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PMs tentam se proteger da Covid-19 em meio a ações na periferia

Reportagem acompanhou uma noite de patrulhamento na Estrutural e mostra como o coronavírus mudou protocolos de abordagem e de prisões

atualizado

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Igo Estrela/Metrópoles
Em tempos de coronavírus, Metrópoles acompanha abordagens da PMDF
1 de 1 Em tempos de coronavírus, Metrópoles acompanha abordagens da PMDF - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

Policiais militares do Distrito Federal de unidades operacionais estão na linha de frente de serviços essenciais que não podem parar durante a pandemia provocada pelo novo coronavírus. O micro-organismo invisível se soma a ameaças à segurança dos servidores em abordagens, ao contato físico no momento de algemar suspeitos e à entrada em ambientes que podem estar contaminados.

O Metrópoles passou a noite dessa quinta-feira (23/04) acompanhando militares em uma viatura para registrar como a corporação executa os protocolos de segurança que alteraram a atividade policial em tempos de Covid-19. O local escolhido foi a Cidade Estrutural, onde, até a noite dessa sexta-feira (24/04), haviam sido contabilizados 10 casos de coronavírus e uma morte provocada pela doença.

A região, que cresceu às margens do lixão desativado há dois anos, faz parte do Setor Complementar de Indústria e Abastecimento (SCIA). Segundo dados da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), a área, com uma população de 35.520 pessoas, tem a menor renda per capita do DF: R$ 569,97 – 14,59 vezes menor que a do Lago Sul, onde o valor sobe para R$ 8.317,19.

Com ruas estreitas e muitas vezes sem asfaltamento, a Cidade Estrutural tem características que deixam o patrulhamento ainda mais arriscado em meio ao isolamento social. Na noite dessa quinta-feira (23/04), policiais do GTOp 35 começaram a ronda noturna protegidos por luvas e recipientes de álcool em gel acoplados no interior da viatura.

Apesar da chuva, a movimentação do tráfico de drogas na região era intensa. Logo na primeira abordagem, em uma esquina próxima ao local onde um cadeirante mordeu e arrancou parte da orelha de um policial em 6 de abril deste ano, quatro homens foram abordados. Um deles estava com porções de crack escondidas na bermuda. O ponto é conhecido por abrigar uma boca de fumo.

Veja vídeo da ação policial:

Cuidados na abordagem

O suspeito foi levado para a 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul), onde foi feita a autuação. Após o desembarque, os militares esterilizaram o cubículo da viatura onde o custodiado foi transportado.

“Estamos seguindo os protocolos estipulados pela PM e procurando proteger os policiais o máximo possível durante o contato com quem é detido”, explicou o comandante da guarnição, sargento Edvan Barbosa. Apesar dos cuidados redobrados, nenhum militar usava máscara durante o patrulhamento.

Questionado pela reportagem, o comando da PM explicou que o uso de máscaras não é totalmente eficaz para a prevenção de contágio em situações de abordagem, de contato casual entre pessoas, e não precisam ser utilizadas rotineiramente.

“Adverte-se que o uso inadequado pode, inclusive, aumentar o risco de contaminação para o policial militar ou terceiros”, ressalta o protocolo de biossegurança assinado pelo subcomandante-geral da PM, coronel Sérgio Luiz Ferreira de Souza.

Um dos fatores de mudança que a pandemia provocou na área de patrulhamento envolve o comportamento tanto na logística das bocas de fumo que existem na Estrutural quanto na presença dos usuários. Pela primeira, viciados de outras regiões do DF passaram a se arriscar dentro da Estrutural para ter acesso à maconha, cocaína e, principalmente, pedras de crack.

“Percebemos que muita gente de fora está procurando os traficantes da região para conseguir comprar a droga, que está se tornando escassa em outras regiões administrativas”, afirmou o sargento Santiago Fagundes, do GTOp.

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Festa clandestina

No decorrer da noite, outras abordagens foram ocorrendo, principalmente de suspeitos que rodavam conhecidos pontos de venda de drogas. Algumas bocas de fumo se tornaram itinerantes em razão do isolamento social. O objetivo dos criminosos é movimentar o comércio de entorpecentes e dificultar a localização dos pontos pelos policiais.

Em duas oportunidades, os PMs prenderam suspeitos e precisaram fazer diversas viagens até a delegacia, pois, em razão do coronavírus, suspeitos não dividem mais o mesmo cubículo.

Conhecido como um dos pontos mais violentos da Estrutural, o setor de chácaras Santa Luzia foi alvo de mais abordagens. Em uma delas, os militares encontraram uma festa onde havia dezenas de pessoas dentro de um pequeno barraco de madeirite. O evento, regado a álcool e drogas, contava com a presença de adolescentes. Todos foram retirados dos cômodos e enfileirados para serem revistados.

Os militares encontraram uma garrafa pequena, com cerca de 40 pedras de crack. Cães farejadores do Batalhão de Policiamento com Cães (BPCães) foram usados para tentar localizar mais drogas e armas de fogo, que supostamente teriam sido jogadas em meio à vegetação.

Como o local era extremamente escuro e enlameado, as armas não foram localizadas. No entanto, os suspeitos que estavam com as drogas foram levados em viaturas separadas para a delegacia.

Produtividade policial

Mesmo em meio à diminuição do movimento nas ruas em função do isolamento social, o trabalho dos militares não diminuiu, segundo dados do sistema da PMDF.

“Apenas nos três primeiros meses deste ano, 2.373 pessoas foram autuadas em flagrante delito, reflexo do aumento de 14% da produtividade se comparado com o mesmo período de 2019”, destacou o comando-geral da corporação por meio de nota.

Ainda de acordo com a Polícia Militar, 412 armas de fogo foram apreendidas entre janeiro e março deste ano, contra 378 no mesmo período de 2019. Maior objeto de desejo dos ladrões, 1.163 aparelhos celulares roubados ou furtados foram recuperados pela PM, enquanto no ano passado, esse número foi de 879.

De janeiro a março de 2020, foram apreendidos, pela PMDF, 105 quilos de drogas, sendo 79 apenas de maconha. “Além disso, foram apreendidos 82 selos de LSD, 5.403 comprimidos de Rohypnol e 1.739 comprimidos de ecstasy”, aponta a corporação.

Na avaliação do Departamento Operacional (DOP) da PM, o policiamento ostensivo bem empregado tem contribuído para a queda em praticamente todos os tipos de crimes no Distrito Federal, segundo dados divulgados no último dia 7 de abril pela Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF).

De acordo com o balanço, dos 13 tipos de crimes analisados, oito tiveram queda nos índices. Entre eles, casos de furto a pedestre, roubo em transporte coletivo e estupro.

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