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Wendell Lira vê cenário complicado para os eSports no Brasil

Profissional do Fifa, principal jogo de futebol virtual, o ex-jogador vê os eSports engatinharem no Brasil

atualizado

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Divulgação/Sporting
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1 de 1 Wendell-Lira-Sporting-5 - Foto: Divulgação/Sporting

Profissional do Fifa, principal jogo de futebol virtual, o ex-jogador Wendell Lira ainda vê os eSports engatinharem no Brasil. Contratado pelo Sporting Lisboa, de Portugal, justamente pela falta (ou pouca) de iniciativa de equipes brasileiras, o também YouTuber e streamer de 31 anos analisa o atual cenário, conta um pouco da rotina desde que abandonou os gramados após conquistar o Prêmio Puskas – pelo gol mais bonito de 2015 – e, apesar das dificuldades, revela ter o sonho de ver os esportes eletrônicos nos Jogos Olímpicos.

Como vê o atual cenário dos eSports no Brasil?

Ainda é muito difícil de se entender pela falta de regulamentação. Cada game tem suas próprias regras, um jeito de lidar com o mercado, de seguir o caminho e, por isso, é difícil de falar de outras áreas. Posso falar um pouco mais sobre o Fifa, que já é muito complicado. Não existe uma federação, não existe ninguém para coordenar. O cenário é organizado em algumas áreas e desorganizado em outras.

Enxerga necessidade de uma legislação própria para que o desenvolvimento seja maior?

É algo complicado, que precisa ser debatido. É necessário ouvir principalmente o pessoal das comunidades, os criadores dos jogos, os gamers, para depois entrar em um consenso. A legislação precisa ser benéfica primordialmente para quem joga e depende do game. A partir do momento em que uma área se torna bastante rentável claro que iria se pensar em uma legislação. Vejo necessidade de um caminho correto para se seguir, mas precisa ser benéfica para o cenário dos eSports.

Apesar da ausência de uma legislação própria, o Cruzeiro e outros times brasileiros estão investindo em gamers de futebol virtual. Como vê este movimento?

É tão pouco o que os clubes estão fazendo, mas, ao mesmo tempo, se torna algo grande pelo momento no Brasil. Somos um dos países mais atrasados no cenário dos eSports. Lá fora você já tem torneio entre clubes, entre federações… Eu estive em Portugal recentemente e estava rolando amistosos de Fifa entre portugueses e franceses. O crescimento ainda é muito pequeno. O Cruzeiro tem dois jogadores de Fifa, temos um ou outro clube, mas é pouco para o país do futebol. O Brasil vive e respira futebol. Acho que são ações válidas dos clubes, mas acredito que o único jeito é unir forças, criar uma liga, ter uma federação. Ainda é um cenário muito complicado.

Você, Zezinho, Ebinho, Spider Kong, Tore, Fifilza, Paulo Neto, Brenner… Como vê o investimento de clubes europeus, dos EUA e até do Japão em jogadores brasileiros?

Como lá fora esta questão dos eSports, do competitivo, está muito melhor resolvida, é natural para eles investirem em grandes jogadores e, por isso, eles buscam no Brasil. Aqui encontramos em maior quantidade os melhores jogadores do mundo no Fifa. Infelizmente, como disse anteriormente, aqui ainda estamos engatinhando neste assunto. Os clubes ainda não têm uma dimensão da importância que os eSports podem ter para eles, que é uma maneira de se conectar com os jovens.

Você se aposentou do futebol em 2016 e demorou três anos para assinar um acordo para defender uma equipe profissional. Esperava um caminho tão longo?

Não posso reclamar. Desde que eu deixei os campos e mergulhei no mundo dos games, minha vida melhorou bastante. Tenho feito grandes eventos, coisas que nunca pensei em fazer. A minha escolha foi acertada, foi tudo muito planejado e tudo isso foi fruto de muito trabalho. Estou muito feliz de ter assinado com o Sporting, ter este reconhecimento agora e espero que isso possa seguir por muitos anos.

