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Jéssica deu bem mais do que uma libra de carne à engrenagem do Choquei

Não bastasse Jéssica ter morrido coberta de opróbrio, a vítima do Choquei agora serve de pretexto aos liberticidas de sempre

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Montagem colorida de Jéssica Vitória e Whindersson Nunes -Metrópoles
1 de 1 Montagem colorida de Jéssica Vitória e Whindersson Nunes -Metrópoles - Foto: Reprodução

Uma página de fofocas e propaganda do PT chamada Choquei amplificou a divulgação de uma troca de mensagens falsas entre uma estudante de 22 anos, Jéssica Vitória Canedo, e um comediante de grande sucesso, Whindersson Nunes. As mensagens falsas davam a entender que ambos mantinham um caso amoroso.

Diante da repercussão geral da fake news e das manifestações de ódio de que foi alvo, Jéssica se suicidou.

Recolhido no meu ambiente livre de Brasil, eu não fazia a menor ideia de quem fosse Whindersson Nunes. Descobri que é o nosso Leonardo da Vinci na vastidão das suas atividades. Além de comediante, ele é youtuber, cantor, compositor, ator, rapper e pugilista. Li na internet que Whindersson Nunes também se apresenta no “cenário trap usando o nome artístico Lil Whind”. Na minha opinião, Whindersson já soa suficientemente artístico.

Whindersson é, provavelmente, um nome inventado pelos pais dele. Jéssica, por sua vez, morreu sem saber que o seu nome, sem acento, foi inventado por William Shakespeare. 

A Jessica de Shakespeare é a filha do judeu Shylock, o agiota da peça O Mercador de Veneza que empresta dinheiro ao cristão antissemita Antonio, o mercador do título, estabelecendo como fiança uma libra de carne do próprio devedor.

Antonio não consegue pagar a dívida e Shylock cobra a libra de carne do contrato. Além de irritado por não receber o dinheiro de um antissemita que o despreza, o agiota está furioso porque a sua filha, Jessica, converteu-se ao cristianismo para se casar com Lorenzo e levou consigo uma enorme soma de dinheiro e um anel valioso que Shylock havia ganhado de presente da sua mulher que morreu.

No drama brasileiro, quando Jéssica, atordoada e angustiada pela situação, escreveu que sofria de depressão e pediu a exclusão da notícia falsa, o dono do Choquei, Raphael Souza, debochou da moça: “Avisa para ela que a redação do Enem já passou”. Depois da morte de Jéssica, o beletrista teve de ir à polícia para explicar o inexplicável.

Se bem entendi, o Choquei, além de fazer fofoca e vender o PT como a oitava maravilha do mundo, integra um conjunto de páginas de influenciadores a serviço de uma agência de marketing digital chamada Mynd.

A Mynd fatura uma bolada da ordem de centenas de milhões de reais por ano. Uma das suas donas é Preta Gil, filha de Gilberto Gil. O negócio é obter o máximo de audiência por meio dos influenciadores que estão sob o seu guarda-chuva e, desse modo, cumprir as entregas de publicidade previstas nos contratos milionários. Para os mercadores da reputação alheia, vale tudo para alcançar o objetivo.

Jéssica deu bem mais do que uma libra de carne a essa engrenagem não menos do que sórdida. Não bastasse ter morrido coberta de opróbrio, ela agora serve de pretexto para que os liberticidas de sempre preguem a oficialização da censura nas redes sociais, sob o eufemismo de regulação. É que o diabo pode citar as Escrituras para atingir o seu propósito (Shakespeare, em O Mercador de Veneza).

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