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“I’m Your Man”, biografia de Leonard Cohen, ganha edição no Brasil

Escrito pela jornalista inglesa Sylvie Simmons e lançado originalmente em 2012, o livro é uma sucessão de surpresas sobre o artista conhecido pela elegância discreta e pelo lado melancólico

atualizado

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Divulgação
Leonard Cohen
1 de 1 Leonard Cohen - Foto: Divulgação

Naquela primavera de 1969, uma jovem de 19 anos cruza com um rapaz no elevador, em Nova York, no Centro de Cientologia, e troca olhares faiscantes. Apesar da diferença de 15 anos, já no segundo encontro, ela tinha certeza de que ele seria o homem de sua vida, o pai de seus filhos.

Quem não gostou nada disso foi o ex-amante milionário da garota, que insistiu em conhecer o sujeito. Depois de um jantar a três, ele se trancou em uma de suas enormes suítes a fim de ouvir as músicas e ler os livros desse “poeta pobre” que a tinha roubado.

“Quando terminou, ele disse que pelo menos eu o estava deixando por alguém que valia a pena”, lembra Suzanne Elrod, na biografia “I’m Your Man”, da jornalista inglesa Sylvie Simmons. Vale lembrar que essa seria a segunda Suzanne na vida do poeta e cantor, nada a ver com a mítica musa de mesmo nome para quem ele escreveria sua canção-assinatura de 1967.

Michelle Clement/Reprodução

Personalidade magnética
Histórias quixotescas assim aconteciam o tempo todo com Leonard Cohen, o bardo canadense que provou ser muito mais do que alguém “que valia a pena” — desde quando era jovem escritor brilhante da cena cultural de Montreal, onde nasceu há 82 anos, até se tornar estrela do pop-rock, ao gravar em 1967 o mítico álbum “Songs of Leonard Cohen”. 

Ele era mulherengo, uma personalidade extremamente magnética, tinha uma aura especial antes mesmo de estourar no mundo da música. E atraia as mulheres num nível espiritual”, entrega um dos entrevistados do livro lançado originalmente em 2012, mas só agora disponível no Brasil pela editora Best Sellers.

Ele não pediu para escrever e nem ler essa biografia e sem a tolerância, confiança, franqueza, generosidade e o bom humor de Leonard, este livro não seria o que é

Sylvie Simmons, autora, no posfácio do livro

Com mais de 500 páginas, “I’m Your Man – A Vida de Leonard Cohen” é uma antologia de surpresas sobre a trajetória de um artista que sempre primou pela elegância e descrição. No livro, todos os segredos, folclores, contradições e confusões em torno dessa figura icônica da música do século 20 são desvendados com revelações impressionantes.

Apesar de seu jeito aparentemente quieto e sombrio, o autor de clássicos como “Suzanne” e “Hallelujah” teve uma vida pessoal e pública marcadas por grandes aventuras.

Está tudo ali. As crises existenciais e depressão que o perseguiram desde a adolescência, os problemas com drogas, o lado espiritual levado para as canções que lembram preces, as relações passionais com inúmeras musas, o tédio das gravações, o período em que trabalhou com o mítico produtor musical Phil Spector na época de “Death of a Ladies’s Man”.

Reprodução

Um judeu que ama Jesus
Pertencentes a uma proeminente família judia de Montreal, os ancestrais de Leonard Cohen construíram sinagogas e fundaram jornais no Canadá. Ao contrário do também judeu Bob Dylan, teve uma vida de conforto e privilégio e nunca se envergonhou ou escondeu o fato de ter nascido do “lado certo da cidade”. Batizado na sinagoga com o nome hebraico de Eliezer (Deus é auxílio), perdeu o pai aos 9 anos, passando a ser criado pela mãe “tcheckhoviana”.

Do pai ele herdou a altura, a capacidade de organização, a honestidade e o gosto por ternos. Da mãe herdou o carisma, a melancolia e o dom para a música

Sylvie Simmons

Quando era adolescente, o jovem nova-iorquino Woody Allen, também de origem judaica, era fascinado pelos truques de mágica e ilusão. Aos 14, 15 anos, a paixão de Leonard Cohen era o hipnotismo, levando tão a sério esse hobby adolescente que um dia conseguiu hipnotizar a babá que o ajudou a criar, deixando-a nua.

A empregada, que tocava ukelele, era católica e, sempre que podia, o levava para igreja. Essa inusitada experiência o levaria a se encantar, veja só, pela figura de Jesus. “Amo Jesus, sempre amei. Mesmo quando criança”, revelaria ele à autora.

Peter Hankfield/Divulgação

Paixão por Garcia Lorca
A intimidade de Leonard Cohen com as palavras, como mostra “I’m Your Man”, era algo orgânico, ou seja, um processo natural que ele colocaria em prática assim que começou a formar as primeiras palavras.

Mas o interesse pela poesia floresceu entre os 15 e 16 anos, quando descobriu uma coletânea de poemas, num sebo de Montreal, do espanhol Federico Garcia Lorca, uma paixão de toda uma vida. A ponto de uma de suas filhas se chamar Lorca.

Aprendeu a tocar violão de verdade com um jovem espanhol perdido pelas ruas de Montreal e, quando largou tudo e foi embora para Nova York, no final dos anos 1950, tentar a sorte como escritor, já era considerado o melhor poeta jovem do Canadá após ter lançando “Let Us Compare Mythologies”.

Reprodução
“I’m Your Man — A Vida de Leonard Cohen”, 504 págs., Best Seller, R$ 79.90.

De poeta a astro do rock
Sem negar a tradição de seu povo, Leonard vagou pelo mundo como um judeu errante, escolha romantizada por sua condição de poeta. Após passar um tempo como bolsista em Londres – mediante a entrega de um romance –, foi conhecer a terra de seus antepassados, Israel, comprou uma casa na ilha grega de Hidra e se aventurou como dublê de guerrilheiro em Cuba numa época em que Fidel Castro e John Kennedy rilhavam os dentes uns para outro.

Nenhuma aventura foi maior do que sua passagem de poeta consagrado a provável artista folk no auge da cena hippie tanto na América, quanto na Europa. Uma aventura maior do que todas as viagens que fez com drogas ou retiros espirituais entre monges e líderes indianos. Mas todos, incluindo Leonard, concordam com o motivo que o levou a se tornar cantor e compositor aos 32 anos de idade: dinheiro. 

“Eu vejo o canto como a expressão de uma voz que venho usando desde que consigo me lembrar”, explicou em 1968 ao Montreal Gazette. “Não há diferença entre um poema e uma canção. Alguns, inicialmente, eram canções, outros eram poemas, e há os que eram situações. Toda a minha escrita tem violões por trás, até os romances”, confessou em 1969 ao New York Times.

 

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