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A genialidade de Marília Mendonça é ir na contramão do óbvio ululante

A genialidade de Marília Mendonça é tão grande que ela foi lá mexer em dois “vespeiros”: amantes e prostitutas

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MARÍLIA MENDONÇA
1 de 1 MARÍLIA MENDONÇA - Foto: DIVULGAÇÃO

Nelson Rodrigues popularizou o termo “óbvio ululante”, que significa algo excessivamente previsível. Pois bem, Marília Mendonça é essa que vai contra tudo que seja óbvio. Ela é a maior cantora do país por diversos motivos, um deles é esse: surpreender, inovar. É arriscado? Claro. Pode afundar uma carreira ? Pode. Mas amor, quem não arrisca, passa em branco.

Em 2015 a música sertaneja bombava com as composições que remetiam à festa, a alegria, ao amor. E de repente surge uma “louca” e começa a falar sobre a tristeza, a perda, a dor da traição. A pergunta que se fazia era: “Como assim?”

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Infiel se tornou um hit sem precedentes na história fonográfica. E vieram muitas outras letras tristes que, justas, criaram a chamada “sofrência”. Mas limitar Marília apenas a isso é pouco demais perto de sua transgressão.

É preciso entender que, no universo feminino, existem duas grandes “barreiras”: as amantes e as putas — aliás, mulheres que vivem relações extraconjugais são comparadas a prostitutas.

A genialidade de Marília é tão grande que ela foi lá mexer nesses dois “vespeiros”. Mal e porcamente comparando é como se um sertanejo cantasse as agruras de ser um gay no armário. Nenhum cantor tem essa coragem.

Grande poesia popular

Em 2017, ela lançou Amante Não Tem Lar, retratando, pela primeira vez na biografia musical brasileira, o lado e a dor da “outra”, que vive uma eterna e frustrada esperança de ser reconhecida e aceita pela sociedade. Genial.

“E o preço que eu pago é nunca ser amada de verdade. Ninguém me respeita nessa cidade. Amante não tem lar. Amante nunca vai casar”. Isso é uma grande poesia popular.

Hoje, mais uma vez, Marília quebra um tabu ao lançar uma música retratando a vida de uma puta. Prostitutas sempre foram citadas em músicas cantadas por homens. Reginaldo Rossi, Odair José, Amado Batista e muitos outros sempre falaram das moças de vida nada fácil, mas sob outra visão.

A ideia era o pensamento machista do “vou tirar você desse lugar”. Agora, Marília, cantando em primeira pessoa, dá voz e traduz o que passa com uma meretriz. “De corpo quente, eu congelei meu coração, para esconder a tristeza. Salto 15 e mini saia. Hoje, você me vê assim e troca de calçada, mas se soubesse um terço da história, me abraçava.”

Agora me diga, que cantora teria coragem de cantar isso? Por essas e outras que Marília Mendonça mudou a história da música popular brasileira.

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