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Sob aplausos e emoção, corpo de Sigmaringa Seixas é enterrado no DF

Despedida no Cemitério Campo da Esperança reuniu familiares, amigos, admiradores e muitas autoridades. Lula mandou coroa e carta

atualizado

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Filipe Cardoso/ Especial para o Metrópoles
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1 de 1 Sepultamento-Sig1 - Foto: Filipe Cardoso/ Especial para o Metrópoles

Amigos, políticos, autoridades e familiares se despediram de Luiz Carlos Sigmaringa Seixas, 74 anos. O advogado morreu nessa terça-feira (25/12) e foi enterrado na tarde desta quarta (26), no Cemitério Campo da Esperança da Asa Sul. Sem autorização da Justiça para ir ao velório, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que está preso na carceragem da Polícia Federal em Curitiba (PR), encaminhou uma coroa de flores à família do advogado.

O petista também enviou uma carta, que foi lida pelo deputado distrital Chico Vigilante (PT) pouco antes do sepultamento. “Foi com profunda tristeza que recebi a notícia da morte do meu grande amigo e companheiro de vida Luiz Carlos Sigmaringa Seixas. Nosso Sig teve a delicadeza de nos deixar no dia Natal, uma data em que a sensibilidade das pessoas está voltada para o amor e o bem, que foram a marca de sua passagem pela Terra. Saudades para sempre e um abraço carinhoso do amigo”, escreveu.

Lula lembrou a trajetória de Sigmaringa e a honra de tê-lo como advogado. “Mas principalmente o privilégio de ter o Sig como amigo leal e generoso, convivendo familiarmente com você, Marina, e com nossa querida Marisa. Estes momentos são as melhores que levarei de você”, assinalou o ex-presidente.

Na carta, Lula ainda elogiou a “decência, ética, dignidade, independência e honestidade intelectual de Sigmaringa”. “Prova disso é que o convidei duas vezes para a nossa Suprema Corte e ele recusou, com o argumento de que não se sentia preparado para a função, praticando um desprendimento raro, mas não surpreendente vindo dele.”

Nas palavras finais, lidas com emoção por Vigilante, Lula destacou: “A vida segue, companheiro Sigmaringa. Com a certeza de que o seu sonho de um Brasil de paz, fraternidade, de justiça social ainda se transformará em realidade, por obra do nosso povo maravilhoso e de pessoas como você”.

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O presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, esteve no velório e comentou a decisão da Justiça. “Está cumprindo um dispositivo legal. Mas, neste caso, é um amigo de mais de 30 anos, que era seu advogado e reconhecido quase como da família. Porém, é uma interpretação. Assim como às vezes interpreta ajudando, também interpreta de outras formas. E o Lula lamentavelmente tem tido péssimas interpretações”, alfinetou.

Por volta das 16h30, o corpo de Sigmaringa foi sepultado, sob forte emoção e muitos aplausos. Marina, viúva do advogado, agradeceu o carinho de familiares e amigos. Ela também pediu orações para que “Sig descanse em paz”.

O ex-governador da Bahia Jaques Wagner disse que as decisões da Justiça em relação a Lula estão “beirando o sadismo”. “Lula não é nenhuma ameaça. Mesmo que não seja um vínculo familiar, é pública a amizade longuíssima entre eles. Qual o mal que faria uma pessoa que está presa há oito meses?”, assinalou. Durante o cortejo, os presentes gritavam nome de Sig e “Lula livre”.

 

Hugo Barreto/Metrópoles

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, chegou cedo ao Campo da Esperança: “Pessoa extremamente importante para a história de Brasília e do Brasil. Foi relator da autonomia do Distrito Federal na Constituinte e isso transformou a cidade. Teve um papel importante na transição democrática, de conciliador, buscando unir as pessoas. Um bom amigo, jogávamos futebol juntos”.

Por volta das 11h, o governador eleito do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), foi ao cemitério para se despedir de Sigmaringa. Ele ficou cerca de 20 minutos no local. Na saída, fez muitos elogios ao advogado e amigo, que sempre o aconselhava.

“Nesse momento não tem esquerda, direita, não tem PT não tem MDB. Estamos perdendo um homem culto da mais alta relevância e qualidade na cidade. Brasília está aos prantos”, assinalou o advogado e ex-presidente da Ordem no DF (OAB-DF).

O governador Rodrigo Rollemberg (PSB) chegou por volta das 15h30 e acompanhou o sepultamento. Ele lamentou a perda. “Foi uma grande referência política pelo seu legado ético, pela sua conduta, pela sua defesa aos diretos humanos. Fui eleitor, admirador, seguidor. Tenho ele como uma referência importante para a minha vida política”, pontuou.

O ministro da Justiça, Torquato Jardim, disse que Sigmaringa era um grande advogado. “Um exemplo para a profissão. Sempre desprendido na busca da justiça. Em momentos difíceis da força nacional, ele teve uma presença muito importante, por amor à democracia e à liberdade. Essa é a grande mensagem que ele deixou”, pontuou.

