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Deputados pagaram ao menos R$ 2,5 mi para suspeitas de lavar dinheiro

O site da Câmara revela que 12 parlamentares contrataram as empresas Cloud Technology e Atos Dois entre janeiro de 2015 e junho de 2018

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
Congresso Nacional
1 de 1 Congresso Nacional - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Duas empresas suspeitas de lavar dinheiro receberam ao menos R$ 2.530.041 de deputados federais, como Alberto Fraga (DEM) e Rogério Rosso (PSD), na atual legislatura. O site da Câmara dos Deputados revela que 12 parlamentares contrataram as empresas Cloud Technology e Atos Dois Propaganda e Publicidade entre janeiro de 2015 e junho de 2018.

A Coordenação Especial de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado, aos Crimes contra a Administração Pública e aos Crimes contra a Ordem Tributária (Cecor) da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) deflagrou a Operação Blindness nessa quinta-feira (6/9). Foram cumpridos sete mandados de busca e apreensão nas organizações e em residências de pessoas ligadas a essas companhias.

De acordo com o site da Câmara dos Deputados, os deputados despenderam ao menos R$ 802.809 para a Cloud Technology entre janeiro de 2015 e junho de 2018. A Atos Dois recebeu mais: pelo menos R$ 1.727.151 a partir de fevereiro de 2015.

Fraga desembolsou R$ 968.520 para as instituições durante o atual mandato. Do total, R$ 298.120 foram para Cloud Technology, no intervalo de fevereiro de 2015 e 2016, e R$ 670.400 para a Atos Dois, entre março de 2016 e junho de 2018.

As empresas forneceram, por exemplo, manutenção preventiva de site, produção de informativo e criação de peças publicitárias para o coronel da reserva da Polícia Militar.

Entre os oito deputados federais do DF, Rogério Rosso, adversário de Fraga na disputa pelo Palácio do Buriti, também contratou a Atos Dois. Ainda segundo dados do portal da Câmara, o pessedista desembolsou R$ 4.400 por 30 mil panfletos em dezembro de 2017.

Confira a nota fiscal emitida em nome do Rosso:

Nota fiscal eletrônica da Atos by Metropoles on Scribd

As empresas brasilienses também prestaram serviços de criação de peças publicitárias, diagramação de informativo, gestão de conteúdo e manutenção de site, por exemplo, para congressistas de outras unidades da Federação.

Cloud Technology e Atos Dois emitiram notas fiscais para os deputados federais André Moura (PSC-CE), Carlos Henrique Gaguim (DEM-TO), Hiran Gonçalves (PP-PR), Silas Câmara (PRB-AM), Danilo Cabral (PSB-PE), Fausto Pinato (PP-SP), Josi Nunes (Pros-TO), Jozi Araújo (Podemos-AP), Júlia Marinho (PSC-PA) e Pedro Vilela (PSDB-AL).

Confira quanto cada um pagou para Fátima Ferreira
Nome fantasia: Cloud Technology

CNPJ: 17.589.509/0001-14

André Moura (PSC-CE)
Despesa: R$ 294.070,00

Alberto Fraga (DEM-DF)
Despesa: R$ 298.120,00

Carlos Henrique Gaguim (DEM-TO)
Despesa: R$ 48.150,00

Hiran Gonçalves (PP-RR)
Despesa: R$ 148.550,00

Silas Câmara (PRB-AM)
Despesa: R$ 14.000,00

Total: R$ 802.890

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Confira quanto cada um pagou para Atos Dois Propaganda e Publicidade
Nome fantasia: Xequemate Comunicação Estratégica
CNPJ: 13.182.427/0001-08

