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Culinária e gastronomia: a cozinha indiana na opinião de chefs

O Metrópoles conversou com um chef indiano e uma chef brasileira para descobrir o que o brasiliense acha desse sabor

atualizado

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Brasília (DF), 13/04/2017 Novos indianos da cidade – Indian Ho
1 de 1 Brasília (DF), 13/04/2017 Novos indianos da cidade – Indian Ho - Foto: null

Economia e gastronomia são como garfo e faca: estão sempre juntos. E, no caso de uma cozinha milenar como a indiana, essa união se torna ainda mais importante diante da relação cultural que a culinária do país traz cada vez que um restaurante abre tendo o curry entre seus principais ingredientes.

Mas existe alguma diferença entre uma casa aberta em Brasília por um indiano nativo e um brasileiro? O Metrópoles conversou com dois chefs de casas brasilienses — Nicole Magalhães, do PiauÍndia, e Deepak Raykwar, do Indian House — para entender melhor de que forma essa culinária é aceita na cidade e quais são as adaptações e detalhes que tornam as comidas feitas aqui parte dessa tradição.

Mercado

Foram poucos os incentivos que Nicole Magalhães recebeu para abrir um restaurante indiano em Brasília, mesmo com a formação do marido, que também é chef, e o desejo de conhecimentos ayurveda para alimentar os filhos.

Um dos principais motivos era a distância do primeiro imóvel onde o PiauÍndia funcionou do centro da cidade. “Venho do mercado publicitário e senti a necessidade de me qualificar para melhor entender o mercado da gastronomia. Ao final, deu mais que certo. Abríamos somente nos finais de semana, mediante reserva, e recebíamos 60 pessoas a cada sábado e domingo”, lembra.

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A mudança para a Vila Planalto foi baseada na procura do público após o sucesso inicial. “Em  2015, o Brasil entrou no olho do furacão da crise e vi a chance de levar um produto de oportunidade em tempos de crise. O que deu certo e nos mantém”, garante.

Deepak fez uma mudança ainda maior. Ainda que trabalhasse com produtos de seu país — ele vendia roupas de lá —, escolheu ouvir as reclamações dos clientes sobre a falta de um restaurante indiano autêntico e decidiu investir.

“Um amigo disse que os brasileiros não comem o autêntico porque os temperos são fortes. Mas meus clientes diziam o contrário”. O empreendimento nasceu dessa procura.

Brasília e comida indiana

Poucas cozinhas são mais internacionais que a indiana, mas ela ainda não é tão difundida no Brasil. Isso traz dificuldades e facilidades para os chefs. “Este é um reflexo da nossa própria história: não temos colonização de indianos no Brasil”, afirma Nicole Magalhães. Assim, ela afirma que a procura do brasiliense é, em sua maioria, por curiosidade ou por querer lembrar de experiências tidas em outros países.

A afirmação é reforçada por Deepak. Por sorte, segundo o chef, esse interesse é facilmente renovado. Ou seja, a clientela tende a ser fiel, retornando sempre. “O brasiliense sempre é curioso de saber o que vai no prato dele e quer mais”.

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Concorrência

A concorrência não é um problema para nenhum dos dois profissionais. Nicole é tão entusiasta da gastronomia indiana que chega desejar que as casas se multipliquem. “Falo para todos os meus amigos que rezo para ter 38 restaurantes indianos em Brasília, pois amo as masalas, os currys e os aromas desta cozinha. Quanto maior o número de serviços ofertados, maior a aceitação do público.”

Deepak tem como trunfo suas origens. Dessa forma, ele crê ser possível oferecer um cardápio mais próximo do que é servido no país asiático, garantindo a fidelidade da clientela. “Somos os únicos a servir comida indiana bem autêntica e isso atrai mais gente.”

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Insumos:

Ainda que seja mundialmente conhecida, há muita dificuldade em encontrar todos os temperos necessários para moldar a complexidade da comida indiana. “Importo muito. E danço um baile cotidiano para ter tudo no estoque. Exemplo: folha de curry verde, sementes de jöen e de mostarda, galanga, açafrão, cardamomo fresco, entre outras especiarias, que compõem a masala piauindiana com 29 temperos, são comprados em grão”, garante Nicole.

Ter nascido no país asiático deu vantagens para o chef Raykwar. Ele explica que, por conhecer os caminhos da Índia (!), consegue os insumos necessários mais facilmente. “Eles vem direto de lá. Só assim para fazer a comida bem indiana e gostosa.”

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Aceitação

Apesar da fama, ainda há muito exotismo envolvendo a culinária indiana. Mas isso não impede que o paladar brasiliense esteja ficando, cada vez mais, acostumado. “Acredito que a fusão dos sabores dialoga melhor com o paladar do brasileiro. Muitos temperos que estão expostos em nossas gôndolas de supermercado vem da Índia, África e Portugal. Veja a manga e tamarindo, por exemplo, são frutos tipicamente indianos e fazemos pratos deliciosos”, explica Nicole.

Essa aceitação é ainda mais evidente para o nativo Deepak. Mesmo longe de seu país, ele se sente em casa ao perceber a relação do brasiliense com os pratos que cozinha. “Tem muitos que já foram para a Índia, gente que aprendeu na TV com as novelas. Eles respeitam porque a cultura indiana é bem rica, antiga e não só pela comida.”

Serviço:

Piauíndia Restaurante Fusion Indiano
No Acampamento DFL, Rua 5, casa 2A, Vila Planalto. Tel: (61) 3574-4234. De terça a sexta, das 12h às 15h. Sábado até 16h. domingo até 17h. Ambiente interno e externo

Indian House
109 Norte, Bloco A, Loja 70, (61) 3256-7204. Terça a domingo, das 12h à 0h

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