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Cannes: “Holy Spider”, de Ali Abbasi

Menos satírico do que o marketing faz esperar, este thriller Iraniano não precisa exagerar os fatos para ser presciente nos dias de hoje.

atualizado

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Festival de Cannes/Divulgação
Holy Spider
1 de 1 Holy Spider - Foto: Festival de Cannes/Divulgação

Que salvação tem uma parcela da população que é constantemente subjugada e desvalorizada numa sociedade repressora? Se ela já convive com perigos cotidianos e implícitos, o que devem fazer perante uma ameaça urgente e violenta? Este é o ponto de partida em “Holy Spider”, filme que usa o caso real de um serial killer à solta no Irã para denunciar vários aspectos de uma sociedade religiosa e paternalista.

O diretor Ali Abbasi não está interessado no mistério de seu assassino, revelando sua identidade logo no começo no filme. Essa decisão serve em paralelo com a liberdade que Saeed (Mehdi Bajestani) encontra em assassinar livremente 16 prostitutas em uma cidade relativamente pequena do Irã. A polícia não expende o menor esforço em investigar crimes feitos contra mulheres que considera desvirtuadas, e nem a população parece preocupada em seu cotidiano. Existe um assassino à solta, mas ele mata um certo tipo de gente, afinal de contas.

A jornalista investigativa Rahimi (Zar Emir-Ebrahimi), que chega da cidade grande para lançar uma investigação própria, é a única força capaz de detê-lo. Ela, obviamente, tem uma sensibilidade mais moderna e progressista, virando uma personagem combativa na pequena cidade. Rumores de um caso com seu chefe chegam aos ouvidos da polícia local, que a desmerece imediatamente. Com a ajuda de um só colega, Rahimi vê que a única opção é se disfarçar como prostituta e torcer para que Saeed morda a isca.

A excitação durante a sessão do filme era palpável, afinal é muito difícil assistir algo do tipo sobre o Irã, país que rotinamente prende seus diretores cinematográficos e que busca manter silêncio sobre qualquer tipo de notícia disruptiva de sua coesão social. Imaginava-se ser um filme provocador, especialmente pelo seu cartaz. Só que não é esta a intenção do diretor Abbasi. Trata-se de um filme de uma dramaticidade simples e direta, interessado nos procedimentos da investigação e do julgamento subsequente.

Aonde o filme surpreende é na captura de Saeed, ocorrida na metade da duração. Descobre-se então que a denúncia principal do filme não é a facilidade do assassino e a marginalização de suas vítimas, mas sim da campanha que se cria para libertá-lo. Sem perder um segundo, Saeed se posiciona como um guerreiro religioso, numa missão divina para livrar a sociedade de mulheres indesejáveis. A facilidade com que este argumento comove o público é aterrorizante e, infelizmente atual. Por isso a tensão principal do filme se desloca da captura dele para uma possível soltura, na cara de todos.

“Holy Spider” é um filme que não surpreende em seus temas e mesmo em sua narrativa, talvez pelo simples fato de ser baseado numa história real. A situação acerca destes eventos, porém, são tão tenebrosas que exagerá-las poderia suscitar críticas que desmerecessem o que o filme denuncia. Somando os fatos reais a estética moderna de Hollywood, parece que a maior intenção de Abbasi é fazer um filme que possa ser visto pelo maior número possível, o que com certeza aumentará a pressão em países como Irã para uma reformulação do tratamento de sua população feminina.

Avaliação: Ótimo (4 estrelas)

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