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Maioria dos brasilienses não se sente segura no DF, mostra pesquisa Metrópoles/FSB

Dos entrevistados, 73% disseram estar “pouco ou nada seguros”. Somente 1% mantém o sentimento de “muito seguro” na capital do país

atualizado

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Hugo Barreto/Metrópoles
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1 de 1 inseguranca - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

A sensação de insegurança no Distrito Federal atinge sete a cada 10 brasilienses. Pesquisa encomendada pelo Metrópoles ao Instituto FSB aponta que o medo de ser assaltado, roubado ou de sofrer algum tipo de violência assusta a maioria dos moradores da capital da República.

Segundo o levantamento, 73% dos entrevistados sentem-se pouco ou nada seguros em Brasília. Outros 16% declaram sentirem-se seguros, e apenas 1% marcou a opção “muito seguro”.

Quando questionados sobre a realidade do Distrito Federal como um todo, 71% disseram achar a unidade da Federação pouco ou nada segura. Outros 18% dos entrevistados consideraram o DF “seguro”, e 1%, “muito seguro”.

Os números se refletem no cotidiano da população, já acostumada a notícias de roubos frequentes de celulares, assaltos nos pilotis de blocos do Plano Pilotorecorde dos índices de feminicídios.

Veja:

Arte/Metrópoles

A pesquisa entrevistou 1.072 eleitores do DF, entre os dias 7 e 9 de setembro. Ela está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob os números DF-07940/2018 e BR-06613/2018. Em razão dos arredondamentos, os totais podem ficar entre 99% e 101%.

Temor
O medo atinge até mesmo profissionais de segurança treinados. A vigilante Felquer Oliveira, 37 anos, trabalha em um órgão público no Setor Comercial Sul (SCS). Ela cumpre jornada no centro da capital, em uma das maiores cracolândias de Brasília.

Moradora de Planaltina, a vigilante já foi assaltada três vezes. Ela conta que a situação é ainda pior na cidade onde mora, dividida pela guerra entre gangues rivais.

“Já me roubaram na Rodoviária [do Plano Piloto], nas escadas aqui perto e próximo à minha residência, às 11h da manhã. Eu estava em casa e saí para comprar coisas no mercado, quando chegou um homem armado e me mandou passar tudo. De uns tempos para cá, a coisa só piorou”, disse.

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O vendedor Jesivan Barros, 39 anos, nunca passou pela sensação de ter uma arma apontada contra ele. Os dois filhos adolescentes do funcionário, no entanto, já tiveram os celulares roubados quatro vezes. Na loja onde trabalha, há um posto de conveniência do Banco de Brasília (BRB) e, para ele, assim como ocorre com caixas eletrônicos, a presença da representação de um banco chama atenção de criminosos.

“Sempre aparecem usuários de drogas por aqui. Ninguém se sente seguro. Eu moro em Samambaia, e lá a violência é pior. Os bandidos roubam de noite e de dia – não tem mais hora”, comenta Jesivan.

Os amigos João Palmeira, 20 anos, William Borgmann, 20, Pedro Mendes, 19, e Vilibaldo Borgmann, 22, evitam chamar atenção para objetos valiosos, como celulares e outros eletrônicos, quando andam pelas ruas.

Ainda assim, João Palmeira fez o que todas as autoridades de segurança consideram uma atitude perigosa: entrou em luta corporal com um ladrão. “Eu vi que ele estava desarmado e bati nele”, conta o estudante, o qual já foi vítima de quatro tentativas de assalto, mas conseguiu escapar porque os criminosos estavam desarmados.

A visão dos especialistas
Para o conselheiro distrital de segurança pública e consultor em segurança pública George Felipe Dantas, a sensação de medo não necessariamente expressa perigo, porém aponta que o sentimento foi experimentado de alguma maneira pela população, “na medida em que alguns crimes ocorrem, como roubo a pedestres e a residências”.

“Quando alguém sai em um local como a W3, e tem aquela massa de pessoas que é vitimizada por assaltos, a sensação vai sendo plasmada na sociedade”, diz.

Um dos autores da obra O Medo do Crime, Dantas afirma que a sensação de angústia e ansiedade de se tornar vítima acarreta prejuízo significativo na qualidade de vida individual. Para o especialista, a situação pode ser amenizada com a recomposição dos quadros da Polícia Militar, da Polícia Civil e do Corpo de Bombeiros.

“Embora Brasília tenha um dos melhores índices do país na taxa de homicídios, há um nível perigoso na falta de recomposição dos profissionais. A população também sente isso. Um carro de polícia na rua, ali, fazendo a ronda com sirene ligada, por exemplo, é uma medida mitigadora”, opina.

Para a professora de segurança pública na Universidade Católica de Brasília, Marcelle Figueira, essa percepção de insegurança está muito mais atrelada às redes de sociabilização das pessoas do que aos índices em si. “As percepções não estão relacionadas às taxas de criminalidade, mas sim aos relatos de amigos, parentes e conhecidos que tiveram contato com aquela experiência”, analisa.

Para Marcelle, a reversão desse sentimento dos brasilienses ocorrerá no momento em que a polícia chegar rápido às ocorrências, quando a iluminação pública nas cidades for aprimorada e com medidas como recolhimento de lixo e corte de matagais. “Espaços degradados geram sensação de insegurança”, diz.

Ações do governo
Acionada pela reportagem, a Secretaria da Segurança Pública e da Paz Social do Distrito Federal (SSP-DF) informou que o estudo da sensação de segurança é um dos eixos do programa Viva Brasília – Nosso Pacto pela Vida. Outra linha de ação é o projeto Cidades Limpas, realizado pela Secretaria das Cidades.

“O programa mapeia os problemas e desordens das cidades e aciona os órgãos responsáveis para que eles realizem ações como poda de árvores, iluminação pública, sinalização de placas e vias, entre outros itens que aumentam o bem-estar e a sensação de segurança de todos”, declarou a pasta, por meio de nota.

Além disso, a SSP ressaltou que, em agosto deste ano, em comparação ao mesmo período de 2017, houve redução em todos os crimes contra o patrimônio (CPPs), monitorados pelo Viva Brasília.

“Os CPPs caíram 8,3%, comparados os dois períodos. No acumulado do ano, em relação ao período que vai de janeiro a agosto de 2017, a redução é ainda maior: 13,8%. Destaque para os roubos em transporte coletivo, que, no mês passado, marcaram queda de 56,4% em relação a agosto de 2017”, comparou a secretaria.

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