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A segunda pele da artista plástica Capra Maia

A artista conversar sobre o atual momento de sua pesquisa

atualizado

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Bernardo Scartezini/Especial para o Metrópoles
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1 de 1 foto-de-abre19 - Foto: Bernardo Scartezini/Especial para o Metrópoles

Estes têm sido dias puxados para Capra Maia. Ao mesmo tempo em que deixava de pé uma exposição individual n’A Pilastra, a artista brasiliense vivia sob a expectativa da seleção para o II Prêmio Vera Brant de Arte Contemporânea.

Pele Pedra Pó, a exposição n’A Pilastra, Guará II, tem neste sábado (2/3) o seu último dia para visitações. E Capra Maia, desde a última terça-feira, participa da residência artística de três semanas promovida pelo Prêmio Vera Brant na Casa Niemeyer, Park Way.

A pedido da coluna Plástica, a artista deu uma ligeira escapulida do Park Way, na manhã de quarta-feira, para vir ao Guará conversar sobre o atual momento de sua pesquisa artística. Nessa conversa, percorremos A Pilastra para melhor entender um interesse que parte da pintura para ganhar diferentes formatos e assumir variados materiais.

Capra Maia conta que foi o próprio processo como pintora que lhe apresentou as atuais possibilidades. O que se vê em Pele Pedra Pó, portanto, pode ser entendido como desdobramentos de eventos que remontam ao final de 2014.

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No seu ateliê de pintura, no Lago Norte, no fundo da casa de seus pais, Capra Maia tinha começado a trabalhar com novas formas de pigmentos, fazendo exercícios para além das usuais tintas óleo e acrílica. Passou a trabalhar com materiais mais afeitos à construção civil do que às belas artes – como

betume (usado como impermeabilizador) e pó de mármore (utilizado para texturas de paredes).

Capra Maia primeiro agia sobre a tela, fora de chassi, deitada diretamente sobre uma mesa. Em seguida, levava a tela para o lado de fora do ateliê, deixando o trabalho ao ar livre, para que sofresse a ação do tempo – sol, chuva, poeira.

“O pó de mármore é bastante pesado, a tela fica também pesada. Ao carregar no braço essas telas para o lado de fora do ateliê, eu tinha uma ideia muito clara de corpo. Sentia aquelas telas como se fossem corpos. Por causa do peso delas e também pelo aspecto visual. As texturas das pinturas que eu estava fazendo me lembravam peles.”

Se pensarmos na pintura como uma pele, então os corpos que esta pele reveste não precisam necessariamente ter formato de tela – uma pele pode revestir qualquer objeto. E o visitante que entra n’A Pilastra para a exposição Pele Pedra Pó já de imediato entende as implicações desse pensamento.

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A mesa do ateliê de Capra Maia, a estante em que guarda suas ferramentas diárias do trabalho como pintora, o banquinho em que se senta, os cavaletes e até os baldes de tinta. Seus objetos mais prosaicos foram parar aqui n’A Pilastra porque se transformaram – eles também – em suporte para pintura – no caso, suporte para o pó de mármore – e para a poeira do tempo.

A sala d’A Pilastra assim se revela como uma única instalação, da qual as pinturas mais convencionalmente aceitas como tal (ou seja, as telas) também fazem parte. Capra Maia se derrama ainda pelo corredor, ocupando outras duas salas. Numa delas, o interesse da artista pela história de seu ofício ganha corpo em diferentes referências e filiações.

Uma tela remete à mitológica Medusa, devidamente decapitada, conforme o barroco Peter Paul Rubens (1577-1640). Ao lado dela, um estojo de feltro guarda alguns dos materiais nada convencionais usados por Joseph Beuys (1921-1986). Sobre uma mesinha, devidamente coberta por pó de mármore, um comprido corte de tecido vale como aceno às obras moles de Lygia Clark (1920-1988).

Na outra sala, batizada como Curtume, as similaridades pele/pedra/pó retornam nas peças da série Entropia, ocupando a parede ao fundo, em que a artista traz telas expostas ao relento e marcadas por toda sorte de intervenções. Neste Curtume, o couro fica por conta dos animais pintados por Capra Maia – e as cabras, ela admite, podem ser entendidas como autorrepresentação.

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Pele Pedra Pó tem curadoria de Marco Antônio Vieira. Capra Maia conta que eles se conheceram ainda na década passada, quando ela foi aluna dele no curso de Design de Moda do Iesb. Depois de anos sem se verem, se reencontraram novamente em ambiente acadêmico. Desta feita, em torno de outro interesse em comum, dentro do Instituto de Artes da Universidade de Brasília (UnB).

Foi Marco Antônio Vieira que bateu n’A Pilastra, no final do ano passado, para conhecer o espaço expositivo. Mateus Lucena, proprietário da galeria, lembra daquela visita e conta que o curador já estava pensando em organizar uma mostra de Capra Maia.

Nenhum dos envolvidos, no entanto, imaginava que o ambiente da casa abrigasse tão harmoniosamente a obra da artista. A textura e as cores das paredes e do piso d’A Pilastra encaixaram-se na paleta de cor de Capra Maia, uma artista que trabalha com branco, bege, dourado, marrom e preto. “Parece até que houve uma cenografia, não é?”, brinca Mateus.

Esta é a segunda individual de Capra Maia. A primeira, em meados de 2017, foi montada na Galeria da UnB (406 Norte), sob o nome de O Tempo Criador.

Bernardo Scartezini/Especial para o Metrópoles
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