André Moura (PSC-CE)
Despesa: R$ 555.910,00

Alberto Fraga (DEM-DF)
Despesa: R$ 670.400,16

Carlos Henrique Gaguim (DEM-TO)
Despesa: R$ 65.690,00

Danilo Cabral (PSB-PE)
Despesa: R$ 33.880,00

Fausto Pinato (PP/SP)
Despesa: R$ 2.700,00

Hiran Gonçalves (PP-RR)
Despesa: R$ 115.467,87

Josi Nunes (Pros-TO)
Despesa: R$ 4.900,00

Jozi Araújo (Podemos-AP)
Despesa: R$ 213.700,00

Júlia Marinho (PSC-PA)
Despesa: R$ 4.500,00

Pedro Vilela (PSDB-AL)
Despesa: R$ 13.603,04

Rogério Rosso (PSD-DF)
Despesa: R$ 4.400,00

Silas Câmara (PRB-AM)
Despesa: R$ 42.000,00

Total: R$ 1.727.151

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Investigação
Segundo o delegado Virgílio Agnaldo Ozelami, ambas empresas faturaram mais de R$ 10 milhões nos últimos três anos, mesmo tendo como sócios pessoas de baixa renda, entre elas, uma ex-diarista. As atividades ilícitas envolveriam repasses de prefeituras e de verbas indenizatórias.

Os estabelecimentos revirados pelos agentes teriam ligação com Francisco Edielson, assessor parlamentar do deputado Alberto Fraga, apontou a polícia. Edielson foi nomeado em 12 de julho de 2018. Fraga é um dos 10 candidatos que disputam o comando do GDF com o atual governador Rodrigo Rollemberg (PSB), candidato à reeleição.

Para a polícia, trata-se de um núcleo familiar que atuaria de forma suspeita. A dona da Atos é Flavia Ferreira dos Santos, ex-mulher de Edielson e irmã de Fátima Ferreira, dona da empresa homônima com nome fantasia Cloud Technology. A ex-diarista seria Fátima Ferreira, segundo as investigações.

O filho de Flávia e Edielson também atua na Atos e trabalha na campanha da buritizável Eliana Pedrosa (Pros).

Cota parlamentar

Todos os serviços foram custeados com dinheiro público, por meio da cota para exercício parlamentar. O dinheiro pode ser usado para despesas com passagens aéreas, telefonia, serviços postais, manutenção de escritórios, assinatura de publicações, fornecimento de alimentação ao mandatário, hospedagem e divulgação da atividade parlamentar, entre outros itens.

Os deputados têm até 90 dias, após o fornecimento do produto ou a prestação do serviço, para apresentar a documentação comprobatória da despesa e, então, receber desembolso.

Tal benefício foi instituído em julho de 2009, pelo Ato da Mesa 43. A Câmara dos Deputados explicou, em nota, que “até então, os deputados contavam com a Verba Indenizatória do Exercício Parlamentar, a Verba de Transporte Aéreo e a Cota Postal-Telefônica”. A cota para exercício parlamentar reúne todas elas.

Desde abril de 2009 as informações são divulgadas na internet. A Câmara ainda detalhou ter adotado várias medidas para facilitar a fiscalização dos gastos parlamentares pela sociedade e por órgãos de fiscalização externa, como a reformulação do sistema de pesquisa da cota no portal.

O outro lado
Ao Metrópoles, Alberto Fraga negou qualquer irregularidade, afirmou que apresentou todas as notas fiscais dos serviços prestados para divulgação da sua atividade parlamentar, entre eles, publicações em redes sociais e impressão de informativos.

A assessoria do parlamentar disse que a investigação tem cunho político, “uma vez que Fraga ameaça o projeto de reeleição de Rollemberg”. Segundo pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira (6), o deputado federal está em quarto lugar na intenção de votos dos brasilienses, com 10%, atrás de Eliana Pedrosa (18%), Rollemberg (15%) e Rosso (12%).

Também foi confirmado, por meio da assessoria de Fraga, que Edielson é lotado no gabinete. “Mas o que ele faz fora do horário de serviço não é de responsabilidade do deputado e, se forem comprovadas as irregularidades, providências serão tomadas”, completou.

A assessoria de Rogério Rosso alegou que a empresa prestou serviço ao gabinete “com produção de material e prestação de contas de atividades parlamentares”.

A ex-deputada distrital e candidata ao GDF Eliana Pedrosa preferiu não comentar o caso. Em nota enviada na segunda-feira (10), Carlos Henrique Gaguim disse, por meio da assessoria de imprensa, que desconhece qualquer irregularidade na contratação da Atos Dois. Não comentou, porém, os repasses para a Cloud.

Os outros parlamentares não haviam retornado o contato da reportagem até a última atualização desta matéria.

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