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Deputados cobram explicações sobre asfalto na fazenda de Liliane Roriz

Distritais querem que a colega esclareça por que uma empresa contratada para fazer obras públicas executou serviços em sua propriedade

atualizado

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Daniel Ferreira/Metrópoles
Câmara Legislativa do Distriti Federal – Brasília – DF 04/10/2016
1 de 1 Câmara Legislativa do Distriti Federal – Brasília – DF 04/10/2016 - Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles

Após Liliane Roriz (PTB) entrar na mira do Ministério Público de Goiás (MPGO) e da ONG Adote um Distrital, os próprios colegas cobram explicações da deputada sobre o asfalto colocado na fazenda de sua propriedade em Luziânia (GO). Eles defendem apuração rigorosa do caso.

Como o Metrópoles revelou na terça-feira (28/11), a empresa contratada pela Agência Goiana de Transporte e Obras (Agetop) para pavimentar 12km da GO-425 fez uma espécie de “puxadinho” e estendeu o serviço até a fazenda. Apesar da proximidade, os vizinhos de Liliane permanecem com acessos de terra batida.

Presidente da Comissão de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara Legislativa, Ricardo Vale (PT) considerou a denúncia “gravíssima” e defendeu que a Casa acompanhe todos os passos do trabalho conduzido pelos promotores de Goiás.

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“De forma alguma, uma figura pública pode se valer dessa prerrogativa a fim de tirar proveito de obras do estado. Se confirmada a veracidade dessa conduta não republicana, a Casa será obrigada a avaliar se cabe um processo por quebra de decoro”, disse.

 

“Não pega bem”
A Eletro Hidro Ltda. (EHL) recebeu da Agetop R$ 14,4 milhões para revitalizar a rodovia que liga Luziânia ao Jardim Lago Azul, no Novo Gama, ambos municípios goianos situados no Entorno do Distrito Federal. A companhia admitiu ter pavimentado 1,5km que beneficia a propriedade de Liliane, mas negou que tenha recebido dinheiro público pelo asfalto dentro da fazenda.

O fato de Liliane manter-se em silêncio e a EHL se recusar a apresentar notas fiscais ou comprovantes bancários para atestar que ela própria pagou pelos serviços causa estranheza ao petista Chico Vigilante.

Se pagou com o dinheiro dela, por que está sofrendo esse desgaste? Por que não apresenta os boletos e encerra a história? Tenho o maior respeito por ela, mas essa demora em se explicar não pega bem.

Deputado Chico Vigilante

O histórico de encrencas da EHL também fez com que colegas de Liliane encarem o episódio com desconfiança. “O dinheiro público, em hipótese alguma, pode atender a objetivos privados. Vamos exigir transparência total e investigação completamente isenta. Como pessoas públicas, todos nós deputados temos de estar sujeitos à exposição dos nossos gastos”, afirmou Cláudio Abrantes (sem partido).

Prática condenável
Em 2016, o proprietário da empresa, Wilmar Oliveira de Bastos, foi preso pela Polícia Federal acusado de integrar uma organização criminosa que fraudava licitações de terraplanagem e pavimentação em Tocantins. A PF colocou Bastos e outros 20 atrás das grades durante a Operação Ápia. Segundo os investigadores, o grupo pode ter causado prejuízo que ultrapassa R$ 1 bilhão aos cofres públicos.

Arqui-inimiga de Liliane, Celina Leão (PPS) diz que o suposto uso de dinheiro do governo de Goiás para reformar a pista de acesso à fazenda de Liliane configura uma “prática condenável”. “O mandato deve ser usado em prol da população. Se será investigado pela Câmara, é uma decisão da Mesa Diretora. Mas acredito que os órgãos de controle vão pedir os documentos e fazer uma análise mais criteriosa”, destacou.

Celina foi uma das pessoas grampeadas por Liliane Roriz falando de suposto esquema de propina em troca de emendas parlamentares. As gravações foram entregues ao Ministério Público e resultaram na Operação Drácon, deflagrada 23 de agosto do ano passado.

O presidente da Câmara Legislativa, Joe Valle (PDT), foi enfático ao exigir explicações do caso o mais rapidamente possível. “Essa é uma questão que precisa ser esclarecida por ela (Liliane) e pelo governo de Goiás. Para mim, acima da legalidade, tudo; fora dela, nada. Tudo precisa ser apurado”, sustentou Valle.

Veja o antes e depois do trecho da GO-425 que corta a fazenda de Liliane Roriz

Procurada, a assessoria de imprensa de Liliane Roriz informou que ela não vai se manifestar sobre o assunto. Depois de dizer que o serviço foi pago pela distrital, a Eletro Hidro Ltda. (EHL), responsável pela empreitada, destacou, por meio de nota, na quarta-feira (29/11), que o serviço executado na propriedade da parlamentar é uma permuta prevista em contrato firmado entre a companhia e o governo de Goiás. Em troca da pavimentação, a empresa afirma ter recebido cascalho tirado na fazenda da distrital.

A falta de explicações de Liliane levou a ONG Adote um Distrital a anunciar que entrará com uma representação contra a parlamentar nesta sexta-feira (1º/12). O deputado Wasny de Roure (PT) fez coro com a entidade. “Se tiver essa dimensão toda, não tenho dúvidas (de que é preciso investigar)”, destacou.

Condenada pela Justiça
Em 17 de abril deste ano, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-DF) condenou Liliane a 4 anos, 5 meses e 8 dias de prisão em regime semiaberto, além de multa de R$ 32,4 mil — o equivalente ao valor de 60 salários mínimos em 2011. A distrital é acusada de compra de votos e fraude eleitoral na disputa de 2010. O recurso da parlamentar está no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Após a condenação no TRE-DF, o suplente da deputada, Guarda Jânio (PRTB), entrou com o pedido de cassação de Liliane, que deve ser analisado nos próximos dias pela Mesa Diretora da Casa. A orientação da Procuradoria da CLDF é de que o processo seja arquivado.

 

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