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PCDF abre inquérito para investigar pastor que citou “reserva no inferno” para LGBTs

Delegacia que investiga crimes de discriminação por orientação sexual vai apurar se fala foi criminosa ou está dentro de liberdade religiosa

atualizado

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Pastor dos EUA, David Eldridge fez discurso de ódio em evento evangélico no DF, contra gays, lésbicas, trans e até quem usa calça apertada
1 de 1 Pastor dos EUA, David Eldridge fez discurso de ódio em evento evangélico no DF, contra gays, lésbicas, trans e até quem usa calça apertada - Foto: Reprodução

A Polícia Civil do Distrito Federal abriu um inquérito para investigar o pastor que afirmou que homossexuais, transgêneros, bissexuais e drag queens têm “uma reserva no inferno”. A apuração vai avaliar se a fala foi um discurso de ódio criminoso ou está dentro da liberdade religiosa do pregador.

A investigação será conduzida pela Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou por Orientação Sexual ou contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência (Decrin). Caso fique provado o crime, a pena para esse tipo de caso pode ser de 4 a 10 anos.

“A Decrin recebeu uma representação da Aliança Nacional LGBTI+ e da Associação Brasileira de Famílias Homoafetivas (ABRAFH), dando notícia do fato que teria acontecido no Congresso Evangélico União das Mocidades das Assembleias de Deus. O pastor é estrangeiro, mas o caso ocorreu em nosso território, praticado no local público e por meio da internet”, explica a delegada-chefe da Decrin, Ângela Maria, que conduzirá as investigações.

A Comissão de Direitos Humanos da Câmara Legislativa também pede investigação. O deputado distrital Fábio Felix (PSol), presidente da comissão, entrou com representação também no Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT).

O discurso que provocou polêmica ocorreu durante evento da Assembleia de Deus, no pavilhão do Parque da Cidade, durante o Carnaval. Em sua pregação, David Eldridge, pastor dos Estados Unidos, começou a julgar quem iria ou não para o inferno, entre leituras do Evangelho e palavras de fé. Além do público LGBTQIA+, ele afirmou que prostitutas, pessoas que assistem “coisas sexuais” na TV, mulheres que usam saia curta e até homens que gostam de calça apertada estariam condenados. Veja:

 

“Você, moço, que está usando calça apertada, que é o espírito de homossexual: isso vai para o inferno! Você, moça, que quando sai de casa a saia está curta e apertada, você sabe o que está fazendo? Você tem uma reserva lá no inferno!”, disse, em inglês, enquanto um tradutor acompanhava.

Em outros trechos do discurso, ele chega a afirmar que, quando desembarcou no Brasil, teria ouvido um chamado para salvar os brasileiros de irem para o inferno. Em discussão sobre a criminalização da homofobia e de transfobia, o Supremo Tribunal Federal (STF), em 2019, estabeleceu que a “repressão penal à prática da homotransfobia não alcança nem limita o exercício da liberdade religiosa”.

Os ministros ressaltaram que fica configurado o discurso de ódio quando é incitada a “discriminação, a hostilidade ou a violência contra pessoas em razão de sua orientação sexual ou de sua identidade de gênero”.

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