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Trappers: grupos brasilienses buscam sucesso na nova cena underground

Com o trap crescendo em todo o Brasil, artistas iniciantes da capital tentam colocar a cidade na rota dos grandes centros do estilo

atualizado

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Jaqueline Lisboa/Especial para o Metrópoles
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1 de 1 novinmob - Foto: Jaqueline Lisboa/Especial para o Metrópoles

Travis Scott, Asap Rocky e Post Malone são alguns dos artistas que fizeram o trap (vertente do rap) se popularizar nos Estados Unidos e no mundo. O estilo saiu dos bairros de Atlanta e passou a estar entre as músicas mais escutadas nos EUA em 2018, segundo o Spotify. Se lá o gênero alcançou o mainstream, no Brasil segue parte do cenário underground, mas aos poucos vai conquistando o grande público, e rappers que não estavam acostumados com o estilo já adequam suas letras e rimas aos beats do gênero.

Com o intuito de fortalecer a vertente no Distrito Federal, grupos como NovinMob, Preto&Branco e NonameMob começam a dar seus primeiros passos na busca por reconhecimento.

O trap chegou ao Brasil por meio de artistas de Guarulhos, no estado de São Paulo, como Raffa Moreira (BC Raff), que buscou adaptar a sonoridade e letras do estilo americano em canções sobre questões raciais e do cotidiano nas comunidades.

Hoje, outros rappers, a exemplo de Matuê e o conjunto Recayd Mob, já se consolidaram no cenário nacional e alcançam quase 500 milhões de views somadas em seus canais do YouTube. Nos últimos dias, por exemplo, o lançamento Kenny G, do cearense Matuê, esteve entre as 10 músicas mais tocadas nos charts nacionais. 

O Distrito Federal também tem seus representantes na cena. Mesmo com um estilo quase próprio de se fazer rap, artistas como Hungria Hip-Hop, Tribo da Periferia e Pacificadores usam o trap como ferramenta de seus sucessos. A faixa Beijo com Trap, do Hungria, teve mais de 130 milhões de views no YouTube.

Inspirado nesses nomes, algumas mobs – como são chamados os grupos nos EUA – surgem na capital e almejam firmar o DF entre os principais centros do país. O intuito deles casa com a proposta inicial do ritmo: um som mais caseiro, produzido inteiramente pelos músicos. Com isso, esses conjuntos buscam juntar mc’s, beatmakers e produtores no próprio coletivo para fazer seus sons. Nessa levada, as bandas tentam estourar o gênero na capital. 

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NovinMob 

Jacqueline Lisboa/Metrópoles

Formada no final de 2017, após a junção de dois outros grupos de amigos, a NovinMob já fez alguns shows na capital e acabou chamando atenção de grandes nomes do trap nacional, como Raffa Moreira e Froid – que fizeram músicas com o grupo para o Bomba’s Tape, o primeiro álbum da mob formada por Douglas Ferraz (Negol), Matheus Santos (MT5), João Pedro de Castro (Jotape), Thiago Brandão (SL), Gilmar Dantas (Dantas), Lucas de Carvalho (Blackout), Maicon Roberto (Maicon) e Alan Luís Cunha (Yarp).

“A gente fazia parte de um grupo chamado Banca dos 3seis e a NovinMob surgiu da galera que era mais próxima. O nome veio daquela onda dos Estados Unidos de colocar Lill e Young [termos para jovem em inglês] nos nomes e acabamos decidindo entrar na brincadeira”, conta MT5. 

O grupo formado por jovens entre 19 e 22 anos pensa alto desde o início da formação. “A proposta sempre foi ser grande. Quando me perguntam sobre o que queremos com o rap, falo: ‘quero ser do tamanho do Hungria, ou mais que isso, ser do tamanho de cantor sertanejo e atingir o grande público’. Assim, a gente sai da pegada do trap real [falando de droga e arma] e busca um lance mais voltado para Brasília”, ressalta Negol.

O sonho da mob começou a tomar forma em um show na Festa Drip, acompanhado de nomes em alta na cena, como SidokaAka Rasta. O grupo fez a primeira apresentação depois do lançamento da Bomba’s Tape – que teve o nome criado em alusão ao conhecido sanduíche do Guará – e viram o público cantar as faixas do EP. Segundo eles, esse foi o pontapé na carreira e a primeira vez que se sentiram parte da cena. 

Apesar de abrir alguns shows de outros rappers, os integrantes da mob relatam poucas oportunidades na cena do DF, marcada por poucos shows e baixa divulgação. “Tem uma união restrita entre os grupos. O cenário, em outros estados, é diferente: em São Paulo, por exemplo, tem uns dois eventos de trap por semana, aqui ocorre um por mês e olhe lá”, opina MT5. 

