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Maior tragédia náutica do DF 10 anos depois: Imagination ainda assombra parentes das vítimas

Havia superlotação no barco e 9 pessoas morreram no naufrágio ocorrido em 2011

atualizado

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Marcello Casal Jr/ABr
Imagination
1 de 1 Imagination - Foto: Marcello Casal Jr/ABr

O maior desastre náutico da história de Brasília, o naufrágio do barco Imagination, com mais de 120 pessoas a bordo, e deixou 9 vítimas fatais, completou uma década em 2021. Dez anos depois, o que não foram apagados são traumas e a saudade nas famílias e amigos que perderam entes queridos.

Herculana Gonçalves, 67 anos, ainda guarda na memória todos os acontecimentos anteriores àquele domingo em que perdeu o filho Hadnilton José de Oliveira, à época com 31. O homem trabalhava como garçom na festa que ocorria no Imagination.

Ele era vigilante, mas havia ficado desempregado e fazia diversos bicos para se manter. Naquele fim de semana, inclusive, trabalhou na mesma função em bufês dois dias antes. “Esse do domingo ele confirmou mais em cima da hora. Na quinta, ligaram e ele aceitou. A ideia dele era tirar habilitação de moto, por isso aceitava os trabalhos”, conta a mãe.

No dia da tragédia, Hadnilton jogou futebol com os amigos do P.Sul, em Ceilândia, o dia inteiro. Às 17h, voltou para casa, tomou banho e saiu. “Eu tinha viajado e cheguei à noite. Vi a luz acesa e achei que era ele já de volta, mas era minha outra filha. Como meu filho estava demorando, a gente acabou indo dormir”.

No dia seguinte o garçom ainda não tinha voltado. A esposa dele ligou pela manhã perguntando o paradeiro, quando a filha de Herculana entrou desesperada na casa falando que o barco onde estava o irmão afundou. “Ali acabou o sossego. Fomos para o Lago Paranoá e fiquei esperando aparecer a qualquer hora. Ele sabia nadar, tinha muita esperança”, detalha.

O segundo dia, no entanto, foi fatal para Herculana. Sem notícias do filho, passou a acreditar que ele realmente não tinha sobrevivido. “Só foram achá-lo no terceiro dia, por volta das 23h. Quem estava no barco disse que o Hadnilton só morreu porque foi tentar ajudar outras pessoas. Jogou coletes para as pessoas e foi tentar salvar uma menina. Nesse momento o barco subiu e afundou. Ele tomou alguma pancada na cabeça; foi tão forte que a causa da morte foi traumatismo craniano”, lembra.

Atualmente, o quadro que o filho deu no Dia das Mães daquele ano é a recordação que ela tem com maior carinho. Com saudades, Herculana diz que ainda se pega falando com ele de vez em quando.

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A saudade também ainda atinge o militar da reserva Benjamin Braga, 60 anos. O amigo dele, Adail de Souza Borges, na época da tragédia com 45 anos, acabou sendo outra vítima do Imagination.

Adail era natural do Mato Grosso e chegou em Brasília ainda jovem para servir o Exército. Com excelentes dotes culinários, acabou conseguindo alguns bicos para trabalhar como cozinheiro em diversos lugares, inclusive no bufê da festa que ocorria naquele domingo. “Ele fazia bastante serviço extra. A gente se conhecia de sermos vizinhos e conseguíamos uns trabalhos juntos também”, conta.

Benjamin ficou sabendo do naufrágio ocorrido ainda pela noite, mas não sabia que o amigo estava no barco. Só pela manhã que a notícia espalhou entre os conhecidos e ele foi até o Lago com a esposa de Adail para tentar confirmar o que aconteceu. “Nós fomos até o clube. Quando vimos o carro dele estacionado lá, já entramos em desespero. Todo mundo já estava com um mau pressentimento, mas ver o carro foi uma comoção”, lembra.

Os primeiros momentos após o naufrágio

Quem trabalhava no dia não consegue esquecer a cena. O subtenente Moura é da Companhia Lacustre do Batalhão de Polícia Militar Ambiental do DF e lembra de diversos detalhes. “Era uma noite muito fria e muito escura. Por volta de 21h30, a equipe de serviço foi acionada para averiguar a situação sobre uma embarcação que havia naufragado nas proximidades da Ponte JK. A princípio, achávamos que se tratava de uma embarcação de pequeno porte, não tínhamos dimensão da tragédia que havia acontecido”, relata.

Quando ele chegou no local, viu que muitas pessoas já estavam na água. “Boa parte sem coletes salva-vidas, tentando-se agarrar nos objetos do barco que boiavam ao redor. O Corpo de Bombeiros e também embarcações particulares ajudavam na retirada das vítimas. Nós retiramos as que foram possíveis e conduzimos até a margem mais próxima. “Foi uma noite muito triste e desesperadora”, resume o subtenente.

O delegado da 10ª DP (Lago Sul) na época da tragédia e atual corregedor-geral da Polícia Civil do DF (PCDF), Adval Cardoso, também esteve no local. “A cena foi desesperadora. Todo mundo gritando, procurando pelos familiares. Não consegui esquecer nunca mais”, pontua.

As investigações, a partir daí, ficaram a cargo dele. Foram três meses para a conclusão do inquérito, que ouviu 122 pessoas. “Foi um trabalho muito complicado na época, mas conseguimos indiciar o proprietário e o piloto com convicção”, comenta.

Conforme ele conta, a última vistoria do barco apontava que apenas 92 pessoas poderiam estar na embarcação, mas havia mais de 120 na festa. “As pessoas chegavam com um amigo, falavam que iam pagar e acabavam entrando. Fora que o barco tinha passado por algumas adaptações após o último laudo que tinha recebido, colocando adornos mais pesados, o que com certeza iria diminuir ainda mais a capacidade permitida”, diz.

A peça fundamental para a investigação foi o laudo que apontou a causa do naufrágio. “Os tubulhões estavam enferrujados e a manutenção inadequada. Só para se ter uma ideia, eles arrumavam alguns furos com epóxi”.

Um outro problema apontado é que eram usadas bombas para tirar água que já se sabia que entrava no barco. “Os donos deixavam encher e depois usavam esse bombeamento para tirar. Isso foi dando certo durante um bom tempo, mas existia o risco de dar errado”, comenta Adval.

O naufrágio acabou ocorrendo em 22 de maio de 2011. Além de Hadnilton e Adail, morreram no Imagination Robinson Araújo de Oliveira, 29, Paulo de Mello, 39, João Antônio Fernandes Rocha, 7 meses, Flávia Daniela Pereira Dornel, 22, Vicente Carneiro de Sousa Neto, 36, e Valdelice de Souza Fernandes, 36.

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