metropoles.com

Com melhora da pandemia, transplantes aumentaram 42% no DF em 2021

Até agosto deste ano, foram realizados 448 transplantes de órgãos na capital. Apesar disso, a fila tem 962 pacientes à espera de novo órgão

atualizado

Compartilhar notícia

Hugo Barreto/Metrópoles
Ivaldo José Vieira, transplantado
1 de 1 Ivaldo José Vieira, transplantado - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

O costureiro Ivaldo José Vieira (foto em destaque), 50 anos, passou quatro anos fazendo hemodiálise até, enfim, conseguir realizar transplante de rim e sentir ter nascido de novo. O procedimento foi realizado no Instituto de Cardiologia do Distrito Federal (ICDF), no dia 17 deste mês de setembro, com rim doado pela irmã dele, Maria Eunice Vieira, 52. A história dele tem pontos em comum com centenas de pacientes que conseguiram receber um novo órgão neste ano no DF, após a melhora do cenário da pandemia.

“Eu passei quatro anos esperando, fazendo hemodiálise e exames, porque meu rim já não funcionava mais”, conta o morador de Ceilândia. “Quando chegou a pandemia, foi ainda mais difícil. A minha irmã já falava que queria doar para mim, mas tínhamos medo de fazer transplante na pandemia. Depois que vacinamos, já corremos para fazer”, completa.

A auxiliar de limpeza Maria Eunice, irmã dele, relata que desde o início manifestou a vontade de ser a doadora. “A primeira vez que eu o visitei na clínica e vi a situação, partiu meu coração. Então, desde o começo eu queria doar. Mas ele falava: ‘Vamos esperar mais um pouquinho, que vai aparecer alguém'”, assinala.

No ano passado, Ivaldo concordou em receber o rim doado pela irmã, mas os dois resolveram esperar uma queda nos casos de Covid-19. Em julho deste ano, ele se vacinou contra o vírus e, no mês seguinte, foi a vez de Maria. “Depois disso, não pensamos duas vezes. O coração dele se abriu e eu falei que era o momento certo. Sentamos com a família e todos apoiaram”, diz Maria Eunice.

“Eu nunca fiz tanto exame na minha vida, mas valeu a pena. A minha vontade é de gritar para o mundo: ‘Seja um doador’. Vale muito a pena”, destaca a auxiliar de limpeza, com bom humor.

Para Ivaldo, o sentimento é de uma nova vida. “Eu nasci de novo. Os exames agora estão todos bons, eu não sinto mais fadiga, não sinto nada. Renasci”, comemora.

0
Aumento de transplantes em 2021

Segundo o portal InfoSaúde, da Secretaria de Saúde do DF (SES-DF), até agosto deste ano foram realizados 448 transplantes de órgãos na capital. No mesmo período de 2020, a pasta registrou 315 procedimentos. Isso representa aumento de 42,2% no número de transplantes em 2021.

Também cresceu a quantidade de novos cadastros na lista de espera por um órgão ou tecido. Em 2020, de janeiro a agosto, foram feitas 418 novas inscrições. Neste ano, a fila recebeu mais 615 pessoas – alta de 47,1%.

Conforme analisa Camila Hirata, diretora da Central Estadual de Transplantes do DF (CET-DF), o aumento dos números está ligado à retomada de procedimentos e à melhora do cenário da pandemia.

“A gente pode notar principalmente o aumento nos transplantes de córnea. No ano passado, entre abril e setembro, os transplantes de córnea ficaram suspensos por causa da pandemia, para minimizar a exposição dos receptores. Então, somente os casos de urgência eram realizados. Com a retomada dos transplantes eletivos, e o transplante de córnea tem um grande volume, a gente já percebe também esse aumento”, explica.

“Na segunda onda [da pandemia], nesse primeiro trimestre, a gente notou um impacto, então teve uma queda. Mas depois que houve esse avanço da vacinação e esse maior controle da pandemia a gente observou que conseguiu aumentar o número de doadores, e isso consequentemente também aumentou o número de transplantes”, acrescenta Camila Hirata.

Veja, abaixo, os números no painel de transparência da SES-DF:

0
Setembro verde

A campanha Setembro Verde alerta sobre o incentivo à doação de órgãos e tecidos. Apesar do aumento na quantidade de transplantes neste ano, atualmente 962 pacientes aguardam na lista por um novo órgão ou tecido no DF.

No Distrito Federal, é possível realizar pelo Sistema Único de Saúde os seguintes transplantes de órgãos e tecidos: coração, rim, fígado, córneas e medula óssea. A rede privada oferece as mesmas modalidades e mais o transplante de tecido musculoesquelético.

Os procedimentos são feitos em hospitais da rede pública, conveniados e da rede privada:

  • Hospital de Base
  • Hospital Universitário de Brasília (HUB)
  • Hospital da Criança de Brasília (HCB)
  • Instituto de Cardiologia do DF (ICDF)
  • Hospital Brasília
  • Hospital DF Star
  • Hospital Sírio-Libanês
  • Hospital Santa Lúcia

O ICDF é referência em transplante de coração para pacientes do DF e de outros estados, principalmente das regiões Norte e Centro-Oeste. Somente nesta unidade são realizados transplantes de coração, fígado e medula óssea no DF pelo SUS.

O Hospital Regional da Asa Norte (Hran), que é referência no atendimento a queimados no DF e no Centro-Oeste brasileiro, faz transplantes de pele por meio de autorizações especiais e está em processo de credenciamento para realizar esse procedimento.

Como doar

Existem dois tipos de doadores: vivo e morto. O doador vivo pode doar um dos rins, parte do fígado, medula óssea ou parte do pulmão, desde que concorde com a doação e que não haja prejuízo para a sua saúde. Pela lei, cônjuges e parentes até o quarto grau podem ser doadores. Não parentes, só com autorização judicial. “Isso foi criado para evitar um comércio, porque é ilegal. A doação é um ato livre”, pontua Camila Hirata.

O doador falecido é aquele que a família autorizou a doação após o seu falecimento. “Geralmente, são pessoas vítimas de um traumatismo craniano, de um acidente, ou mesmo do acidente vascular cerebral (AVC), e evoluem com morte encefálica. Então é aquele diagnóstico bem criterioso, composto de exames clínicos, de imagem, feitos por especialistas, que confirmam a morte da pessoa. Então, a família é consultada e é oferecida a possibilidade de doação”, assinala a diretora da CET-DF.

A profissional ressalta que é importante que as pessoas conversem com seus familiares sobre o desejo de ser um doador. “A família autorizando essa doação – são familiares de até segundo grau –, tem de assinar um termo de autorização na presença de duas testemunhas. Como a nossa lei hoje no Brasil é consentida, depende dessa autorização familiar. Por isso as campanhas sempre incentivam que os doadores conversem com seus familiares, para manifestar esse desejo em vida”, enfatiza Camila.

Caminhada pela Vida

Neste domingo (26/9), um grupo de pacientes transplantados do DF fará a Caminhada pela Vida, em prol da causa da doação de órgãos. O evento está marcado para as 8h, no Eixão do Lazer.

Confira as informações:

Compartilhar notícia