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Maternidade e política têm tudo a ver

O que poderia ser mais importante do que educar os cidadãos do futuro, com responsabilidade e afeto?

atualizado

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Women Female Feminism Lady Madam Friends Concept
1 de 1 Women Female Feminism Lady Madam Friends Concept - Foto: iStock

Dia desses, em um grupo de mães no Whatsapp, uma mulher pediu às amigas virtuais que, por favor, parassem de enviar mensagens sobre a marcha do #EleNão. Não era por falta de concordância com o pleito das manifestantes, mas aquele grupo, sempre tão sensível e acolhedor – onde mais a gente fala sobre noites maldormidas, angústias da escolha de uma escola, desfralde, birras, etc.? –, não podia ser, também, contaminado pela política.

Fazia sentido o apelo daquela mãe. Mas eis que, do pedido, surgiu um debate pra lá de interessante sobre como a política está presente em todos os momentos da vida – e, na maternidade, mais ainda. Quer ver só?

Quando falamos em acesso ao pré-natal e a informações que permitam à mulher ter um parto respeitoso, não violento, estamos falando de políticas públicas de Estado. Promoção do aleitamento materno e cobertura vacinal, idem. Se hoje existem bancos de leite e vacinas gratuitas para todas as crianças, é porque o Sistema Único de Saúde (SUS) funciona. É importante saber o que os candidatos planejam sobre essas coisas, que afetam, inclusive, as famílias assistidas por um plano de saúde.

Com nossos pequenos a tiracolo, surgem outras inúmeras questões. Se temos a sorte de ter uma licença-maternidade remunerada, é porque (ainda) existe uma legislação trabalhista. Na volta ao trabalho, com quem vamos deixar o bebê? O acesso de crianças de 0 a 3 anos a creches públicas ainda é insuficiente: há vagas para apenas 32% delas.

Se não há onde deixar a criança pequena, quem fica com ela em casa? Naturalmente, a mãe – ou a avó ou uma tia. Mesmo que você tenha condições de pagar alguém para cuidar do seu filho, essa pessoa será, obviamente, outra mulher. Ou seja, no Brasil, a responsabilidade pelo cuidado recai unicamente sobre nós, tanto no caso da primeira infância quanto na velhice. Quantos homens você conhece que deixam seu trabalho para cuidar de suas mães doentes?

O reflexo disso é que nós exercemos atividades extremamente cansativas, que exigem competências diversas, absolutamente de graça e sem o devido reconhecimento social.

O que poderia ser mais importante do que educar os cidadãos do futuro, com responsabilidade e afeto?

É por isso que a tão necessária e quase inexistente discussão sobre a ampliação da licença-paternidade é tão importante – e deve ser promovida pelos agentes públicos. Somente com uma divisão mais igualitária da responsabilidade sobre as crianças poderemos ter mais igualdade em relação aos homens.

Não à toa, nós, mulheres, ainda somos as que mais sofrem com o desemprego. No ano passado, a taxa de desocupação entre eles foi de 10,5%; entre nós, 13,4%. Somos preteridas pelo simples fato de que podemos engravidar. Pela mesma razão há tão poucas de nós em cargos de chefia – nos setores público e privado. Nossa sociedade, infelizmente, ignora o potencial das mulheres mães.

Mudar “issodaí” depende de muita coisa, mas, certamente, de política pública e vontade política. O seu candidato está preocupado com isso?

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