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A Revolução dos Bichos, o Holodomor e o Sonho de Lennon

Nos anos 1930, a Ucrânia era o grande celeiro de grãos da URSS, e o regime stalinista desviou a produção agrícola para os soviéticos

Diretor-superintendente do Sebrae-DF, Valdir Oliveira, dá orientações a quem pretende empreender

atualizado

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Vyacheslav Madiyevskyy/Ukrinform/NurPhoto via Getty Images
Guerra ucrania Missil
1 de 1 Guerra ucrania Missil - Foto: Vyacheslav Madiyevskyy/Ukrinform/NurPhoto via Getty Images

O leste europeu voltou a ser pauta mundial. A recente invasão do território ucraniano pela Rússia trouxe o medo do conflito bélico para a humanidade e reacendeu o debate sobre a Guerra Fria.

Nos anos 1920 e 1930, o ditador Josef Stálin conduzia a União Soviética com mão de ferro, instalando um regime de terror que, entre outras coisas, promoveu a coletivização forçada da agricultura, principalmente na Ucrânia. Foi o ápice do totalitarismo soviético.

Holodomor, em ucraniano, significa “deixar morrer de fome”. No início dos anos 1930, a Ucrânia era o grande celeiro de grãos da União Soviética e o regime stalinista desviou a produção agrícola para promover a industrialização acelerada da União Soviética, deixando os camponeses morrer de fome.

Com a censura imposta pelo Kremlin, o Holodomor não teve a mesma condenação mundial do Holocausto, o extermínio de judeus pelos nazistas na II Guerra, apesar de ter matado milhões de ucranianos de fome.

Esses dias assisti ao filme A Sombra de Stálin, uma produção que está na plataforma Netflix. Baseado em fatos reais, o filme retrata a história de um jornalista galês Gareth Jones, que, sem compreender como a União Soviética crescia no período mundial de depressão econômica, resolveu visitá-la para entender o que se passava.

E ele descobriu que a origem dessa riqueza vinha da Ucrânia.

A Revolução Bolchevique de 1917 inspirou o escritor inglês George Orwell a escrever o clássico A Revolução dos Bichos, em que mostra uma rebelião dos bichos contra a exploração dos humanos em uma fazenda. Orwell transformou em fábula a crítica da transformação do sonho de igualdade da revolução soviética em pesadelo de opressão do stalinismo.

Como na realidade, na revolução dos bichos o poder se impõe à utopia revolucionária e os animais passam a agir como os humanos. Quando os porcos assumem a liderança da fazenda, buscam privilégios e mudam sua concepção de igualdade, agindo como os humanos que foram depostos.

“Todos os bichos são iguais, mas alguns são mais iguais que outros”: esta frase resume a fábula de George Orwell, publicada em 1948, mas ainda muito atual.

Revolução musical

Há 51 anos, John Lennon, um beatle que revolucionou o mundo com seus acordes e suas canções, fez uma apologia à paz mundial. Vivendo o impacto da Guerra do Vietnã, Lennon, inspirado no amor, cantou o sonho de promover a paz entre os povos.

Imagine é mais que uma melodia nostálgica; é um convite para a humanidade refletir sobre a possibilidade de um mundo onde não exista motivos para matar ou para morrer, como na guerra.

O sofrimento vivido na Guerra do Vietnã levou Lennon a construir um sonho em forma de música que se tornou um hino da paz mundial. Lennon e Yoko, o casal de artistas revolucionários, fazem um convite a humanidade por meio da famosa frase “make love, not war” (faça amor, não faça a guerra).

Os primeiros acordes do piano da música Imagine nos fazem viajar em um mundo em que a fábula de Orwell nos levaria a um desfecho diferente, onde o amor seria o condutor da igualdade entre todos os humanos. A sátira à utopia seria compreendida na imperfeição traduzida em amor.

A guerra instalada entre Rússia e Ucrânia está tendo reflexos em todo o mundo. Caminhamos para consequências econômicas, políticas e sociais que impactarão todas as nações. Nenhuma guerra é justificada ou pode ser defendida.

Contra a humanidade

A invasão de um território soberano e as mortes causadas são reprováveis, para quem se considera civilizado. O sonho de John Lennon é a esperança de todos nós. A sátira à utopia feita por George Worell é a eterna busca pelo sonho de um mundo melhor.

Nenhum regime que imponha a restrição da liberdade e a fome, como o Holodomor, pode ser aceito pela humanidade.

Os fins não justificam os meios. Está na hora de a humanidade provar sua evolução. Não existem inocentes nesta guerra, muito menos vencedores e derrotados. Nenhuma imposição se sobrepõe a um diálogo e uma construção de todos.

Construir um mundo mais justo é incorporar a nossa imperfeição e buscar a liberdade como fiscal de nossa própria consciência. Não será pelo ódio que iremos combater a opressão retratada na Revolução dos Bichos.

Apenas o amor nos fará compreender que nossas diferenças nunca nos farão iguais, mas podem nos tornar solidários em um sonho de paz no mundo.

  • Valdir Oliveira é superintendente do Sebrae no DF

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