metropoles.com

Decisões polêmicas e brigas no plenário deixam Barroso em foco no STF

Ao autorizar a Operação Skala, que levou à cadeia aliados do presidente Michel Temer, ministro ganhou protagonismo na Corte Suprema

atualizado

Compartilhar notícia

Michael Melo/Metrópoles
1 de 1 Michael Melo/Metrópoles - Foto: null

A deflagração da Operação Skala pela Polícia Federal, na quinta-feira (29/3), foi o apogeu de um período que tem colocado sob os holofotes o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso. Responsável pela investigação que mira o presidente Michel Temer, o membro da Corte Suprema assumiu protagonismo recente, seja por suas decisões polêmicas, seja pelos embates com colegas de toga.

Nascido em Vassouras (RJ), e com 60 anos, Barroso é especializado em direito constitucional e, antes de migrar para o STF, era um dos mais famosos advogados do ramo no país. Casado e pai de dois filhos, formou-se pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), para onde voltou décadas depois como professor. Tem mestrado pela Universidade de Yale, nos Estados Unidos, e doutorado pela Uerj.

Filho de um procurador do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) e de uma advogada, o ministro seguiu o ofício da família. Após a formatura, em 1981, passou a atuar como advogado constitucional e, em 1985, foi aprovado em concurso para trabalhar também como procurador do estado do Rio de Janeiro.

Como defensor, atuou em causas históricas, como a que permitiu a realização de pesquisas com células-tronco, a da união estável homoafetiva, e a extradição do ex-ativista italiano Cesare Battisti. Ainda durante o período de faculdade, ajudou a fundar o diretório estudantil da Uerj e fez parte de movimentos de esquerda. No entanto, com o passar do tempo afastou-se um pouco dessa corrente política, afirma.

Michael Melo/Metrópoles
Ministro Luís Roberto Barroso foi indicado ao STF em 2013, pela ex-presidente Dilma Rousseff

“Eu diria que, ao longo da minha vida, eu conservei do pensamento de esquerda a crença de que as pessoas são essenciais e intrinsecamente iguais, embora a vida as diferencie, e o papel do Estado e da sociedade é assegurar o máximo de igualdade a todos no momento da partida”, afirmou em entrevista à iniciativa História Oral do Supremo, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Esse posicionamento confirmou-se a partir de 2013, quando Luís Roberto Barroso foi o quarto indicado ao cargo de ministro do STF pela ex-presidente Dilma Rousseff, assumindo a vaga do aposentado Ayres Britto. Na Corte, sua atuação tem sido dividida em dois vieses principais: defesa dos direitos humanos e baixa tolerância para políticos alvos de investigação no Supremo.

Igo Estrela/Metrópoles
Em fevereiro de 2018, Barroso tomou posse como ministro efetivo do Tribunal Superior Eleitoral

O ministro é a favor, por exemplo, da legalização do aborto e da maconha. Também deferiu liminar suspendendo lei estadual de Alagoas proibindo a propagação de ideias políticas e ideológicas por professores nas escolas da região. No mesmo sentido, foi contra a decisão do plenário do STF que permitiu a prática do ensino religioso confessional — com foco em apenas uma crença — nas escolas brasileiras.

Quando o assunto é investigação de políticos acusados de corrupção, no entanto, Barroso é mais rígido. O ministro votou em julgamento pela limitação do foro privilegiado e chegou a dizer que o assunto é “o maior problema do STF”. Relator do caso, também suspendeu parte do indulto natalino concedido pelo governo federal a condenados por crimes sem violência ou grave ameaça.

O ministro também é favorável à execução penal após condenação em segunda instância, e segue o entendimento da maioria dos componentes da da 1ª Turma do STF, que costuma utilizar a jurisprudência da Corte e indeferir pedidos de habeas corpus em casos do tipo.

“Você é uma pessoa horrível”
O posicionamento claro e o estilo combativo às vezes criam conflito entre Luís Roberto Barroso e outros membros da Corte Suprema. O principal ponto de embate é com o ministro Gilmar Mendes, com quem Barroso tem acumulado desavenças. A mais recente — e uma das mais acaloradas — ocorreu no último dia 21 de março, quando os dois discutiram asperamente no plenário.

