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Setembro amarelo: jovens são as maiores vítimas de suicídio no DF

Brasilienses entre 20 e 34 anos são os que mais registraram óbitos por lesões, mutilações ou intoxicações autoprovocadas. Busque ajuda

atualizado

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Kacio Pacheco/ Arte Metrópoles
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1 de 1 suicidio-1 - Foto: Kacio Pacheco/ Arte Metrópoles

O próximo 10 de setembro será lembrado como Dia Mundial da Prevenção ao Suicídio. O mês é dedicado à mobilização global pelo combate a esse tipo de ocorrência, no chamado Setembro Amarelo. No Brasil, o compromisso foi efetivado há cerca de seis anos, por meio da Portaria MS nº 1271/2014, que tornou a notificação de tentativa de suicídio obrigatória no sistema de saúde nacional. Assim, hospitais públicos e particulares de todo o país passaram a ter de informar ao Ministério da Saúde os atendimentos motivados pela chamada “tentativa de autoextermínio” ou “lesões autoprovocadas”.

De acordo dados da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, de janeiro a agosto deste ano, a capital do país registrou 39 óbitos, sendo 80,7% das vítimas do sexo masculino. A maioria das mortes foi em ambiente domiciliar.

Ainda segundo a pasta, a faixa etária entre 20 e 34 anos é a que mais registrou mortes em função de lesões, mutilações ou intoxicações autoprovocadas. Em 2020, houve 130 óbitos correspondentes ao suicídio.

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Sinais de alerta

Fábio Aurélio Leite, médico psiquiatra do Hospital Santa Lúcia Norte e membro titular da Sociedade Brasileira de Psiquiatria, explica que uma mudança súbita de comportamento é o primeiro sinal de que as coisas não vão bem.

“Temos de comparar a pessoa com ela própria. Se é uma pessoa que começou a ficar isolada e era extrovertida, se era muito falante e agora está mais calada, se gostava de fazer alguma atividade esportiva ou se participava de um grupo de igreja e se, de repente, começou a ficar mais quieta. Todo movimento de afastamento, isolamento, falta de interesse e diminuição de interação social é um sintoma”, revela Fábio. “Já algumas pessoas desejam que isso seja percebido. Por exemplo, ao comprar uma corda, um martelo, algo que não tem necessidade”.

Além da mudança comportamental, um fato inesperado no cotidiano pode ser algo para amigos e familiares ficarem atentos. “Uma dívida muito grande, por exemplo, mesmo que a pessoa não demonstre mudança de comportamento, é bom ficar de olho. Hater na internet também. Às vezes, a pessoa pode não lidar muito bem com uma crítica”, comenta o especialista.

“É sempre bom trazer a pessoas para um diálogo, para ver como ela está encarando tal situação. É muito importante que os amigos e familiares busquem o paciente”, aconselha. “O colega que conhece há muito tempo pode observar algo diferente. É importante ter essa busca ativa, perguntar, chamar para sair”.

De acordo com o médico, as crises levam as pessoas ao limite. “Toda situação que leva uma pessoa a ficar deprimida pode gerar ideias suicidas. Com a pandemia, aumentaram muito os casos de ansiedade e depressão”, aponta.

Geração frágil

O médico confirma que a faixa etária de 20 a 34 anos é um público que, emocionalmente, tem dificuldades para lidar com frustrações. “A pandemia testa muito a capacidade de receber ‘não’ da vida. É uma população que não foi trabalhada muito bem emocionalmente para lidar com teste de resistência emocional”, explica.

“É uma geração que tem um pouco mais de dificuldade de atravessar crises, porque não tem robustez emocional como as gerações anteriores, que talvez tiveram uma vida um pouco mais difícil. É uma geração que, do ponto de vista emocional, é a mais frágil”, destaca.

Chamar a pessoa que passar por um momento de crise para conversar, na maioria da vezes, é a melhor solução na hora de buscar o tratamento. “Você tem de usar a sua importância na vida da pessoa, pedir: ‘Faz isso por mim, só para eu ficar mais tranquilo, pois não vou ficar bem'”, aconselha.

“A pessoa faz algo pelo outro o que ela não fazer por si. Quando o paciente fala que está pensando em se matar, ele escuta aquilo. Nesse momento, talvez ele possa desenvolver uma noção da gravidade e aceitar ajuda. Fazer uma pessoa falar faz ela ouvir”, finaliza o profissional.

Busque ajuda

O Metrópoles tem a política de publicar informações sobre casos de suicídio ou tentativas que ocorrem em locais públicos ou causam mobilização social. Isso porque é um tema debatido com muito cuidado pelas pessoas em geral. O silêncio, porém, camufla outro problema: a falta de conhecimento sobre o que, de fato, leva essas pessoas a se matarem.

Depressão, esquizofrenia e o uso de drogas ilícitas são os principais males identificados pelos médicos em um potencial suicida. Problemas que poderiam ser tratados e evitados em 90% dos casos, segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria.

Está passando por um período difícil? O Centro de Valorização da Vida (CVV) pode te ajudar. A organização atua no apoio emocional e na prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone, e-mail, chat e Skype 24 horas todos os dias.

 

Arte/Metrópoles

O Núcleo de Saúde Mental (Nusam) do Samu também é responsável por atender demandas relacionadas a transtornos psicológicos. O Núcleo atua tanto de forma presencial, atendendo em ambulância, como a distância, por telefone, na Central de Regulação Médica 192.

Disque 188

A cada mês, em média, mil pessoas procuram ajuda no Centro de Valorização da Vida (CVV). São 33 casos por dia, ou mais de um por hora. Se não for tratada, a depressão pode levar a atitudes extremas.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada dia, 32 pessoas cometem suicídio no Brasil. Hoje, o CVV é um dos poucos serviços em Brasília em que se pode encontrar ajuda de graça. Cerca de 50 voluntários atendem 24 horas por dia a quem precisa.

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