

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