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Escola com pior média do DF no Enem revela histórias nota 10

Maioria dos alunos do Centro Educacional 1 da Estrutural é da Educação de Jovens e Adultos (EJA). São maiores de 18 anos que voltaram a estudar

atualizado

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Daniel Ferreira/Metrópoles
Centro Educacional 1 da Estrutural
1 de 1 Centro Educacional 1 da Estrutural - Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles

O Centro Educacional 1 da Estrutural conseguiu um recorde negativo no Enem 2015: a escola foi a última colocada na média geral de pontuação no DF, com nota 457,54. O valor é quase a metade da instituição mais bem colocada, o Olimpo, que alcançou 733,72 pontos. Os números são objetivos. No entanto, a história por trás deles é bem mais complexa.

A instituição, que tem um ambiente colorido e bem cuidado, atende no turno diurno cerca de 2 mil crianças entre o 4º e o 6º ano do ensino fundamental. Já no período noturno, existem 820 alunos matriculados no ensino médio do CED 1 da Estrutural. A maioria deles, no entanto, não pensa em entrar na faculdade e precisa lutar contra o cansaço para conseguir dar seguimento aos estudos: são os alunos do Ensino de Jovens e Adultos (EJA), que atende a pessoas maiores de 18 anos que queiram completar o ensino médio.

São 520 alunos nessas modalidade, matriculados em 11 turmas da unidade de ensino. Segundo o vice-diretor da escola, Celso Cavalcante, a maioria trabalha durante todo o dia e já chega à escola cansada.

Eles estudam para conseguir arranjar um emprego melhor, já que os trabalhos que envolvem pessoas com apenas o ensino fundamental exigem, em maioria, um grande esforço braçal. Mas não costumam ter vontade de seguir faculdade ou nada assim

Celso Cavalcante, vice-diretor da escola
Daniel Ferreira/Metrópoles
A merendeira Marinete Batista, de 51 anos, está prestes a completar o ensino médio

É o caso da merendeira Marinete Batista, 51 anos. Ela parou de estudar aos 15, quando estava na 6ª série. Depois, casou, teve dois filhos e só foi pensar em voltar para a escola em 2007, já com 42 anos. “Decidi voltar por conta dos meus filhos, né? Tinha medo de eles me perguntarem dúvidas nas lições de casa e eu não saber responder”, conta a mulher, que trabalha em uma escola na Asa Sul. Agora, ela está no 3º ano e deve se formar no fim de 2016. Não fez o Enem 2015, mas prestou o exame em um ano anterior e se orgulha da nota tirada: “Foi alta, 300 e pouco”, diz, orgulhosa.

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A auxiliar de serviços gerais Régila Soares, 42 anos, hoje estuda na mesma sala que uma das filhas, cursando o 2º ano do ensino médio

A vontade de incentivar o estudo dos filhos também foi o que fez a auxiliar de serviços gerais Régila Soares, 42 anos, voltar à escola. Ela deixou os estudos ainda jovem, após se casar aos 15 anos, quando cursava a 5ª série. Régila, que trabalha das 7h às 17h, agora está no 2º ano do ensino médio, na mesma sala de uma das duas filhas, que também havia parado de estudar e voltou por conta do estímulo da mãe. “Às vezes só dá tempo de chegar do trabalho, tomar banho e vir. Mas eu gosto muito de aprender mais coisas. Menos matemática”, brinca.

Esforço
Para Celso Cavalcante, a realidade dos estudantes do EJA é muito diferente da vivida pelos alunos do matutino, “que vão à escola com a cabeça fresca” e têm mais tempo para se dedicar. “O objetivo do Enem não é atingir esses alunos (do EJA). A meta desses estudantes tampouco está relacionada com o Enem”, explica o vice-diretor.

No ano passado, segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), apenas 23 alunos da escola fizeram o exame. De acordo com Cavalcante, boa parte deles era composta de estudantes da única turma de ensino médio regular que era lecionada no local em 2015.

Os poucos alunos do EJA que preenchem a prova, segundo Cavalcante, usam o exame apenas como uma forma de conseguir o diploma com mais rapidez. Na modalidade, o conteúdo de um ano é passado em apenas seis meses e, como todos os alunos são maiores de 18 anos, estão habilitados a fazer o Enem. Se conseguirem atingir uma nota mínima, já recebem o certificado de conclusão do ensino médio. A carga horária dos alunos do noturno também tem 200 horas a menos do que a do diurno.

“Esses estudantes não se sentem preparados para competir com os outros. O objetivo que têm é apenas competir com eles mesmos e conseguir melhorar de vida”, explica o vice-diretor. A falta de segurança na Estrutural, o cansaço e a dificuldade da rotina também são apontados como problemas que atrapalham o desempenho desses alunos.

Inserção digital
Apesar de todos os obstáculos, Celso Cavalcante garante que a equipe profissional da escola está sempre disposta a incentivar os estudantes. Nos últimos anos, eles têm tentado assimilar, aos poucos, questões do Enem nas provas da escola. A equipe também realiza simulados em situações parecidas com as circunstâncias do exame, para que os matriculados se acostumem. Quando as inscrições para a prova são abertas, também são feitos mutirões para que os alunos possam utilizar os computadores e impressoras da escola, já que nem todos têm acesso a esses equipamentos.

Daniel Ferreira/Metrópoles
Apesar das dificuldades, Patrícia Torres, 36 anos, vai completar o 3º ano do ensino médio e já se prepara para a faculdade

Os números podem ainda não ser expressivos, mas essas iniciativas já começam a mostrar resultados. É o que comprova o caso da cabeleireira Patrícia Torres, 36 anos. Ela parou de estudar aos 12 anos, na 5ª série. Aos 29, decidiu voltar à sala de aula também para incentivar os filhos, e retornou à 1ª série do ensino fundamental. Hoje, no 3º ano, prestes a se formar, faz planos para o futuro, que envolvem o Enem deste ano: “Agora, posso fazer um concurso e entrar na faculdade. Ainda não escolhi o que quero fazer, mas sei que a vida vai ser melhor”.

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