ONU retoma assembleia emergencial que discute punição à Rússia
Nesta terça-feira (1°/3), a sessão será retomada com a manifestação do Paraguai. Embaixador dos Estados Unidos também fará discurso
atualizado

A Organização das Nações Unidas (ONU) retoma, nesta terça-feira (1º/3), a rara Assembleia Geral de emergência convocada para discutir possíveis punições contra a Rússia pela invasão e bombardeios à Ucrânia.
Com 110 países inscritos para discursarem, o encontro parou na 45ª fala na noite de segunda-feira (28/2). O embaixador do Chile foi o último a dar declarações.
Nesta terça-feira, a sessão será retomada com a manifestação do Paraguai. O embaixador dos Estados Unidos será o 102º a subir ao púlpito.
A Ucrânia vive o sexto dia de ataques. Kiev, capital e coração do poder, e Kharkiv, segunda maior cidade ucraniana, estão sob fortes bombardeios. Civis foram alvejados por tropas russas.
Os representantes diplomáticos se reuniram durante a segunda-feira na sede da ONU, em Nova York, após um revés contra a Rússia no Conselho de Segurança.

Apesar de existirem diversas organizações internacionais, algumas se destacam pela importância geopolítica. A ONU, Otan, OEA, FMI, OMC e o Banco Mundial são exemplos. Conheça mais sobre algumas das principais siglas globais a seguir NurPhoto/ Getty Images

Criada no fim da 2ª Guerra Mundial, a Organização das Nações Unidas (ONU) é considerada o organismo internacional mais importante da atualidade. Constituída por 193 países membros e sediada em Nova York, nos EUA, a ONU detém, aproximadamente, orçamento de 6 bilhões de dólares e tem como principal objetivo manter a paz entre as nações Stefan Cristian Cioata/ Getty Images

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A Organização dos Estados Americanos (OEA) é composta por 35 países localizados no continente americano. Tem como objetivo garantir a segurança e a paz no continente, promover a democracia, assegurar os direitos humanos e fortalecer a cooperação entre os povos APHOTOGRAFIA/ Getty Images

O Fundo Monetário Internacional (FMI) é uma instituição financeira que funciona como um banco que fornece empréstimos a países que o solicitam. Criada em 1944, hoje é composta por 188 países e o orçamento do FMI vem dos próprios membros. A lógica é: quanto mais contribuem, maior é o poder de decisão SOPA Images / Getty Images

A Organização Mundial de Saúde (OMS), agência especializada das Nações Unidas, foi criada em 1948 e tem como objetivo elaborar padrões internacionais na área da saúde e incentivar a cooperação entre os países. Composta por 194 países membros, a OMS tem mais de 150 escritórios espalhados pelo mundo e a sede está localizada em Genebra NurPhoto/ Getty Images

Banco Mundial é uma instituição financeira vinculada à ONU e que possui autonomia própria. Inicialmente criada com o objetivo de conceder empréstimos a países da Europa devastados pela 2ª Guerra, atualmente tem como finalidade realizar empréstimos a países da América, da África e da Ásia Divulgação

Fundada em 1995, a Organização Mundial do Comércio (OMC) é uma instituição que tem como objetivo promover a liberalização mundial do comércio e impedir que uma nação imponha elevadas tarifas para produtos estrangeiros a fim de favorecer a indústria local. É formada por 164 países membros e é o organismo que funciona como instância máxima para julgar questões entre os Estados Westend61/ Getty Images

Composta por 38 nações, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é uma instituição criada com o objetivo de incentivar o desenvolvimento econômico dos países membros e o comércio mundial William STEVENS / Getty Images

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) é uma instituição que tem como função fiscalizar, regulamentar e avaliar as relações de trabalho existentes no mundo. É composta por 185 países, representantes sindicais, trabalhistas e empresas empregadoras SOPA Images / Getty Images
Ucrânia e Rússia trocam acusações
O embaixador da Ucrânia na ONU, Sergiy Kyslytsya, acusou a Rússia de cometer crimes de guerra durante os combates. Segundo ele, civis, hospitais, escolas, orfanatos e até ambulâncias foram alvos das tropas russas.
“Os conflitos têm paralelos que podem ser feitos com a 2ª Guerra Mundial. A Rússia comete crimes de guerra”, afirmou o diplomata ucraniano. Segundo ele, são ao menos 5 mil mortos, entre civis e soldados.
Kyslytsya afirmou que a ONU precisa conter a ações de Putin. “Temos que exigir que as forças russas saiam imediatamente da Ucrânia”, argumentou. “O momento de agir é agora. Se a Ucrânia não sobreviver, a paz mundial não sobreviverá. Não se iludam”, acrescentou.
O embaixador pediu também a punição de Belarus. O país comandado pelo ditador Aleksandr Lukashenko também fez ataques à Ucrânia e cedeu a fronteira para a invasão russa.
Rússia tem outro prisma
O embaixador da Rússia na ONU, Vasily Nebenzya, falou logo após o diplomata ucraniano. Ele rebateu as falas do homólogo, defendeu o prisma russo da situação e disse que há uma guerra de informação contra o país.
Segundo ele, o conflito começou após “sabotagens” ucranianas a acordos entre os dois países. “A Ucrânia está pedindo sua adesão à Otan rompendo [leis da ONU] e colocando a Rússia em risco”, resumiu. Ele acrescentou: “A operação da Rússia exerce o direito pela autodefesa.”
Para Nebenzya, o “Ocidente tem incitado os ucranianos”. “Pedidos que a Ucrânia não entrasse na Otan. Estendemos a nossa mão, mas fomos ignorados”, reclamou.

