A noite no Setor Comercial Sul (SCS) começou aos poucos. Um produtor aqui e outro acolá promoviam atividades culturais no espaço que recebe 200 mil pessoas por dia. A cada balada, o novo point conquistava os brasilienses. Agora, semanalmente, festas de pequeno, médio e grande porte ocupam o centro de Brasília.
A vida alternativa da capital é no SCS. De quinta a sábado, agitos variados se espalham por becos, estacionamentos e lojas. Tem show, balada e roda de samba. Aos poucos, o centro de Brasília reproduz fenômeno ocorrido na Augusta, em São Paulo, e na Lapa, no Rio de Janeiro. Baladas dominam as ruas e afastam a criminalidade.
O Criolina, por exemplo, passou a promover festas para 2 mil pessoas no SCS. O DJ Pezão, um dos integrantes do coletivo, define o espaço como o “futuro centro antigo”.
É a paisagem brasiliense que mais lembra uma cidade, com becos, grafites, prédios altos. Cenário perfeito para festas
Pezão

O evento acontece às 23h59 do dia 24 de dezembroTomás Faquini/Divulgação

Projeções dão visual futurista às baladasTomás Faquini/Divulgação

Cerca de 2 mil pessoas participam das festasTomás Faquini/Divulgação

Os becos do local tornaram-se cenários das festasTomás Faquini/Divulgação

Os ingressos custam R$ 50Tomás Faquini/Divulgação

Para o DJ Pezão, do Criolina, o espaço é ideal para ocupação culturalTomás Faquini/Divulgação

A cena alternativa da cidade adotou o SCSTomás Faquini/Divulgação
As festas do Criolina no SCS promovem uma sensação diferente. Em espaços apertados, milhares de baladeiros se espremem entre prédios. Nas fachadas, VJs projetam imagens psicodélicas e referências à capital. Bares e banheiros escondem-se em subsolos. No dia 12 de agosto, o coletivo volta aos becos em um festival com 15 atrações.
Diálogo
Outro coletivo também atua para encher de vida o centro que já foi uma cracolândia. O Labirinto, formado pelo trio Caio Dutra, Rafael Sebba e Felipe Daher, promove diálogo entre produtores culturais, comerciantes e moradores.
O projeto Q Cultural (ex-Quinta Cultural) também foca na aproximação com a comunidade. Produzido em parceria com a revista “Traços” — publicação comercializada por moradores de rua —, o evento recebe, semanalmente, 600 pessoas.
O Espaço Cultural Canteiro Central também possui programação semanal: às terças, teatro; quinta, sexta e sábado, shows e baladas são as apostas.
Viva a música
A Lei do Silêncio é hoje motivo de grande discussão na cidade. Governo, baladeiros e caseiros tentam chegar a um acordo sobre o nível de ruído tolerável. No SCS, isso passa longe de ser um problema.
Durante a noite, os prédios de escritório ficam vazios. Portanto, o som alto das picapes não incomoda ninguém. “As áreas residenciais estão em conflito com os produtores e bares.”
Guilherme Reis, secretário de Cultura do DF, apoia o uso do SCS como forma de driblar a rigidez da legislação. “Apoiamos a ocupação dos centros da cidade com programação musical e artística. São ações que buscam modernizar a Lei do Silêncio. Precisamos de um centro vivo”, avalia.
Sai o crime, entra a cultura
A ocupação do centro da cidade é vista com bons olhos também pela Secretaria de Segurança Pública. O subsecretário de Operações Integradas, Leonardo Sant’Anna, coloca que a revitalização do local trouxe uma redução na criminalidade, principalmente, no uso e tráfico de drogas.

É algo que também ocorreu em outras regiões do mundo, como Puerto Madero, em Buenos Aires. O Estado se faz presente, facilitando o lazer e a cultura. Isso afasta o crime do local
Leonardo Sant'Anna
Os dados refletem essa melhoria na sensação de segurança. Em 2015, foram registrados oito homicídios na região. De janeiro de 2016 para cá, quando a ocupação cultural ganhou força, não se soube de nenhum caso. Ocorrências de uso e tráfico de drogas também tiveram redução expressiva: de 130 casos para 80.