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Moradores denunciam ao Iphan intervenção na Ponte Costa e Silva: “Vista prejudicada”

Moradores do Lago Sul reclamam que obras na Ponte Costa e Silva descaracterizam projeto original de Oscar Niemeyer

atualizado

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Hugo Barreto/Metrópoles
Foto da passarela ao lado da ponte Costa e Silva
1 de 1 Foto da passarela ao lado da ponte Costa e Silva - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Quem passa pela Ponte Costa e Silva com frequência percebe a presença de uma grande passarela de concreto na lateral direta da faixa. Um grupo de moradores do Lago Sul denunciou a intervenção feita pelo Governo do Distrito Federal (GDF) ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Segundo eles, a nova estrutura altera o visual da ponte e não preserva a autenticidade do projeto original, criado por Oscar Niemeyer em colaboração com o engenheiro Joaquim Cardoso.

A ex-administradora do Lago Sul Natanry Osório, 83 anos, está sempre atenta à paisagem da cidade e, ao passar pelo elevado, se surpreendeu com o tamanho da área de concreto.

“É muito grave o que estão fazendo com a leveza da ponte de Oscar Niemeyer, que é uma poesia em concreto. Passei por lá e fiquei chocada. Sempre vou ao Plano Piloto por essa ponte e me encanta ver a leveza daquela mureta singela, transparente. Aquilo me emociona cada vez que passo por lá. E, esses dias, ao voltar num dia mais claro, pensei : ‘não acredito no que estou vendo’”.

A museóloga e também moradora do Lago Sul Christine Ururahy, 73 anos, reclama que o paredão atrapalha a vista do Lago. “Uma das coisas prazerosas é passar pela ponte e ter a vista do lago. Isso deixa todo mundo de bom humor. Mas, agora, estão fechando tudo: você passa e só vê bloco de concreto”, lamenta Christine. 

Ela acrescenta não entender o propósito de incluir mais peso em cima da ponte. “Estão fazendo uma obra interminável e com pretexto de melhorar o equilíbrio da ponte, porque ela não está segura. Aí eles tiram uma grade leve, simples, e botam um monte de blocos de concreto? Isso só vai aumentar os riscos”, completa a museóloga.

 

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Na avaliação do vice-presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do DF  (CAU-DF), Pedro de Almeida Grilo, o GDF acertou em adaptar a ponte para incluir também modais de mobilidade ativa, como bicicletas e espaços para caminhadas de pedestres, mas pecou pela falta de cuidado na execução do serviço. “É uma forma de a cidade se adaptar ao século 21. Porém, consideramos que a colocação do guard rail de concreto na borda da ponte pode, sim, ter um impacto visual significativo no desenho original. E isso poderia ter sido resolvido de uma forma mais simples, mais leve e mais elegante.

Para saber se a revitalização da ponte segue o padrão de preservação do monumento, o Metrópoles entrou em contato com Iphan, mas a entidade informou que a responsabilidade seria da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), que, por sua vez, respondeu afirmando que tudo foi feito com anuência do Iphan: “A intervenção na Ponte Costa e Silva foi previamente submetida à análise do Iphan, em que foi ratificado, por meio de parecer técnico, que as alterações externas e internas — tanto no aspecto da percepção do usuário quanto nas características e nos aspecto atual da ponte — não são significativas em relação à característica passível de preservação”, disse a Novacap.

Obra de arte

O professor de arquitetura da Universidade de Brasília (UnB) José Carlos Coutinho lembra que a ponte é um patrimônio histórico de Brasília e, portanto, não pode ter a estrutura modificada. “Qualquer mudança na configuração da ponte é indevida, porque além da função utilitária de transpor uma margem do lago à outra, a ponte é uma obra de arte cuja simplicidade gera um impacto visual imediato. Na hora de fazer uma reforma, é necessário respeitar essa importância e historicidade”, explica Coutinho.

De acordo com o professor, a Costa e Silva era para ser a primeira ponte de Brasília, mas devido à necessidade de revisão das fundações que a sustentariam, a obra teve de ser paralisada por um tempo.

“Quem fosse para o Lago Sul tinha que dar a volta pelo balão do aeroporto. Então foi feito esse projeto pelo Oscar Niemeyer, que era um projeto muito bonito e simples, para unir as duas margens. Mas como o projeto teve que ser revisado, primeiro foi feita a ponte do Gilberto Salomão, que foi uma ponte feita com emergência e sem cuidado estético”, conta.

Na visão de Coutinho, a 2ª ponte, por outro lado, tem um valor estético, resultado do talento de Niemeyer, que ele descreve assim: “Um lápis grosso solto sob o papel, em um gesto espontâneo, delineou três arcos feitos de concreto armado”.

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