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No Leblon, preconceito alimenta oposição a revitalização de jardim

Contrários à revitalização do Jardim de Alah, alguns moradores de Leblon atacam vizinhos da Cruzada São Sebastião

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Reprodução/Instagram/@jardimdealahoficial
Foto colorida do Jardim de Alha, no Rio de Janeiro - Metrópoles
1 de 1 Foto colorida do Jardim de Alha, no Rio de Janeiro - Metrópoles - Foto: Reprodução/Instagram/@jardimdealahoficial

A decisão da Justiça do Rio de Janeiro proferida na quinta-feira (25/4), que impediu o início das obras de revitalização do Jardim de Alah, na Zona Sul do Rio de Janeiro, foi a vitória, ainda que não definitiva, de uma parte aguerrida dos opositores ao projeto: os moradores de Leblon e Ipanema que não querem dividir o espaço com vizinhos do condomínio de baixa renda Cruzada São Sebastião.

O Jardim de Alah fica entre os dois bairros, que têm alguns dos endereços mais valorizados do Rio de Janeiro. Hoje deteriorado, usado praticamente como parque para cães, foi concedido à iniciativa privada por licitação.

Perto dali, está a Cruzada São Sebastião, no Leblon, um conjunto habitacional criado nos anos 1950 e formado inicialmente por moradores oriundos da Favela do Pinto, que também ficava na região. O conjunto habitacional foi uma ideia de Dom Hélder Câmara e criado no governo do presidente Café Filho.

Parte dos moradores do Leblon e de Ipanema é contrária às obras que serão realizadas pelo Consórcio Rio Mais Verde e pela Accioly Participações, que venceram a disputa pela concessão pública feita pela Prefeitura. Diversos pontos do projeto criam espaços para que moradores da Cruzada também possam desfrutar do parque, como quadras poliesportivas e uma creche municipal.

Nas redes sociais, desde que a discussão sobre o projeto ganhou as páginas de portais, diversos moradores passaram a comentar com argumentos que flertam com a aporofobia, a aversão a pessoas pobres.

“Beneficiar os moradores da Cruzada, bizarro isso. Se tem alguém que deve se beneficiar são os que pagam os IPTUs caros por viver ali. Esses serão beneficiados também, mas colocá-los no foco da questão é muito demagogia”, comentou uma usuária do Instagram que se identifica como Angélica Valverde.

Já um outro, que se autodenomina Surfista Catarinense, sugeriu que haja “controle de natalidade, através da legalização do aborto e castração” para os moradores da Cruzada. E acusou o local de ser ponto de “estica” — local no asfalto onde se vende drogas — da Rocinha.

“Todo mundo sabe que a Cruzada é uma estica da Rocinha desde os anos 90. Enquanto ela existir, a venda de drogas na região não vai acabar”, especulou.

A vereadora Luciana Boiteux (Psol), contrária ao projeto por outras razões que não o preconceito social, chegou a posar com donas de cachorro que defendem o espaço para uso dos animais.

Vereadora Luciana Boiteux é contrária a revitalização do parque através da iniciativa privada
Vereadora Luciana Boiteux é contrária a revitalização do parque através da iniciativa privada

Segundo a Justiça, a decisão de paralisação se baseou no fato de que o espaço seria descaracterizado com o projeto apresentado. Cabe recurso.

Segundo Miguel Pinto Guimarães, um dos arquitetos responsáveis pela obra ao lado de Sérgio Conde Caldas, as críticas à inclusão dos moradores da Cruzada São Sebastião ao projeto é “uma falta de entendimento da cidade e dos problemas”. E que concessão à iniciativa privada possibilita que a prefeitura use dinheiro próprio para investir em regiões da cidade que não têm outra opção de lazer. Além de que o projeto trará benefícios urbanísticos, ambientais, sociais e o restauro de grande parte do patrimônio e monumentos históricos.

Ainda de acordo com o arquiteto, a decisão judicial que impede o início das obras determina que elas não comecem até que todas as licenças estejam prontas, o que afirma, segundo ele, já seria cumprido pelo consórcio. Por enquanto, segundo o arquiteto, só foram instalados tapumes e contêineres no local porque já foi assinado o contrato com a prefeitura e a segurança e manutenção do Jardim de Alah já são responsabilidade do consórcio.

Sobre as críticas de que o tombamento do local estaria sendo desrespeitado, o arquiteto esclareceu que o projeto tem todas as alterações autorizadas pelo Conselho Municipal de Patrimônio Histórico.

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