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Escritor relembra as vidas perdidas no Ninho do Urubu

Alexandre Brancoh critica o descaso do time com seus jogadores e lamenta a perda de uma dezena de jovens

atualizado

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Tomaz Silva/Arquivo/Agência Brasil
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1 de 1 tmazs_abr_08021911754 - Foto: Tomaz Silva/Arquivo/Agência Brasil

Alexandre Brancoh é um flamenguista como qualquer outro. Foi um dos milhares de brasileiros chocados pelo incêndio ocorrido no Centro de Treinamento do Flamengo, em Vargem Grande, no Rio de Janeiro na sexta-feira (8/2), também conhecido como o Ninho do Urubu. Tudo aconteceu por volta das 5h, e a maioria das vítimas eram jogadores da base do time, que tinham entre 14 e 17 anos.

“Foi uma triste e lamentável tragédia”, disse Brancoh em entrevista ao Metrópoles, “Exposta não apenas para o torcedor do Flamengo, mas para uma sociedade que não sabia daquelas lamentáveis e esquecidas acomodações oferecidas àqueles meninos”. Como flamenguista, ele ainda acredita que seu apoio pelo time “não exime [o Flamengo] da responsabilidade sobre seus tutelados para o anseio profissional”.

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Para homenagear os mortos, ele escreveu um poema: Os Garotos do Ninho. Ele conta que sua inspiração “foi o descaso para com aqueles meninos […] e o interesse atual dos dirigentes esportivos em apenas terem um retorno financeiro de seus jogadores”. Além disso, acredita que “as famílias devem lutar por dignidade, tanto dos que tiveram o sonho fatalmente interrompidos, quanto dos que aqui ficaram”, e espera que os afetados tenham “força e fé para continuarem”.

Quando o descaso passa a ser algo comum, corre-se o risco de ser engolido por lama e fogo

Alexandre Brancoh, escritor

O Escritor

Alexandre tem 50 anos e um livro publicado: Crônicas de Um Sorriso Torto, adotado por quatro escolas no Distrito Federal. Esta não é a primeira vez que ele escreve um poema de homenagem. Em 2016, o escritor entregou ao comandante-geral da Polícia Militar do Distrito Federal um poema de “[expressão de] sua admiração e da necessidade de valorização do trabalho desempenhado pelos policiais militares”.

Brancoh já foi jogador de handebol e remador pelo Minas Brasília Tênis Clube, e acabou representando a cidade na Copa Norte e Nordeste, bem como no Campeonato Brasileiro no Rio de Janeiro. O escritor nasceu em Minas Gerais e se mudou para Brasília aos quatro anos de idade, onde vive até hoje.

Confira o poema, na íntegra, abaixo:

Os Garotos do Ninho

Estavam no ninho, pássaros querendo voar,
Seres-meninos embalados no sonhar,
E corriam pela grama onde sabiam bailar;
A destreza com a bola, um mundo a encantar.

Como em todo canto, sozinhos e juntos sonhamos,
Sonhos ricos e infantis a abraçarem um futuro,
Para quem doidamente em declaração nos entregamos;
Um sonho comum para um viver maduro.

Em desmedida coragem pelo infinito e a imensidão,
Vieram a driblar, os obstáculos, o tombo, o azar;
E levaram uma rasteira do descaso na noite de escuridão,
O sonho interrompido brilha hoje, lá, em outro lugar.

Eles usavam a camisa do meu time,
Pulsavam o mesmo grito e coração;
A qualquer outro, o voar deixe sublime,
Ainda tenho liberdade nas asas… eles, agora não!

Não houve aviso ou apito, só assombro.
Dois dias depois da chuva, como mercadorias por prata,
Talentos iluminados estavam entre cinzas perdidas nos escombros;
Ali, vi sonhos queimados num dormitório de lata.

Dez estrelas brilham então, iluminando outro time,
Nos campos verdes e floridos do vasto céu;
Quem aqui fica, aos sonhos não desanime,
A dor, o suor, a luta, não tem véu.

Alexandre Brancoh

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