O ex-secretário da Saúde do DF Jofran Frejat (PP) e o deputado distrital Chico Vigilante (PT) também acompanharam o velório desde as primeiras horas no Cemitério Campo da Esperança. “É uma grande perda. E ele ficou me devendo. Combinamos de tomar um vinho juntos, mas Deus vai dar um jeito”, disse Frejat.

“Sentimento de perda completa. Era um dos meus melhores amigos e um dos maiores juristas desse país. É o homem mais sério e humilde que conheci. Grande perda para o mundo político e jurista”, completou o petista.

O ex-procurador-geral da República Roberto Gurgel também foi se despedir do advogado. “Conheço o Sig desde que cheguei a Brasília, em 1982. Ele era amigos de amigos. Nossa amizade se fortaleceu na Constituinte. Fará muita falta, sobretudo no momento que vivemos no país.”

Câncer
Sigmaringa Seixas perdeu a batalha para um câncer. Ele chegou a fazer um transplante de medula há alguns dias no Hospital Sírio-Libanês de São Paulo, mas não resistiu às complicações do procedimento.

Carioca, tornou-se um advogado conhecido e respeitado por atuar em causas humanistas. Defendeu estudantes da Universidade de Brasília (UnB) e sindicalistas. Também militou ao lado de petistas durante muitos anos. Ele foi deputado federal constituinte e acabou reeleito por duas vezes. Ele deixa a esposa, Marina, e dois filhos.

Formado em direito pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Sigmaringa foi deputado federal pelo DF entre 1987 e 1995 e também entre 2003 e 2007. O ex-parlamentar era filho de Antônio Carlos Sigmaringa Seixas, que presidiu a Ordem dos Advogados do Brasil no Distrito Federal (OAB-DF) nos anos 1970 e morreu em janeiro de 2016.

Quem era
Sigmaringa Seixas tornou-se um célebre advogado durante a ditadura militar, quando defendeu vítimas de abusos. Muito próximo do bispo Dom Evaristo Arns, igualmente defensor dos direitos humanos, Seixas ajudou a montar o relatório Brasil: Nunca Mais, que compilou dados sobre a tortura aplicada aos opositores do regime.

Além de atuar na esfera dos direitos humanos, Sigmaringa era militante radical da necessidade de diálogo entre grupos antagônicos. Próximo aos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ele tentou, em vão, organizar um encontro de ambos ao longo do processo de impeachment de Dilma Rousseff.

Sua proximidade com o PSDB era antiga e remontava a um convite do então governador de São Paulo, Mário Covas, que, em 1991, chamou Seixas para construir o PSDB no Distrito Federal. Ele ficou na sigla até depois das eleições de 1994 – quando se candidatou ao Senado e perdeu. Na sequência, discordou da filiação de José Roberto Arruda à legenda e deixou o ninho tucano.

Sigmaringa filiou-se ao PT, mas, ainda assim, manteve os laços de proximidade com o PSDB. Ele chegou a ser padrinho do filho de Pedro Parente, ex-ministro-chefe da Casa Civil de FHC e presidente da Petrobras no governo de Michel Temer.

Em sua conta pessoal no Facebook, Rafael Parente, seu afilhado, contou que visitou Seixas no hospital antes do falecimento. “Ontem [24/12] foi a nossa última conversa, na UTI. Ele, mesmo frágil, fazia perguntas e piadas, como de costume”, narrou.

Com perfil conciliador, Sigmaringa articulou em 1998 o apoio de José Serra (PSDB), então ministro da Saúde, à candidatura de Cristovam Buarque ao governo. Seixas era seu vice. No mesmo pleito, o presidente tucano FHC apoiou o opositor de Cristovam e vencedor das eleições, Joaquim Roriz.

Seixas chegou a ser cotado para assumir uma vaga como ministro do Supremo Tribunal Federal em 2006, com a aposentadoria do ministro Carlos Velloso. No seu lugar, entretanto, acabou escolhido Ricardo Lewandowski.

Ele manteve, de qualquer forma, a amizade com Lula e ficou parcialmente responsável por sua defesa no processo que levou o ex-presidente à cadeia. Segundo relatos do jornal Folha de S. Paulo, foi Sigmaringa quem arrumou a cama do ex-presidente na primeira noite que Lula passou na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, no dia 7 de abril.

Confira a repercussão da morte de Sigmaringa:

Sepúlveda Pertence, ex-ministro do STF e ex-presidente do TSE

“Estou profundamente entristecido. Foi a morte de mais um dos meus amigos mais queridos. Luiz Carlos como homem público, advogado e sobretudo como figura humana, deixa muita saudade.”

Kakay, advogado criminalista

“Era meu irmão. Quando cheguei em Brasília, em 1977, foi um dos meus primeiros amigos. Só você ver a quantidade de diferentes pessoas que estão aqui, que mandaram coroa de flores para ele. Tem uma dimensão humana e política muito grande. Para nós, amigos, é um desastre. Ele morreu em um momento extremamente difícil. O Brasil do jeito que está precisava de um cara como ele.”