Fumaça é vista subindo por trás de edifícios após bombardeios, em 27 de fevereiro de 2022, em Kiev, Ucrânia. Explosões e tiros foram relatados em torno da capital do país. A invasão da Ucrânia pela Rússia, que matou dezenas de pessoas e é amplamente condenada por líderes americanos e europeus, continua Pierre Crom/Getty Images

O mais jovem membro do parlamento ucraniano, Sviatoslav Yurash, de 26 anos, é visto armado para defender seu país, quando os ataques da Rússia à Ucrânia entraram no quarto dia. Kiev, Ucrânia, em 27 de fevereiro de 2022 Aytac Unal/Agência Anadolu via Getty Images

Uma visão dos danos causados pelo conflito armado entre Rússia e Ucrânia. Imagem mostra a região de Donetsk, no leste da Ucrânia, sob o controle de separatistas pró-russos, em 27 de fevereiro de 2022 Leon Klein/Agência Anadolu via Getty Images

Militares ucranianos patrulham durante um toque de recolher. Forças russas continuam avançando no terceiro dia em Kiev, Ucrânia, em 27 de fevereiro de 2022 Aytac Unal/Agência Anadolu via Getty Images

Militares ucranianos patrulham durante um toque de recolher. Forças russas continuam avançando no terceiro dia em Kiev, Ucrânia, em 27 de fevereiro de 2022 Aytac Unal/Agência Anadolu via Getty Images
Ele desmentiu o embaixador ucraniano. “Forças russas não estão atacando áreas civis. A infraestrutura ucraniana não está sendo atacada”, salientou.
O diplomata justificou o veto à resolução do Conselho de Segurança. “É um documento não equilibrado. Votamos contra por um artigo que defendemos não ter sido colocado [no texto]”, justificou.
Apesar de aumentar as tropas, bombardeios e ameaçar usar “força nuclear”, a Rússia defendeu uma solução pacífica com intermédio da ONU. “Pode ter papel para solucionar conflitos”, afirmou.
Líderes defendem paz
O entendimento dos chefes da entidade é de que o conflito fere a lei internacional. Abdulla Shahid, presidente da Assembleia Geral da ONU, defendeu um cessar-fogo imediato. “Temos que parar a guerra imediatamente”, frisou. Segundo ele, a negociação de um cessar-fogo é “uma janela de diálogo, uma sombra de esperança”. “Temos que dar uma oportunidade para a paz. Armas são melhores quando não são usadas.”
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, lamentou o momento que a Ucrânia tem vivido, com civis como alvos. “Essa situação é completamente inaceitável. Os soldados devem sair das trincheiras e os líderes buscarem a paz”, defendeu.
Ele acrescentou: “Estamos encarando na Ucrânia uma tragédia. Colocar forças nucleares é repulgnante. Nada deve justifica um conflito nuclear”, condenou. Guterres agradeceu os países que acolheram refugiados.
A sessão emergencial foi aprovada pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). A movimentação político-diplomática é uma represália após uma resolução que exigia a retirada imediata das tropas russas do território ucraniano ser vetada por causa de somente um voto contra que veio justamente da Rússia.
A Assembleia Geral das Nações Unidas conta com 193 membros e não existe direito a veto.
A Rússia e a Ucrânia vivem um embate por causa da possível adesão ucraniana à Otan, entidade militar liderada pelos Estados Unidos. Na prática, Moscou vê a possível entrada do vizinho na organização como uma ameaça à sua segurança. Os laços entre Rússia, Belarus e Ucrânia existem desde antes da criação da União Soviética (1922-1991).

O Brasil
O embaixador do Brasil na ONU, Ronaldo Costa Filho, não assumiu um postura agressiva contra a Rússia, mas defendeu o fim dos conflitos.
Costa Filho foi enfático: “Ainda há tempo de parar a guerra. Reiteramos nosso pedido para um cessar-fogo imediato”, frisou. O embaixador acrescentou: “Há uma intensificação rápida [dos ataques], que coloca toda a humanidade em risco”.
“Precisamos de medidas para nos salvar da guerra. Precisamos ser cautelosos na Assembleia. Há uma série de eventos que, se não forem contidos, nos levaram ao um contexto mais grave. Essa situação não justifica o uso de força contra a soberania”, salientou.
A Assembleia Geral é o principal órgão deliberativo, político e representativo das Nações Unidas. Tem como principal função discutir o direito internacional. Reúne-se anualmente, entre setembro e dezembro, na sede das Nações Unidas em Nova Iorque.
É função do encontro tomar medidas em casos de ameaça ou violação da paz ou ato de agressão, na eventualidade do Conselho de Segurança ficar impedido de agir devido ao voto negativo de um membro permanente — foi o que aconteceu com o veto da Rússia. Nesses casos, a Assembleia pode analisar o assunto imediatamente e recomendar medidas coletivas para manter ou restaurar a paz e segurança internacionais.
Punição vetada
Para aprovar a resolução eram necessários ao menos nove votos. O texto conseguiu o apoio de 11 nações — inclusive do Brasil. Contudo, a Rússia votou contra e vetou a medida. China, Emirados Árabes Unidos e Índia se abstiveram.
O Conselho de Segurança é composto por 15 nações, sendo cinco permanentes. Por ser membro permanente, a Rússia tem poder de veto. O país também exerce a presidência do órgão neste momento.