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Quem disse que a utopia fracassou não conhece o Plano Piloto

Os moradores das duas asas vivem numa cidade quase perfeita. E a maioria não nasceu aqui. Para eles, o sonho de Brasília deu certo

atualizado

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Vinícius Santa Rosa/Metropoles
Superquadras em Brasília
1 de 1 Superquadras em Brasília - Foto: Vinícius Santa Rosa/Metropoles

Há quase 60 anos, um presidente sedutor, sonhador, bom de papo, que gostava de música e de arte, amigo de arquitetos, artistas plásticos, poetas, seresteiros, um presidente assim inaugurou a nova capital de seu país. A cidade seria testemunha e prova da genialidade, inventividade e bravura do povo brasileiro – uma utopia no coração do Brasil.

Ok, a utopia fracassou. Brasília não deu conta de responder ao sonho (um tanto quanto ilusório) de seus criadores. É a cidade mais desigual do país. Mas há um lugar onde os indicadores socioeconômicos correspondem aos dos países menos desiguais do mundo.

Nesse lugar, a utopia deu certo, de um modo perverso, mas deu. Esse lugar é o Plano Piloto. Pra não dizer que estou mentindo ou exagerando, seguem os números da PDAD/Codeplan/2018 que traduzem o bem-estar dos 221 mil habitantes das duas asas. Ou seja, 7% dos 3 milhões de brasilienses podem dizer que habitam a utopia.

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Os números:

  • 99% dos moradores acima de 5 anos sabem ler e escrever;
  • 99% têm rede de esgoto (na Fercal, esses privilegiados são apenas 19%);
  • 95% moram em ruas iluminadas;
  • 95% vivem em ruas com calçadas (na Estrutural, só metade da população, 53%, passa por ruas com calçadas);
  • 93% dos moradores do Plano habitam locais arborizados;
  • 87% têm carro;
  • 87% deles trabalham no Plano Piloto (na Estrutural, só 33% trabalham na própria cidade);
  • 86% vivem próximo a parques e jardins;
  • 82% têm forno micro-ondas;
  • 81% têm plano de saúde (na Estrutural, 93% só contam com a rede pública);
  • 80% têm quadras esportivas nas proximidades;
  • 80% têm notebook (na Fercal, o índice é de 30%);
  • 76% têm ensino superior completo (na Fercal, só 4,8% têm curso superior);
  • 75% moram próximo a ciclovias;
  • 74% têm TV por assinatura;
  • 72% têm máquina de lavar roupa;
  • 72% vão para o trabalho de carro (no Itapoã, só 9% vão de carro. O restante, de ônibus ou a pé);
  • 70% têm celular pós-pago (na Fercal, a maioria tem celular pré-pago, 85%);
  • 70% têm uma PEC nas proximidades (os equipamentos públicos de atividade física);
  • 68% têm fone fixo;
  • 68% compartilham serviço/equipamento de segurança;
  • 57% têm empregada doméstica;
  • 56% têm rendimento domiciliar acima de 10 salários mínimos (R$ 10 mil por mês);
  • 50% têm casa própria (e toda paga);
  • 45% gasta menos de 15 minutos para chegar ao trabalho;
  • 36% têm ar-condicionado;
  • 15% têm máquina de lavar louça.

O Plano Piloto é branco ou assim se considera: 64% se declararam de pele alva. Apenas 5% se consideram pretos e 30% se dizem pardos. (No Itapoã, o percentual vira de cabeça pra baixo: 60% se dizem pardos, 24% se reconhecem brancos e 13%, pretos).

Apenas 39% dos que moram no Plano Piloto são nascidos em Brasília. Nas cidades-satélites, esse percentual é, em média, de 50%. Em Ceilândia, é de 60%.

O Plano Piloto é mais mineiro, fluminense e paulista – 44% dos que não nasceram aqui vieram do Sudeste. Só 15% dos migrantes são nordestinos (em Ceilândia, 63% dos migrantes vieram do Nordeste).

Utopia, sim, mas para poucos.

* Este texto representa as opiniões e ideias do autor.

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