Amigo de policial penal morto pela Covid-19: “Quantos Franciscos vamos enterrar?”
Sindicato da categoria, a mais infectada no DF com o coronavírus, pede atenção do governo em relação aos profissionais
atualizado
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A morte do policial penal Francisco Pires de Souza (foto em destaque), 45 anos, em decorrência da Covid-19 deixou a categoria consternada. Em áudio emocionado enviado aos servidores, o presidente do Sindicato dos Policiais Penais do Distrito Federal (Sindpen), Paulo Rogério, desabafa e convoca a categoria para uma manifestação, que será realizada na manhã desta segunda-feira (18/05), no Eixo Monumental.
Na mensagem, ele questiona: “Quantos Franciscos vamos ter que enterrar?”.
O sindicalista completa: “Francisco morreu sem ter a menor possibilidade ou ajuda do Estado para poder enfrentar o que ele estava passando. Sequer tinha plano de saúde”, disse.
Paulo Rogério reclama que o governo alega não poder receber o sindicato para “evitar aglomeração”. O Sindpen também pede para que o governo dê mais suporte para a categoria, a mais infectada no DF. “Peço que o governador ouça, que escute essa categoria. É ele quem tem o poder, é o gestor, é ele quem pode nos ajudar nesse momento de dor”, destacou.
Paulo Rogério ressalta que se trata de uma condição de sobrevivência e pede a sensibilidade das autoridades. “A nossa categoria está agonizando”, acrescentou.
Primeira morte no sistema
O policial penal de 45 anos, lotado na Penitenciária do Distrito Federal 1, no Complexo Penitenciário da Papuda, morreu vítima do novo coronavírus na manhã de domingo (17/05). A informação foi confirmada ao Metrópoles pelo titular da Subsecretaria do Sistema Penitenciário do DF (Sesipe), delegado da PCDF Adval Cardoso de Matos.
Francisco Pires de Souza residia em Santa Maria e estava internado no Hospital Regional da Asa Norte (Hran) desde 28 de abril, em estado gravíssimo. Ele não era portador de comorbidades. Na última semana, após sofrer parada cardiorrespiratória, o policial foi reanimado pela equipe médica da unidade de saúde.
Ele foi a primeira vítima da Covid-19 na Papuda. O enterro ocorreu às 17h desse domingo no Cemitério Campo da Esperança da Asa Sul. A Diretoria Penitenciária de Operações Especiais (Dpoe) fez a escolta do corpo do Hran até o cemitério. O sepultamento estava marcado para as 17h.
O número de casos confirmados do novo coronavírus no sistema prisional do DF foi atualizado no domingo (17/05). Segundo boletim epidemiológico mais recente, as penitenciárias da capital do país já somam 730 infectados, entre policiais penais e detentos.
Do total, 539 casos são de presidiários diagnosticados com a Covid-19. Os outros 191 registros referem-se a agentes penitenciários que testaram positivo para o vírus. Há 81 policiais penais curados da doença no DF.
Até a última sexta (15/05), cinco policiais penais permaneciam internados com Covid-19 em unidades de saúde do Distrito Federal. Dois no Hospital Regional da Asa Norte (Hran) e três na rede hospitalar particular da capital do país. Os demais apresentam sintomas moderados e foram afastados das atividades.
VEP solta nota de pesar
A Vara de Execuções Penais (VEP) divulgou, no fim da tarde de domingo (17/05), nota de pesar pela morte do policial. “Pela memória dele, a Vara de Execuções Penais conclama a todos a continuar unindo esforços diante das novas e extenuantes batalhas que ainda nos esperam. Que Deus nos abençoe a todos e, em especial a família enlutada”, disse por meio de nota.
Também no documento, a VEP informou que está desenvolvendo, com a participação de inúmeros órgãos e instituições, um trabalho incansável e desafiante, sobretudo após a epidemia desencadeada a partir da disseminação do coronavírus mas, “mesmo diante das dificuldades sobre-humanas que temos diuturnamente enfrentado, a dedicação, a garra e o desejo de acertar que moveu Francisco até o fim, servirão de norte para perseverarmos em nossos esforços”, completou.
Ministério Público
O Núcleo de Controle e Fiscalização do Sistema Prisional (Nupri), do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, divulgou nota de pesar sobre a morte do policial penal. O órgão lembrou que ele estava na linha de frente no combate ao coronavírus dentro do sistema prisional.
“É notório que os policiais penais têm desempenhado um papel de extrema relevância para a manutenção da segurança pública em um momento tão difícil para a sociedade. O Ministério Público se solidariza com a dor dos familiares, amigos e colegas de trabalho diante dessa perda irreparável”, diz o comunicado.
Luto
No Instagram, o secretário de Segurança Pública, Anderson Torres, lamentou a morte do colega. “Dia triste para a segurança pública do DF”, escreveu.
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