Juliano Costa Couto, presidente da OAB-DF

“Sigmaringa deixa uma marca de sabedoria e serenidade, além de firmeza ética na advocacia. Brasília perde um ilustre cidadão. A advocacia perde um talento. E eu, um amigo querido.”

Romão Cícero de Oliveira, presidente do TJDFT

“Todos nós perdemos, não só a advocacia, mas o mundo jurídico. Só não foi ministro do Supremo porque não quis.”

Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula

“Estamos muito tristes e abalados. Estávamos otimistas. Falei com o Sigmaringa depois do transplante e estava tudo bem. Ele era muito otimista, um ótimo amigo. É uma das pessoas que mexeu com as causas de direito civil. Faltam mais pessoas assim. Temos que retomar de novo porque esse tipo de pessoa fará falta.”

Marco Aurélio Mello, ministro do STF 

“Teve uma trajetória elogiável. Foi Constituinte, teve mandatos de deputado federal e honrou a advocacia. Ele dizia que não estava à altura de assumir o Supremo, mas estava. Infelizmente não integrou a Corte, mas teria prestado um grande serviço.”

Presidente Michel Temer (MDB)

“Lamento imensamente a morte do grande advogado e homem público, Sigmaringa Seixas, um lutador pela democracia brasileira. Meus sentimentos de pesar à família e aos amigos.”

Ibaneis Rocha, advogado, ex-presidente da OAB-DF e governador eleito do DF

“Advogado atuante de causas humanistas, político marcante em um momento decisivo para o DF e o Brasil, ajudou a escrever a Constituição do país e desempenhou papel importante para ampliação das liberdades civis e dos direitos e garantias fundamentais do cidadão. Acima de tudo, morreu um amigo, que irá fazer falta.”

Rodrigo Rollemberg, governador do DF

“Brasília chora e lamenta a morte de um dos maiores nomes de sua história, o ex-deputado federal Luiz Carlos Sigmaringa Seixas. Amigo de toda hora, honrado, honesto e intransigente defensor da democracia.”

Claudio Lamachia, presidente nacional da OAB

“Teve uma atuação memorável tanto na defesa dos direitos humanos como também na dedicação a advocacia.”

Ricardo Berzoini, ex-ministro da Previdência e do Trabalho

“Além do exemplo político e como advogado, ele sempre lutou pela democracia, pelos direitos humanos, pelos trabalhadores. Antes de mais nada, era um amigo sempre disponível e todos que conviveram com ele são testemunhas disso.”

Délio Lins e Silva Júnior, presidente eleito da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Distrito Federal (OAB-DF)

“Perda muito grande, não só para os advogados, mas para o mundo. Um ser humano que vai fazer muita falta para o país.” 

Paulo Sérgio Domingues, ex-presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe)

“Um grande ser humano, advogado e político que lutou pela liberdade, pela democracia e pelas causas sociais no Brasil. Vai fazer muita falta. Sigmaringa teve uma bela história de grande defensor das liberdades e dos menos favorecidos. Um incansável democrata e humanista.” 

Hélio Doyle, ex-chefe da Casa Civil do GDF 

Era um amigo de verdade. Para mim, seu maior trabalho foi juntar sigilosamente, durante seis anos, as informações sobre as torturas nos anos de ditadura e que estão publicadas no livro Tortura nunca mais. Todos os que o conheceram estão muito tristes hoje”.

Nota de pesar do CAU/BR

“O Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil lamenta o falecimento do advogado e ex-deputado federal Sigmaringa Seixas. Prestamos nossas homenagens e condolências à família, junto a muitos outros que puderam conviver com ele. Grande defensor dos direitos humanos, ativista da redemocratização brasileira e tantas causas fundamentais, Sigmaringa Seixas teve um papel importantíssimo na aprovação da Lei 12.378, que regula o exercício da Arquitetura e Urbanismo no Brasil e cria o CAU/BR e os CAU/UF.”

Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) 

“Sigmaringa Seixas tinha compromisso com a Justiça e o bem-estar social. Deixou sua marca como homem público, deputado constituinte e advogado primoroso, sempre pronto a lutar pelos Direitos Humanos, pela Democracia e pela Liberdade em nosso País, trabalhando com humildade pelo bem comum, sem buscar os holofotes. Entre as características de sua personalidade, estavam a discrição e a vocação para o outro. Um Homem de Bem! Uma grande perda para o Direito, a Advocacia e o Brasil. Minha solidariedade à Marina, filhos, familiares e amigos”.

Jofran Frejat, ex-deputado federal e ex-secretário de Saúde do Distrito Federal 

“Dia de luto. Fomos companheiros na constituinte. Eu era presidente da sub-comissão da União, Distrito Federal e Territórios e ele foi o relator. Uma pena!”. 

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