O salário é muito distante do que você recebia como jogador de futebol?

Como eu era jogador, todos têm uma ideia muito errada sobre salário. A maioria (dos jogadores de futebol) recebe muito pouco, um salário que mal dá para sobreviver, para sustentar sua família. Tem quase quatro anos que deixei o futebol (se aposentou em julho de 2016), dependo do meu trabalho, sou o dono da minha empresa, faço os meus horários, agendo os meus trabalhos, me programo e negocio os meus contratos. Hoje não tenho apenas um canal para o meu ganho financeiro. Tenho o YouTube, faço palestras, participo de eventos. A parte financeira não tem nem comparação. É muito melhor do que antes. Sem contar que hoje faço o que amo. Juntei o útil ao agradável.

Sua rotina de treinos mudou após o acerto com o Sporting?

Não, costumo jogar cinco, seis horas de Fifa por dia, também faço streaming na Twitch, os vídeos para o canal (no YouTube). Tudo isso foi acordado com o Sporting. Eles não querem apenas o jogador de Fifa, eles queriam alguém que pudesse fazer esta ligação entre Brasil e Portugal.

Você se vê entre os melhores do mundo no Fifa em breve?

Claro que eu sonho, treino para isso, mas não é um objetivo primordial que eu tenho. Quero consolidar minha marca no mercado. Tem o canal no YouTube, lives na Twitch, e isso me faz crescer cada vez mais. Mas claro que quero participar de torneios e ganhar o Mundial de Fifa seria um momento mágico para mim.

Então pretende continuar conciliando o competitivo de Fifa com os canais no YouTube e na Twitch?

Não tem como separar o competitivo do canal. Eu vivo isso, respiro isso, tenho o meu público. Gosto de gravar vídeos e de fazer lives. Eu consigo conciliar os três. Não sei qual vai garantir meu sustento lá na frente, mas vou trabalhar para seguir forte na Twitch, postar meus vídeos no YouTube e, claro, participar de alguns torneio do competitivo de Fifa.

A premiação inferior em comparação aos outros eSports, como LOL (League of Legends), COD (Call of Duty), Fortnite, Free Fire, Counter-Strike, poderia ser um pouco melhor, principalmente pelo lucro da EA todos os anos com o game?

Como cada jogo tem o seu regulamento, faz o torneio do jeito que considera melhor, é difícil falar se é certo ou errado. Se você se basear nos outros jogos é uma premiação muita alta em relação ao Fifa. Tenho certeza que a EA já deve estar trabalhando para melhorar nos próximos anos esta questão da premiação.

Acredita que os eSports pode entrar no programa dos Jogos Olímpicos?

Tem potencial, mas acho complicado, porque não é uma questão de ser bom ou ruim, entram muitos fatores que fogem até da nossa alçada para opinar. Mas tenho o sonho de ver os eSports nos Jogos Olímpicos, até porque é modernidade. Fui atleta de alto rendimento, sei como os eSports exigem bastante de você, fisicamente e psicologicamente. Seria muito bacana vê-lo nos Jogos Olímpicos.

Por fim, após quatro anos, qual foi a importância de ter conquistado o prêmio Puskas na sua vida?

Foi um presente que Deus me deu, uma mudança na minha vida, foi um milagre que aconteceu depois de tudo que passei. Me tornar um YouTuber, um influenciador, nunca pensei que fosse cobrir uma Copa do Mundo na Rússia, que iria palestrar para o presidente da Fifa, para o presidente de Portugal, nunca pensei que pudesse fazer comerciais para a Nike, ser embaixador da Coca-Cola… O Puskas foi o pontapé inicial para esta mudança de vida. Eu agradeço todos os dias pelas pessoas que votaram e transformaram em realidade o que vivo hoje.

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