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Principais programas da TV aberta perdem até 29% de audiência no DF

Globo, Band, SBT e Rede TV! têm visto os números do Ibope encolherem este ano. Record TV foi a única emissora que cresceu

atualizado

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Reprodução/TV Globo
Alexandre Nero como José Alfredo
1 de 1 Alexandre Nero como José Alfredo - Foto: Reprodução/TV Globo

A televisão aberta tem enfrentado uma constante redução no número de telespectadores – fenômeno impulsionado pelo surgimento de novos canais de informação e de entretenimento. Líder no segmento, a Globo é uma das que mais perdeu. O desgaste fica claro ao se analisar os dados de audiência das novelas, carro-chefe da programação, e dos telejornais exibidos à noite, no que se convencionou chamar de horário nobre.

No ranking do Distrito Federal, que representa uma das maiores quedas entre os 15 mercados aferidos pelo Kantar Ibope, Pega Pega, exibida às 19h, registrou 18,5 pontos na semana entre 30 de agosto e 5 de setembro. No mesmo período de 2020, Totalmente Demais, que ocupava a faixa, havia feito 26,2. Trata-se de uma redução de 29,3% ou de 7,7 pontos percentuais. Para efeitos de comparação, o desempenho da trama protagonizada por Marina Ruy Barbosa é semelhante ao Vale a Pena Ver de Novo de 2020, programa com pior audiência, entre os exibidos de segunda a sexta-feira.

Império, reprise transmitida atualmente às 21h, também amargou um prejuízo considerável na capital federal, comparada à Fina Estampa – as novelas são as atrações mais vistas da emissora. O atual folhetim marcou 23,1 pontos, de 30 de agosto a 5 de setembro. Sua antecessora, no mesmo período de 2020, registrou 26,5 pontos, uma redução de 12,8% ou de 5,1 pontos percentuais na audiência em um ano e 1,5 ponto percentual abaixo do consolidado dos 15 mercados analisados pelo instituto de pesquisa. Trata-se de uma dos piores perfomances da empresa na década. Cada ponto no DF representa 9.634 domicílios e 27.337 indivíduos.

O jornalismo da emissora carioca também tem se deparado com uma audiência cada vez menos interessada em seu conteúdo. No período analisado, o Jornal Nacional perdeu 4,3 pontos percentuais de audiência de segunda a sexta-feira do Distrito Federal. Foram 25,8 pontos em 2020 e 21,5 este ano, uma redução de 16,6%. A medição mostra ainda que o DFTV2, telejornal local exibido entre duas novelas (a das 18h e a das 19h), registrou 3,7 pontos percentuais a menos, indo de 23,9 pontos para 20,2 pontos — desempenho 15% inferior.

Na Grande São Paulo, praça de audiência usada como parâmetro para boa parte do mercado publicitário, os resultados foram semelhantes aos registrados na capital federal. Fina Estampa bateu 34,9 pontos contra 29,4 de Império (queda de 15,7%); Totalmente Demais fez 30,7 pontos contra 23,2 (redução de 24,4%); e o Jornal Nacional caiu 4,6 pontos na audiência ou 14,7% — indo de 31,1 a 26,5.

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A baixa no número de telespectadores é uma realidade compartilhada com SBT, Band e RedeTV!.  Todas apresentaram queda em as suas principais atrações, com exceção do Jornal da Band, que avançou 0,3 pontos percentuais na disputa pela preferência do público.

Já a RedeTV!, dos grupos Amilcare Dallevo e Marcelo de Carvalho, teve o pior resultado, com parte da programação alcançando menos de 1 ponto de audiência.  Os melhores índices são de João Kleber Show, que marcou 1,1 ponto no DF (apenas 0,1 ponto percentual a menos que em 2020), Operação de Risco, programa policial que registrou 3,3 na audiência do ano passado, viu sua audiência encolher para 1,7 ponto, a A Tarde é Sua ficou com 1,3 ponto e o Super Pop, com 1,4.

O único canal que mantém uma média segura de audiência, em meio às mudanças impostas à TV aberta pelo crescimento do streaming, é a Record TV.  Apostando na teledramaturgia focada, principalmente, em novelas bíblicas, a emissora paulista conseguiu um resultado superior em praticamente todas as suas atrações. Gênesis cresceu 4,3 pontos percentuais no DF em relação a Jesus – novela exibida de 30 de agosto a 5 de setembro de 2020 – indo de 5 pontos a 9,3. O crescimento foi de 80%.

Na programação jornalística, o Domingo Espetacular avançou 0,3 ponto percentual, e o Jornal da Record perdeu 0,4 ponto percentual — menor queda entre as principais emissoras.

Causas

Para Tânia Montoro, professora da Universidade de Brasília (UnB) e pós-doutora em comunicação social, a baixa qualidade das grades das TVs tem refletido diretamente na queda no interesse dos espectadores. “Não tem como negar que a televisão perdeu o status de formador de opinião. Em quatro anos, esse papel será exercido totalmente pela internet”, opinou.

No caso do telejornalismo, de acordo com a especialista, o enfrentamento direto da Globo ao governo Bolsonaro culminou em uma crise de credibilidade que dividiu a audiência. “É um jornalismo totalmente centralizado no Rio e em São Paulo. O próprio DFTV tem pouquíssimas notícias sobre a Câmara Legislativa do DF, o que foi aprovado, o que deixou de ser. O público sente a falta desse jornalismo mais ativo e regional”.

Segundo a professora, a recuperação da emissora fica ainda mais difícil com a concorrência do streaming, que disputa não só assinantes, mas também os talentos brasileiros. “Os artistas e os profissionais de imprensa têm outras opções para além da TV aberta, como as próprias redes sociais e o YouTube, espaços onde eles têm mais autonomia”, conclui.

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