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Esperança: 674 brasilienses começam o ano na fila de transplante

Apesar de o número de procedimentos no DF ter aumentado em 2019, a quantidade de pessoas na lista de espera também cresceu

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Igo Estrela/Metrópoles
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1 de 1 daniele-transplante-de-figado - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

A corrida contra o tempo para conseguir transplante de órgão no Distrito Federal aflige a vida de 674 brasilienses, que aguardam diariamente as atualizações na lista de espera para encontrar um doador compatível. Apesar de o número de procedimentos realizados na capital ter aumentado em 2019, a quantidade de pessoas ativas na fila também cresceu.

No ano passado, foram realizados 607 transplantes no DF, um aumento de 24,4% em relação a 2018, quando foram feitos 488. No entanto, nesse período, o número de pessoas que aguardam subiu de 605 para 607. Do total de procedimentos na fila, 24 são de coração, 11 de fígado, 379 de rim e 260 de córnea.

Moradora do Núcleo Bandeirante, a técnica em enfermagem Daniele Lucas Dias da Silva, 28 anos, espera por um transplante de fígado há um mês. Após exames de rotina, há três anos, Daniele descobriu que estava com uma doença crônica, chamada Colangite Esclerosante Primária (CEP). “É uma doença que não tem cura, mas eu sempre levei normalmente, porque tomo uma medicação que evita os sintomas”, relatou.

Com o remédio, Daniele passou meses sem sintomas. “Só que no ano passado, a medicação ficou em falta no Hospital de Base, onde eu pegava. Então, fiquei quatro meses sem tomar e tive uma complicação”, contou. Com a falta, o quadro da paciente foi afetado e a médica verificou a necessidade de transplante.

“Eu fiquei muito assustada. No começo, não quis muito aceitar, mas depois pensei que eu quero logo sair dessa situação e entrei na fila. Estou afastada do emprego há quase um ano e tranquei a faculdade de enfermagem. Tive que abrir mão de um monte de coisa por conta disso.”

Com tipo sanguíneo AB positivo, Daniele é receptora universal e, portanto, tem maiores chances de encontrar um doador compatível. “A qualquer momento posso fazer o transplante. Sei que logo vai aparecer, se Deus quiser”, disse.

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Segundo o Ministério da Saúde, cada órgão precisa de um intervalo máximo de tempo para ser transplantado, que é o chamado de isquemia. A tabela abaixo demonstra o período para cada um:

Ainda aos 28 anos, em 2015, Francisco Augusto Costa da Silva recebeu a notícia que o deixou atônito. Sem problemas de saúde e ativo em exercícios físicos, o morador do Novo Gama, no Entorno do DF, passou mal em um dia comum no trabalho e precisou ser encaminhado para um hospital.

Foi quando o motorista, agora com 32 anos, descobriu que precisava de um novo coração. “Fiz os exames e foi constatado que eu tinha insuficiência cardíaca. Logo, o médico falou da necessidade de um transplante de coração. Foi um grande susto, porque eu tinha a saúde normal, fazia esporte, jogava bola”, lembrou ele.

Depois de dois meses de espera, em janeiro de 2016, ele finalmente recebeu a ligação que aguardava. “Falaram para eu correr para o hospital, porque coração só pode esperar quatro horas. Eu saí de casa direto para lá. Foi uma emoção muito grande.”

Atualmente, o motorista faz uso de medicamentos imunossupressores, que obtém pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Farmácias de Alto Custo do DF. Os remédios são usados para evitar a rejeição de um transplante.

Renascimento

Assim como Francisco, a administradora Elaine Cristina, 43, também teve a vida salva pela cirurgia. Colocada como prioridade nacional por conta do grave estado de saúde e sem esperanças, ela pensava em voltar para casa para se despedir da família quando soube de uma doação compatível.

“Os médicos falaram para a minha família que se o coração não chegasse em, no máximo, cinco dias eles não poderiam fazer mais nada. Achei que não iria mais resistir”, narrou. “Hoje, tenho uma vida nova.”

