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MC Tha sobre mercado: “A estrutura gira em torno dos mesmos artistas”

A cantora conversou com o Metrópoles, em entrevista no Campão Cultural, e falou também sobre os desafios de artistas racializados na música

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MC Tha
1 de 1 MC Tha - Foto: Foto: Instagram/Reprodução

Talvez você não conheça a MC Tha, mas possivelmente já ouviu a voz dela ao lado de Emicida em Ordem Natural das Coisas. A cantora, que cresceu na periferia de São Paulo, faz coro com o artista no refrão e aveluda trechos como “Dona Maria já se foi, só depois é que o sol nasce. De madrugada é que as aranhas tecem, no breu”. 

A letra que fala sobre sobre o dia a dia de pessoas pobres no estado mais populoso do país, também delineia traços da vida de Thais Dayane da Silva. De jeito tímido e simples, ela ocupou uma banqueta para falar com jornalistas sobre as dificuldades que enfrenta como cantora preta no Brasil depois da passagem de som para seu show no Campão Cultural, em Campo Grande (MS).

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“Para mim é muito importante estar aqui. Recebi muitas mensagens de pessoas que esperavam por isso e veriam o show pela primeira vez. É muito bom ver que minha música chega até aqui também”, disse a cantora. A alegria não é à toa. MC Tha ainda atinge um público pequeno comparado a outros nomes do funk e pop nacional. E ela tem a teoria de que a cultura tem se afunilando cada vez mais, excluindo, assim, artistas com grande potencial. 

“No recorte do pop, por exemplo, parece que existem cinco pessoas no Brasil inteiro que fazem música desse tipo, e elas ficam girando em todas as mídias. Estão sempre as mesmas pessoas. Aí às vezes troca uma ou outra, mas a estrutura gira em torno das mesmas pessoas. E não é uma crítica a elas e sim [um questionamento]: por que em um país tão multicultural a gente não tem mais manifestações de música pop?”

Dificuldades e forças ancestrais

A cantora destaca também as dificuldades do mercado para uma pessoa racializada. De acordo com ela, sempre foi difícil para artistas classificados pela etnia e que se propõem a fazer algo fora dos padrões normativos. “Acho que outros artistas experimentaram na pandemia o que os racializadas passam todo dia. A falta de show, de estrutura, muitas vezes o mercado duvidando do nosso potencial, anulando nossas pesquisas, nossos corpos, a falta de investimentos”, relatou. 

Ela voltou a bater na tecla de que muitos artistas fazem publicidades e são vistos, mas que esse acesso não é comum a todos. “O perrengue começa em ser uma artista que fala do que eu falo e representa o que eu represento.”

Entre as representações de MC Tha traz está a música de terreiro, que ela apresenta no álbum Meu Santo É Forte e no single Rito de Passá. O estilo pouco falado no mercado musical guarda semelhanças com o funk, que foi onde ela começou a cantar aos 14 anos. “Quando estou na rua e passa um carro tocando funk, toca aquele gravão, eu sinto como se acordasse meu ancestral, e sinto a mesma coisa no terreiro. Música por si só é espiritual”, explica.

A cantora chegou a achar que a religião poderia afastá-la da música, mas ocorreu o contrário e hoje ela consegue fazer diversas ligações entre os ritmos. “Tem o comportamento, como a galera do funk comemora os ancestrais inconscientemente. A dança é parecida com as dos guias e orixás. Os fundamentos do funk, em que MCs e DJs falam muito de família, união e prosperidade”, elenca. 

* A repórter viajou a convite da produção do festival Campão Cultural

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