O público aqui é meio parado para o rap em geral, mas aos poucos vai abrindo a cabeça

Negol

A Novin aposta nos feats. para chegar ao reconhecimento nacional. O grupo já tem faixas prontas com trappers em ascensão, por exemplo, Dudu e Yunk Vinno – ainda sem data de lançamento. Para de Me Ensinar, música feita em parceira com Froid, tem mais visualizações no canal da mob no YouTube. 

 

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Preto&Branco

Divulgação

Com uma pegada mais comercial e trazendo a influência de outros gêneros para o trap, o conjunto Preto&Branco, aos poucos, vai conquistando o público brasiliense. Formado pelos amigos Thales Miranda (Zero), Victor Sales (Torvick), Arthur Reis (Puzzo) e Eduardo Rodrigues (Dudu), o grupo já alcançou mais de 3 milhões de views com a música Chuva em Paris, no canal SadStation no YouTube. 

“A grande ideia desde o começo era fazer uma parada livre de qualquer limitação ou preconceito. A gente se libera muito sobre as ideias que queremos transmitir. Cada um suga de uma fonte. Por isso o nome, pois são polos opostos capazes de se complementarem”, explica Zero.

Definindo o som que fazem como algo novo, o grupo aposta na mudança de estilos para se destacar na cena, principalmente em um cenário em crescimento no Brasil. “[Nosso objetivo é] marcar uma geração através de refrãos e ideias marcantes”, promete Zero. 

“A gente quer passar que as pessoas podem ser diferentes, ser quem elas quiserem e, independentemente disso, vão conseguir vencer. Queremos melhorar a autoestima do público” 

Zero

Mesmo em um cenário ainda underground, o trap tem se mostrado importante para as novas gerações e muito disso se deve à mescla com outros gêneros. “Eu sempre fui ‘fanzaço’ de funk, ouvia muito nos meus 12/13 anos. Essa cena atual, com letras sobre dinheiro, carro e mulher é praticamente a mesma coisa que foi o funk ostentação em 2013. Lá no Rio de Janeiro, a galera tem usado bastante do funk na produção das músicas, fora que falam do cotidiano e de marcas brasileiras”, avalia Puzzo. 

O conjunto já teve a oportunidade de abrir um show de Matuê na capital, lembrado por eles como algo inacreditável. “A galera surtou, era tipo assim, umas 2 mil pessoas. Antes do show uma banda se apresentou e acabou deixando o microfone ligado, gerando muita microfonia. A galera, ao invés de criticar, bateu palma e cantou”, relembra Thales. 

O Preto&Branco já possui dois álbuns disponíveis nos seus perfis em canais de streaming e no YouTube: o primeiro T.R.A.P (TrazendoRazõesaosPecados), de 2018, alcançou a marca de quase 8 milhões de streams em outubro. O outro, Isís pt.1, está disponível nos canais digitais de música como Spotify e Deezer. A mais recente faixa, Daxauzin, já bateu a marca de 30 mil views em menos de um mês no Youtube. 

NonameMob 

Jacqueline Lisboa/Metrópoles

Se os outros grupos foram se formando aos poucos, a NonameMob surgiu completamente ao acaso. A mob começou quando um dos integrantes, Cédric, participou de um show numa matinê de Brasília. Lá, viu a oportunidade de chamar os amigos dos tempos de colégio e das batalhas de rima para participarem da apresentação. 

“Convidei um que convidou outro, e por aí foi. Foi tão incrível! Apagamos a atração principal e fizeram fila depois para tirar foto com a gente. Todo mundo ficou meio sem entender o que tava acontecendo”, lembra Cédric. 

O nome também veio “do nada”. Depois do show, o público veio perguntar como a mob se chamava e eles não sabiam o que falar. De tanto responderem a mesma coisa – “ainda não temos nome” – veio a ideia de NonameMob  [sem nome em tradução literal]. O coletivo é formado por Wellington Fideles (Well$), Arthur Cedric (Cedric), William Monteiro (Aggin), João Paulo Cruz (PiaTheKid), Pedro Krause (Krause), Enzo Sousa (BleZ), Daniel Vieira Serrão (Ciro) e Arthur Luz (Tuba).  

O coletivo aos poucos tenta se firmar na cena, fazendo shows em sua maioria nas matinês. A pretensão do grupo é aumentar o número de apresentações na capital e se tornar referência do gênero. “Acho que todo artista almeja ser bem-sucedido com a sua arte. Quero ver meu som tocando nas rádios nacionais e ser reconhecido em qualquer lugar. Mudar minha vida, conseguir tudo que eu nunca pude ter”, conta PiatheKid. 

A Noname continua investindo nas apresentações em matinês e prepara novo show para o restante do ano. Recentemente, eles lançaram a música Fascinei, que chega a quase 3 mil visualizações. O som mais escutado, no YouTube, é PotiDiOuro, com quase 8 mil visualizações.

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