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Bombeiro que desviava munições da PM guardava granadas em casa

Militar foi indiciado pela PCDF por abastecer Comando Vermelho, no Rio de Janeiro, com armamentos pesados. Justiça o condenou

atualizado

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Hugo Barreto/Metrópoles
Operação Paiol
1 de 1 Operação Paiol - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Indiciado por desviar munições da Polícia Militar e do Exército para o Comando Vermelho, Marcelo Rodrigues Gonçalves foi condenado pela Justiça do DF. Segundo o processo, julgado pela 1ª Turma Criminal, durante buscas feitas por policiais civis na casa do militar, na Quadra 7 da Candangolândia, foram encontradas cinco granadas, além de balas de fuzil. O militar é considerado o líder da organização criminosa e foi preso em flagrante no momento da apreensão.

Por determinação da 3ª Vara Criminal de Brasília, as buscas foram feitas no âmbito da Operação Fogo Amigo – desencadeada em dezembro do ano passado – pela Divisão de Repressão às Facções Criminosas (Difac) da Coordenação Especial de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Cecor).

De forma unânime, os magistrados da 1ª Turma Criminal o condenaram à pena de três anos e três meses de reclusão e 10 dias multa. Na sentença, os desembargadores George Lopes e Mário Machado destacam que “a acusação efetivamente trouxe aos autos as provas suficientes a comprovar a subsunção da conduta ao tipo legal incriminado”.

O relatório policial detalha que o militar possuía munição de uso proibido e artefato explosivo. No dia da operação, ao ser questionado sobre a existência de armas ou munições de origem ilícita, o bombeiro foi a um dos cômodos da casa e pegou, dentro de um armário, 10 munições de fuzil, calibre 5.56; 28 de calibre 9mm, assim como uma bomba de efeito moral; uma granada fumígena violeta; e quatro granadas de luz e som. Todo o material foi entregue aos policiais.

No momento da apreensão, Gonçalves informou aos investigadores que era instrutor de tiro na Presidência da República. Alegou que, quando sobrava cápsulas no stand de treinamento, ele as levava para casa para servir como reposição ou como exemplo nas aulas. Ressaltou ainda que essa era prática corrente entre os instrutores e que os responsáveis estavam cientes.

No entanto, ao consultar o setor responsável na Presidência da República, os policiais civis foram informados de que o acusado não poderia levar qualquer acessório ou munição do local e que esse material deveria ser recolhido no local de treinamento. De acordo com dados do Portal da Transparência, o militar consta como ativo nos quadros do Corpo de Bombeiros e recebe remuneração mensal básica de R$  8,5 mil com adicional de R$ 2,6 mil em benefícios.

Por meio de nota, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) confirmou que o bombeiro estava lotado na pasta. Acrescentou que, durante os trabalhos, o militar nunca apresentou comportamentos suspeitos que pudessem o colocar sob suspeita. Também acrescentou que o bombeiro voltará ao CBMDF nesta segunda-feira (14/10/2019). Ainda de acordo com o GSI, não foram encontradas munições do gabinete na casa do suspeito.

Fogo Amigo
As investigações tiveram início em 23 de fevereiro de 2018, durante a prisão em flagrante de Eduardo Vinícius Brandão de Oliveira. Ele estava com 1.030 munições de calibre .5,56 e 499 de calibre .762, no Rio de Janeiro. Em junho do mesmo ano, na cidade de Duque de Caxias, Willian Sebastião Pessoa acabou detido ao ser flagrado conduzindo um veículo Fiat Stilo, no qual transportava 1.500 munições de fuzil calibre .5,56 e .762.

PCDF/Divulgação
Munições apreendidas pela Polícia Civil do DF

No decorrer das apurações, verificou-se que Willian, Eduardo e sua companheira, Cinthia Moreira dos Santos, tinham como função transportar grandes quantidades de munições de fuzis para o morro da Penha, onde abasteciam a facção criminosa.

O resultado das investigações permitiu identificar Vicente Carlos de Oliveira Braga como responsável direto pelo repasse das munições aos transportadores, depois de obtê-las de Marcelo Rodrigues Gonçalves, o primeiro-sargento do Corpo de Bombeiros do DF. Ele era servidor cedido ao Gabinete de Segurança Institucional desde 2014. De acordo com os investigadores, o militar se aproveitou da função para desviar “incontáveis munições dos mais diversos calibres para a organização criminosa”.

Durante a operação da PCDF, foram cumpridos cinco mandados de busca e apreensão e sete de prisão temporária no Distrito Federal, entre elas, a de Marcelo, e na cidade do Rio de Janeiro. Apurou-se ainda que, além das munições, o grupo criminoso promovia a comercialização de pistolas Glock G17, calibre 9mm, com seletor de rajadas.

Após análise de todo o material apreendido e elaboração de laudos periciais, as investigações foram concluídas com o indiciamento de Marcelo Gonçalves e Vicente Carlos de Oliveira Braga, apontados como líderes da organização criminosa. Willian, Eduardo e Cinthia também foram indiciados. O inquérito foi encaminhado ao Poder Judiciário. Se condenado, o militar pode pegar até 16 anos de prisão.

O esquema ocorria desde pelo menos 2017, conforme as investigações. “É possível constatar a atuação de uma organização criminosa responsável pelo desvio de munições compradas pelo Estado para posterior revenda para facções criminosas instaladas no Rio de Janeiro, em especial o Comando Vermelho”, aponta o inquérito, observando ainda que os grupos “travam uma guerra urbana no estado do Rio”.

O Metrópoles entrou em contato com o Corpo de Bombeiros, que não retornou. O espaço está aberto para eventuais manifestações.

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