Durante análise de ação responsável por discutir a possibilidade de doações anônimas a campanhas eleitorais, Gilmar criticou as decisões de alguns membros da Corte, inclusive Barroso, que perdeu a paciência: “Você é uma pessoa horrível. Uma mistura do mal com o atraso e pitadas de psicopatia. Isso não tem nada a ver com o que está sendo julgado. É um absurdo Vossa Excelência vir aqui e fazer um comício cheio de ofensas, grosseria”, disse a Gilmar.

Barroso continuou: “Vossa Excelência nos envergonha. É uma desonra para o tribunal. Uma desonra para todos nós. Um temperamento agressivo, grosseiro, rude. É péssimo isso. Vossa Excelência, sozinho, desmoraliza o tribunal. É muito ruim, muito penoso para todos nós conviver com Vossa Excelência aqui”. Gilmar rebateu: “Vou recomendar ao ministro Barroso fechar o seu escritório de advocacia”.

Gilmar Mendes não explicou a frase proferida durante a discussão, mas, em 2013, o antigo escritório de Barroso venceu uma licitação da Eletronorte no valor de R$ 2 milhões somente dois meses após ele assumir a cadeira no STF.

A estatal alegou, à época, que a Luís Roberto Barroso e Associados – Escritório de Advocacia apareceu na publicação oficial do Planalto de forma “equivocada”. O sobrinho dele, Rafael Barroso Fontelles passou a exercer o comando do escritório e alegou ter havido demora na mudança de nome na Receita Federal. Após o tio tornar-se ministro, o escritório passou a se chamar Barroso Fontelles, Barcellos, Mendonça & Associados – Escritório de Advocacia.

Temer
Outro ponto de estremecimento na relação de Barroso e Gilmar são as investigações que apuram possíveis irregularidades na edição do Decreto dos Portos pelo presidente Michel Temer. Com a deflagração da Operação Skala, na quinta-feira (29), as relações entre o ministro e o Palácio do Planalto ficaram ainda mais acirradas.

A operação, autorizada por Barroso a pedido do Ministério Público Federal (MPF), mirou amigos e aliados de Temer, como o advogado e ex-assessor da Presidência José Yunes, o coronel aposentado da PM João Baptista Lima Filho e o empresário Antônio Celso Grecco. Ao todo, foram expedidos 13 mandados de prisão temporária e 20 de busca e apreensão.

Michael Melo/Metrópoles
Barroso também é o responsável, no STF, pelo inquérito que investiga possíveis irregularidades na edição do Decreto dos Portos pelo presidente Michel Temer

No início do mês, o ministro já havia autorizado a quebra de sigilo bancário do presidente Temer e, em fevereiro, cobrou explicações do então diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segóvia, a respeito de declarações dadas à imprensa sobre o inquérito. Após a polêmica, Segóvia acabou demitido do cargo.

A série de medidas prejudiciais ao presidente até motivou o ministro da Secretaria de Governo da Presidência, Carlos Marun, a ameaçar Luís Roberto Barroso com um pedido de impeachment. Há quem diga até que o ministro do STF tornou-se o principal inimigo da gestão Temer. Caso o MPF decida apresentar denúncia com base nas investigações da Operação Skala, resta saber se a posição de Barroso será mantida.

Barroso e Barbosa
O comportamento de Barroso tem levado a comparações com o ex-presidente do STF, que ganhou popularidade como relator do julgamento do Mensalão que levou à cadeia figuras como o ex-ministro José Dirceu. Barbosa também colecionou desavenças com Gilmar Mendes. Em 2009, durante um julgamento, o então presidente da Corte Suprema irritou-se com uma colocação de Mendes e disparou: “Vossa Excelência quando se dirige a mim não está falando com os seus capangas do Mato Grosso”.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comDistrito Federal

Você quer ficar por dentro das notícias do Distrito Federal e receber notificações em tempo real?