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Crítica: em “Lucky”, Harry Dean Stanton reflete sobre solidão e morte

Filme de estreia do ator John Carroll Lynch acompanha jornada de um velho homem em conflito existencial

atualizado

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Imovision/Divulgação
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1 de 1 02_Lucky_ harry dean stanton - Foto: Imovision/Divulgação

“Lucky” é um filme todo construído em torno de Harry Dean Stanton, ator dos mais queridos de Hollywood. Morto em setembro, aos 91 anos, o americano costuma ser lembrado popularmente por “Paris, Texas” (1984),  “Alien, o Oitavo Passageiro” (1979) e “À Espera de um Milagre” (1999), mas acumulou dezenas de papéis secundários e marcantes em uma porção de outros longas.

O personagem-título é assim apelidado pois, durante a Segunda Guerra Mundial, serviu à Marinha como cozinheiro. À época, ele logo ganhou dos colegas a alcunha de sortudo (“lucky”, em inglês). Seu front era a cozinha, mesmo que a bordo de um navio de guerra lento, alvo fácil para caças suicidas japoneses.

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Com um humor cáustico, seco e algo surreal – típico de um certo cinema independente americano, sobretudo Jim Jarmusch –, Lucky leva a vida sozinho no oeste americano. De fato, a sorte parece acompanhá-lo. Dono de uma rotina cíclica – ioga, café, cigarro, idas à mercearia, à lanchonete e ao bar, passeios a pé, tardes vendo game shows –, o velho homem certo dia desaba no chão da cozinha.

Sobre enfrentar a morte sozinho
Preparado para receber graves notícias, ele ouve do médico algo curioso para alguém da sua idade. A saúde vai bem, obrigado, mesmo fumando um maço por dia. Lucky precisa apenas seguir vivendo. É daí que surge a grande crise existencial desse discreto caubói: a desesperança de saber que nada é permanente e ele marcha vagamente rumo ao fim.

Dirigido pelo experiente ator John Carroll Lynch, “Lucky” talvez se apoie demais na estrutura batida de produções indies: uma série de encontros edificantes que, aos poucos, ensinam uma ou duas coisas sobre solidão e morte ao personagem principal.

Ainda assim, é respeitável a maneira como Carroll Lynch constrói momentos poéticos ao redor de Stanton.

Uma noite insone ao som de “I See a Darkness” (cover de Johnny Cash tão bom quanto “Hurt”), as conversas filosóficas com Howard, o amigo interpretado por David Lynch que tenta entender o sumiço de seu cágado centenário – Lynch dirigiu Stanton neste ano na terceira temporada de “Twin Peaks”. E, por fim, a canção mariachi entoada por Lucky numa festinha infantil.

Lucky, ateu convicto e veterano de guerra desiludido, passa boa parte da trama procurando uma maneira racional, prática e indolor de enfrentar a morte. No fim das contas, basta um sorriso.

Avaliação: Bom

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