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Em outubro, um ciclista morreu a cada cinco dias em acidentes no DF

Alto número revolta ciclistas, que vêm realizando série de protestos ao longo das últimas semanas. Haverá ato neste sábado

atualizado

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Gustavo Moreno/Especial Metrópoles
Ong rodas da paz, instala ghost bikes em homenagem a ciclistas que morreram nas vias do DF 1
1 de 1 Ong rodas da paz, instala ghost bikes em homenagem a ciclistas que morreram nas vias do DF 1 - Foto: Gustavo Moreno/Especial Metrópoles

O Distrito Federal registrou, só no último mês de outubro, a morte de seis ciclistas nas pistas da capital. No somatório do ano, já são 14 mortes: quatro em rodovias federais, sete em rodovias distritais e três em vias urbanas.

Um dos ciclistas que não sobreviveu à violência no trânsito foi Ricardo Campelo Aragão, 58 anos, morto em 10 de outubro. Ele pedalava com amigos, na altura da quadra 703 da Asa Norte, quando um carro atingiu ele e Nádia Bittencourt, 55.

“Um motorista de aplicativo que é testemunha disse que a gente foi pego em cheio. Eu fui para cima do capô e caí atrás do carro; e o Ricardo foi para frente”, conta Nádia.

Ela permanece muito abalada e a família não quer mais que saia de bicicleta. “Estou com medo agora, mas não pretendo parar. Bicicleta, além de saúde, é uma terapia para mim. Neste momento, é o que eu mais preciso”, afirmou.

Outra morte, que ainda não entrou nas estatísticas por ter ocorrido em novembro é a de Amanda Rocha do Nascimento, 21. Ela foi atropelada no Gama na terça-feira (10/11) e acabou morrendo no hospital da cidade.

A jovem andava de bicicleta quando foi atingida pelo Fox conduzido por Vinicius Monteiro do Vale, 18, que não se feriu. Segundo a Polícia Civil do DF (PCDF), Vinicius não tem Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Ele permaneceu no local do acidente e foi levado à delegacia para prestar esclarecimentos. Ele estava em estado de choque e não apresentava sinais de embriaguez.

Protestos

O aumento desse tipo de mortes após a volta das atividades econômicas no DF desencadeou uma onda de protestos de ciclistas. O mais recente foi no último dia 5, onde mais uma “ghost bike”, em alusão à morte de um ciclista, foi instalada no Cruzeiro. Trata-se de homenagem a Cláudio Mariano de Souza, que morreu atropelado em 2017. O ato foi organizado pela ONG Rodas da Paz, com apoio de grupos de pedal do DF e do Entorno.

O ciclista Cláudio Mariano tinha 69 anos quando morreu na Quadra 2 do Cruzeiro, local onde foi colocada a bike símbolo do luto para os ciclistas da capital. A motorista acusada do atropelamento foi absolvida pela Justiça do DF em fevereiro deste ano.

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Neste sábado, o mesmo grupo fará novo protesto pela proteção dos ciclistas no trânsito da capital. O ato está marcado para 14h, com concentração no Museu da República. De lá, o grupo vai pedalar em direção ao Palácio do Buriti e à Câmara Legislativa, sedes, respectivamente do Executivo e do Legislativo distritais.

Conforme explica o coordenador-geral da ONG Rodas da Paz, Raphael Dorneles, a principal reivindicação é a criação de um comitê para avaliar as mortes de ciclistas no DF de 2018 para cá. “Estamos negociando e é importante continuar pressionando, pois até o momento não tivemos resposta”, comenta.

Detran prepara campanhas

Conforme explica o diretor-geral adjunto do Departamento de Trânsito (Detran-DF), Gustavo Amaral, o número de mortes diminuiu em comparação ao mesmo período do ano passado, de 19 para 14 casos. Mas a meta do órgão sempre será zerar as mortes no trânsito. “Vamos lançar uma nova campanha sobre isso. É uma via de mão-dupla: o motorista precisa dar espaço e o ciclista, se fazer ser visto”, diz.

Segundo ele, outro projeto que o órgão já tem em andamento é a criação da Zona 30, que estabelece o limite de 30km/h em algumas áreas da capital. O Setor de Rádio e TV Sul (SRTVS) e o Setor Comercial Sul (SCS) são os locais mais avançados para a implementação. “A ideia é incluir mais sinalização, faixas de pedestre elevadas… Essas coisas diminuem a velocidade do carro e, num caso de acidente, reduz o risco de morte”, explica Amaral.

O mais forte deveria proteger o mais fraco

O doutor em trânsito da Estácio Brasília Artur Moraes comenta que boa parte dos acidentes, principalmente os fatais, são causados pelos motoristas, que acabam infringindo a legislação de trânsito. “Se for olhar, o condutor estava no celular, acima da velocidade permitida ou embriagado”, lista.

Para ele, o melhor que o ciclista pode fazer é não confiar nos carros. “Não pode achar que [o condutor do veículo] vai seguir a regra, pois não vai. O carro deveria proteger o mais fraco, no caso ciclistas e pedestres, mas a gente não vê muitas pessoas se preocupando”, lamenta.

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