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Chacina no DF: Justiça começa a ouvir testemunhas e acusados

Audiência de instrução está prevista para acontecer durante 3 dias. Ao todo, 10 pessoas da mesma família foram assassinadas

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1 de 1 fotos de pessoas 3 x 4 - Foto: Reprodução

Começou, nesta quarta-feira (13/9), a audiência de instrução do caso que ficou conhecido como a maior chacina do Distrito Federal. O crime, que chocou o país, vitimou 10 pessoas da mesma família entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023, em Planaltina, e resultou em cinco pessoas presas por suspeita de envolvimento no caso.

Justiça do DF reservou três dias para ouvir os acusados de cometerem o crime, testemunhas e advogados no Tribunal do Júri de Planaltina.

Nesta quarta foram ouvidas 11 das cerca de 20 testemunhas arroladas.

Veja quem são as vítimas e os acusados:

Infográfico com fotos de vítimas da chacina no DF e suas relações familiares bem como com os assasinos - Metrópoles

O primeiro a falar foi um corretor de imóveis. Ele declarou ter sido procurado pelo pai da família assassinada, o mecânico Marcos Antônio Lopes de Oliveira, de 54 anos, que pediu ajuda para comprar dois imóveis.

Segundo a testemunha, Marcos disse que vendeu um imóvel e que precisava desocupá-lo. Por isso, queria comprar outras duas casas, sendo uma para sua ex-esposa, Cláudia Regina Marques de Oliveira, de 55 anos, e para outra mulher.

Localização de celular

Filho de Elizamar da Silva, Ivanilson da Silva Campos foi a segunda testemunha a depor. O homem, que prestou depoimento por vídeo, por estar hospitalizado, disse que procurou a polícia no dia 14 de janeiro, dias após não ter mais notícias da mãe e não conseguir contatar o padrasto, Thiago Gabriel Belchior.

Ele declarou que tinha registrado no celular dele o e-mail da mãe, e que foi assim que conseguiu verificar que o sinal do aparelho dela apontou que esteve na chácara e, depois, em uma via em Goiás, onde mais tarde foi encontrado o corpo de Elizamar e dos filhos dela.

Ivanilson disse, ainda, que chegou a ir à chácara, mas que o local estava fechado. Durante o depoimento, o filho de Elizamar declarou que conseguiu falar com Gideon e que o réu teria contado a ele que Thiago teria viajado com a família.

A testemunha contou que não sabia de desavenças entre Marcos e os réus e que não chegou a desconfiar de quem teria matado a mãe e os irmão. “Estava em choque, Não sabia o que pensar na hora”, afirmou.

Réu com queimaduras

A terceira testemunha a depor foi uma ex-namorada de Gideon. A mulher disse que conheceu o réu em um aplicativo de relacionamentos e que só soube que o namorado era criminoso quando policiais foram à casa dela para prendê-lo.

Ela contou, ainda, que na véspera da prisão Gideon apareceu “com o corpo todo queimado”. Questionado, respondeu que juntou lixo na chácara onde morava e, antes de conseguir atear fogo, uma outra pessoa o queimou acidentalmente.

A quarta testemunha disse em juízo que conhecia as vítimas e os acusados e que se encontravam em vaquejada. A testemunha tinha conhecimento do passado criminoso de Marcos, que acumulava passagens por furto e roubo.

Ele disse que mandou mensagem em 28 de dezembro para chamar Marcos para uma vaquejada. A mensagem teria sido visualizada à 0h, mas não foi respondida. O homem contou que achou estranho, porque Marcos não deixava de responder.

Ao perceber que não teria uma resposta, mandou mensagem para a esposa do amigo, Renata Belchior, e recebeu como resposta . A mulher teria dito que estava com a família “em Minas Gerais” e que estavam voltando. Ele ficou sabendo sobre o crime depois que o caso venho à tona.

O quinto ouvido foi um policial rodoviário federal que esteve no local do crime após os desaparecimentos, a pedido de um amigo dele. Esse tal amigo teria solicitado a ajuda do policial em nome de um sobrinho de Marcos, chamado Isaías, que estaria com medo de ir à casa do próprio tio.

Segundo o policial, o sobrinho de Marcos teria dito que havia pedido permissão na Polícia Civil para que a testemunha pudesse entrar na chácara e cuidar dos animais. O PRF não esclareceu se confirmou a existência dessa permissão. Disse, ainda, que acredita que a chácara tenha sido periciada antes da chegada dele.

O PRF declarou que na cena do crime encontrou um celular velho escondido embaixo de uma caixa de ferramentas e o entregou em uma delegacia de polícia.

Namorado soube de morte pela imprensa

O namorado de Gabriela Belchior, de 25 anos, foi a sexta testemunha a ser ouvida. Ele contou que o último contato presencial com a jovem ocorreu em 27 de dezembro. No dia seguinte, mandou mensagem e ela não respondeu.

Tempos depois, conforme relatou, Gabriela teria mandado um áudio informando que iria para o hospital com o pai dela, Marcos, e que explicaria tudo em outra ocasião, mas sumiu novamente.

Em um último áudio enviado por Gabriela, a vítima estava ao lado da mãe informando que a família fugia da polícia, que perseguia Marcos. O namorado contou que utilizava um aplicativo com Gabriela que mostrava a localização dela. Segundo o app, ela estava próxima da região de Planaltina.