Em 2004, Elaine foi diagnosticada com Doença de Chagas, uma infecção causada por protozoário. “Convivi com ela por muitos anos, mas em 2013 desenvolvi uma insuficiência cardíaca e comecei a me cansar muito”, contou.

Dois anos depois, seu quadro de saúde piorou e desenvolveu uma caquexia cardíaca, a forma grave da insuficiência. “Eu perdi 17 kg em menos de 8 meses. Foi então que o médico disse que não tinha mais para onde correr.”

Reprodução
Último exame de Raio-x feito por Elaine antes do transplante mostrou seu coração em um tamanho muito acima do normal

Após conseguir se cadastrar na espera por um novo coração, foram precisos oito dias para que Elaine renascesse. Apesar do pouco tempo, os dias para a família da administradora pareciam não findar pela aflição que ela passava à medida que suas crises se agravavam.

“Na época, o meu filho tinha 13 anos. Então, pedi para o médico me dar alta, porque eu queria terminar meus dias em casa. No mesmo dia, me acordaram e disseram que um órgão compatível estava a caminho. Eu fui muito abençoada, porque foi muito rápido”, relembrou.

Elaine criou um perfil no Instagram para falar sobre a importância da doação de órgãos. Atualmente, a administradora é ativa na causa através das redes sociais. “Quero que as pessoas se conscientizem sobre isso, saibam o que passa uma pessoa transplantada e se abram para esta questão.”

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Referência mundial

De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil é referência mundial na área de transplantes e possui o maior sistema público de transplantes do mundo. Atualmente, cerca de 96% dos procedimentos de todo o país são financiados pelo SUS.

Em números absolutos, o país é o 2º maior transplantador do mundo, atrás apenas dos EUA. Os pacientes recebem assistência integral e gratuita, incluindo exames preparatórios, cirurgia, acompanhamento e medicamentos pós-transplante, pela rede pública de saúde.

Em Brasília, há um dos melhores índices de doação de órgãos e tecidos do Brasil. Enquanto a média nacional é de 16 pessoas a cada um milhão de habitantes, no DF, a taxa é de 28,8 por milhão.

Os transplantes de órgãos são realizados por três hospitais públicos: Instituto Hospital de Base (IHBDF), Hospital Universitário de Brasília (HUB) e Instituto de Cardiologia (ICDF).

Como se tornar um doador

Segundo o Ministério da Saúde, existem dois tipos de doadores de órgãos:

  • Doador vivo – qualquer pessoa, desde que não prejudique a própria saúde. Pode doar um dos rins, parte do fígado, da medula óssea ou do pulmão. Pela lei, parentes até o quarto grau e cônjuges podem fazer. Não parentes, só com autorização judicial.
  • Doador falecido – pacientes com morte encefálica, geralmente vítimas de catástrofes cerebrais, como traumatismo craniano ou AVC (derrame cerebral).

No Brasil, a prática só é feita após a autorização familiar. Assim, o interessado precisa avisar à família sobre o desejo. Segundo o chefe do Núcleo de Distribuição de Órgãos e Tecidos da Central de Transplantes DF, Anderson Galante, cerca de 36% das famílias no DF recusam-se a doar órgãos de um parente falecido.

“Por isso é importante falarmos sobre a importância desse tema. Ainda existe um tabu muito grande em relação a isso. Um assunto que ainda temos muita dificuldade de falar é a morte. Então, essa é a primeira barreira a vencer para conscientizarmos a população”, comentou.

Pela legislação brasileira, não há como garantir efetivamente a vontade da pessoa. No entanto, segundo o Ministério da Saúde, na grande maioria dos casos, quando a família tem conhecimento do desejo do parente falecido, a escolha é respeitada. A vontade do indivíduo, expressamente registrada, também pode ser aceita caso haja decisão judicial nesse sentido.

Os órgãos vão para pacientes que necessitam de um transplante e estão aguardando em lista única, definida pela Central de Transplantes da Secretaria de Saúde de cada estado e controlada pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT).

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