A testemunha também relatou que tinha conhecimento do passado criminoso do sogro, mas que nunca pediu mais detalhes. O jovem contou que ficou sabendo da morte da namorada pela imprensa, momento em que procurou a delegacia.

O último a falar antes do intervalo para o almoço foi o pai de Cláudia e avô de Ana Beatriz. O idoso relatou aos presentes que Cláudia o procurou dizendo que pretendia contar algo importante, mas só o faria pessoalmente. Tempo depois, ele declarou que tomou conhecimento de que Cláudia gostaria de dizer a ele que Marcos furtava carros para revender as peças.

Emocionado, ele declarou que tinha o hábito de falar frequentemente com a filha. Ao perceber que não conseguia mais contatá-la, foi a uma delegacia.

Compra de casa

A oitava testemunha narrou que comprou a casa de Cláudia em 7 dezembro de 2022. Ela contou que gostou da casa, conversou com Cláudia e apresentou uma proposta, que foi aceita.

A mulher e Cláudia, então, foram oficializar a venda no cartório. Na data, a vítima da chacina foi ao local acompanhada de Marcos e de um corretor, ocasião em que uma parte da entrada foi dada em dinheiro em espécie e outra, por transferência. Segundo a testemunha, o combinado era Cláudia liberar a casa até 7 de janeiro.

Em 2 de janeiro, a mulher disse que fez uma visita ao imóvel, com o consentimento de Cláudia. No dia, a vítima da chacina havia informado que tinha previsão de deixar o local até o dia 5. Com a data de entrega próxima, Cláudia parou de respondê-la.

Em 7 de janeiro, a compradora do imóvel contou que foi até o endereço da mãe, que ficava próximo à casa de Cláudia, e decidiu passar na frente do imóvel para ver se conseguia encontrar a vítima. Lá, viu dois dos réus deixando o local: Fabrício e Horácio.

A testemunha narrou que conversou com os autuados e disse que estava tentando contatar Cláudia, em vão.

Cerca de 40 minutos depois, recebeu uma mensagem do número de Cláudia informando que os homens terminariam de tirar a mudança e que, então, ela poderia pegar as chaves do imóvel. E assim aconteceu, de acordo com a testemunha.

A nona testemunha pediu sigilo durante o depoimento.

Emboscada frustrada

O 10º a ser ouvido foi Wandrezito Moura Ferreira, amigo próximo das vítimas. Ele disse acreditar que também seria morto pelos acusados.

Ao contrário de outras testemunhas, o homem não demonstrou medo ao depor na frente dos réus. Ele contou que recebeu uma mensagem, supostamente enviada por um dos acusados, tentando atraí-lo para a chácara. No texto, a pessoa que mandava a mensagem se passava pelo mecânico Marcos Antônio Lopes de Oliveira, de 54 anos.

A desconfiança de Wandrezito veio exatamente pelo fato de a mensagem ser escrita, uma vez que Marcos não escrevia mensagens, apenas mandava áudio. Sem a certeza de que se tratava do amigo, ele não foi ao local.

A última a depor no dia foi Núbia Cristina Belchior, irmã de Renata. Ela contou que Renata chegou a vender um terreno localizado no condomínio Porto Rico, em setembro de 2022. A propriedade teria sido vendida por R$ 68 mil.

O dinheiro, conforme relatou a mulher, foi emprestado pela irmã a Marcos, que investiria em um ônibus para vaquejada.

Núbia explicou que tomou conhecimento das mortes pela mídia. Ao ficar sabendo que o carro de Elizamar foi encontrado com corpos carbonizados, procurou a polícia para relatar o sumiço da irmã e dos sobrinhos.

Disse, ainda, que nunca desconfiou dos suspeitos, que eram tratados como amigos por parte das vítimas.

Uma fala de Núbia, porém, chamou atenção. Segundo ela, Gideon teria comentado em outra ocasião que sentiria “prazer em olhar nos olhos de uma pessoa implorando pela vida”.

Júri após audiências

Apenas após esta etapa poderá ter início o Tribunal do Júri, caso o magistrado responsável pelo caso entenda que seja necessário.

A audiência chegou a ser iniciada em junho deste ano, porém, após pedido dos advogados de um dos suspeitos, foi adiada.

Dez mortos na mesma família: a maior chacina da história do DF

Relembre o caso

O crime terminou com 10 pessoas da mesma família assassinadas, entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023, em Planaltina. A chácara em que parte das vítimas morava, no Itapoã, avaliada em R$ 2 milhões, seria a motivação dos criminosos para matá-las.

A execução dos 10 assassinatos levou 18 dias. Para a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), os executores da chacina formaram uma associação criminosa armada.

Quatro dos acusados — Gideon Batista de Menezes, Horácio Carlos, Fabrício Silva Canhedo e Carloman dos Santos Nogueira — respondem por uma série de crimes, cujas penas somadas podem chegar a 340 anos de prisão para cada um. Contudo, no Brasil, o tempo máximo de permanência na cadeia não pode passar de 40 anos.

O quinto réu, Carlos Henrique Alves da Silva, conhecido como “Galego”, responde pelo homicídio de Thiago Gabriel.

De todos os acusados, somente Fabrício não será ouvido nesta semana. A defesa dele pediu para que o caso dele fosse desmembrado, o que foi aceito pelo juiz.

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